Américo Amorim: "Não há grupos do Norte na corrida à Galp"
O empresário elogia o grupo Carlyle, destacando as suas ligações a Angola e ao Brasil
Américo Amorim - Nós fizemos parte da Petrocontrol. Com vários investidores portugueses, como o BES, António Champalimaud, a Fundação Oriente, a família Vinhas. O nosso estado de espírito, na altura, era o de sermos um grupo português com uma orientação precisa para o futuro do sector energético em Portugal. Começamos pela Galp. Foi algures em 1991.
Em 1996, começamos a sentir que havia mensagens do Governo àcerca de um novo projecto, com predominância para uma parceria com a ENI. Para nós, foi uma surpresa, mas quem somos nós, em termos práticos, para estarmos contra o poder político? A nossa retirada na época não foi, portanto, uma exigência nossa, foi uma solicitação do Governo, um convite.
Havendo agora uma nova possibilidade de retoma do processo, não há nenhuma razão que me contrarie para não prosseguir. Porque acho que é um dossiê importante para Portugal e para a estratégia energética para o país; no mesmo espírito em que entramos no passado.
Porquê a energia, se não têm presença nesta área?Temos uma origem na cortiça, mas temos vindo a investir em muitas outras actividades. Mas deixe-me dizer que, antes de tudo, somos portugueses. Por outro lado, o grupo Carlyle, com quem temos a parceria, tem na Sonangol um forte investidor e tem também uma relação com a Petrobrás. É nesta perspectiva que pensamos que esta relação pode intensificar-se e valorizar-se face a dois países que têm relações históricas com Portugal.
Então é um investimento para manter?
A ideia é de continuidade.
Como comenta as declarações de Artur Santos Silva (presidente do BPI) de que será tempo do Governo olhar para o Norte em matéria de privatizações?
Conheço a magia intelectual do pensamento do dr. Santos Silva. Eu concorri com o BNC à reprivatização [ganha pelo BPI] do Banco Borges & Irmão e do Banco de Fomento e Exterior, em 1996. O decreto-lei produzido na altura tinha uma orientação para o comprador final.
O envelope que entregamos nunca foi aberto, como é sabido. Independente da imprensa ter avançado, com alguma mistificação, que seria um processo indexado para o Santander, não é verdade. Nós tínhamos os recursos suficientes para ter realizado a reprivatização nessa altura, fazendo crescer o BNC.
Considera, então, que a Viacer não é o grupo do Norte no concurso da Galp?Eu acho que ninguém tem o monopólio do Norte, nem de nenhuma área geográfica do país. Estes têm de ter processos nacionais, com accionistas e sociedade civil disponíveis para eles.
O seu comportamento e a forma de estar na economia, a sua atitude, isso é que é importante que seja considerado. Além disso, o BPI [que apoia o consórcio Viacer] tem uma parte significativa da composição do seu capital com origem no exterior, como é reconhecido.
Um jornal espanhol afirmou, até, que o banco La Caixa, que detém 12,5 por cento da petrolífera espanhola Repsol e é accionista de referência do BPI (com 16 por cento), pode, desta forma, entrar na Galp...
... é uma acusação à Viacer?Sabe-se, também, que a montagem da operação financeira é feita pelo BPI com um banco francês que assume 60 por cento do total. Sem estar a contrariar nada nem a querer agredir ninguém, aquilo que veio a público mostra algumas "nuances" que depois, na prática, podem não se verificar
O consórcio liderado pela Carlyle está preparado para críticas de que alguns dos seus integrantes têm um passado de participação em projectos que abandonam a troco da realização de boas mais valias? No seu caso pode falar-se da Petrocontrol, do BNC, da Telecel...
Já expliquei o que aconteceu com a Petrocontrol. Em relação ao BNC, eu fiz que devia ter feito. Não fiz uma venda, fiz uma troca de um pequeno banco em Portugal pela presença no terceiro banco privado ibérico. Estou na administração não executiva. Sou o primeiro accionista privado da instituição. Nunca me senti tão confortável.
Este fundo Carlyle será a melhor opção para a Galpenergia?Eu diria que é um grupo que, no actual contexto da Galp, nos satisfaz. Tem a dimensão que é conhecida, tem a relação que já assinalei a Angola e ao Brasil. É uma boa opção.
Mas o facto de poder abandonar o consórcio ao fim de três quatro anos não é factor de instabilidade?
Não vislumbramos nenhuma perspectiva de turbulência ou de perturbação. São pessoas de bem, constituem um grupo conhecido no mundo. Podem, como já foi afirmado, querer vender a sua parte, mas não há nenhuma intranquilidade com as evoluções que se possam vir a produzir, porque os accionistas portugueses têm opção de compra.
Acha que vão ganhar o concurso?
Não percebo por que é que não vai ser assim.