Jamie Cullum, o rapaz que toca jazz com uma atitude pop

"I was wrong" era a frase da t-shirt com que Jamie Cullum se apresentou há dias na Fnac Colombo, Lisboa, para um "showcase" de lançamento do álbum duplo-platina no Reino Unido, "Twentysomething".Vinte e poucos é a sua idade e Jamie Cullum não estava errado quando começou a tocar jazz. A imprensa britânica e a discográfica Universal tão pouco se enganaram quando apostaram neste pianista/cantor/compositor de um jazz com características de "easy-listening" e influências da pop e do rock.Jamie Cullum já é um fenómeno inglês - "Twentysomething" foi o disco de jazz inglês que mais vendeu no Reino Unido - e agora percorre a Europa para promover a sua música (que começa a entrar nas tabelas).Em Portugal o disco foi posto à venda no início da semana. A primeira apresentação ao vivo em Portugal, anunciada à última da hora, foi no dia 25 de Abril e Jamie Collum seduziu logo o público ao colocar um cravo vermelho no piano de meia cauda. Os curiosos foram-se aproximando do auditório da Fnac possivelmente a pensar "quem é este rapaz?". Jamie Cullum não se comporta em palco como um clássico músico de jazz: senta-se no teclado, faz percussão sobre o tampo, toca nas cordas no interior do instrumento, toca em pé, sobe ao banco."O jazz pode atrair pessoas mais jovens""Eu cresci com Kurt Cobain, Rage Against the Machine e música hip-hop, e toquei em muitas bandas de rock", diz o músico minutos antes do concerto. "Quis trazer uma atitude de rock e pop para o jazz."Talvez por isso, os adolescentes começaram a ouvir as canções dos pais, ou até dos avós, como "Singin'in the rain", "I could have danced all night", "I get a kick out of you" ou "Wind cries Mary", de Jimmi Hendrix. A imprensa britânica não hesitou em dizer que Jamie Cullum tinha tornado o jazz "cool" (fixe)."Provámos que o jazz pode atrair pessoas mais jovens. Penso que tem a ver com a maneira como é apresentado. Está a destruir as barreiras que as pessoas associam ao jazz - que é para pessoas mais velhas, que é chato", diz o músico.Nem a escolha do título do disco é inocente. "Twentysomething" situa "imediatamente o disco num mundo onde as pessoas não estão habituadas a ver o jazz - um mundo de gente nova".Em Lisboa, Cullum dedicou este tema a todas as pessoas com "a quarter-life crisis" (crise de um quarto de vida). A letra baseia-se na sua teoria de que "a educação não nos prepara para o mundo real".Jamie Cullum educou-se no jazz sozinho e a tocar ao vivo. Tocou guitarra, tocou em bandas rock, acompanhou músicos de jazz mais velhos, é um "self-made young man". O primeiro álbum produziu-o sozinho com dinheiro do empréstimo para os estudos na Universidade de Reading e vendeu os exemplares nos concertos. Com "Pointless Nostalgic", lançado por uma pequena editora de jazz (Candid Records), Cullum chamou a atenção dos jornalistas e das grandes discográficas. A Sony e a Universal iniciaram uma guerra pela representação do cantor e a Universal acabou por ganhar, no ano passado, com um contrato de um milhão e meio de euros, uma quantia não milionária para um músico pop ou rock, mas um verdadeiro acontecimento no meio britânico do jazz.Liberdade do jazzNum curto espaço de tempo Jamie Cullum passou de pequenos clubes para tocar no aniversário da rainha de Inglaterra a convite do príncipe Carlos.Em "I wanna be a popstar" (de "Pointless Nostalgic"), Cullum critica o mundo da indústria discográfica inglesa repleto de aspirantes ao estrelato e ao sucesso rápido, e alimentados pela procura constante de novidades.Agora, a fama acontece-lhe a ele, mas Jamie não está assustado. "Há oito anos que toco à frente de pessoas. Carregar o amplificador, conduzir a carrinha, vender t-shirts, estas são as coisas que nos preparam para o duro mundo da música."Jamie Cullum não está sozinho a conquistar os tops para o jazz e o easy-listening (ver caixa). O panorama da música em Inglaterra, segundo a imprensa britânica, tem vindo a mudar e talvez a próxima geração de adolescentes queira ser estrela de jazz em vez de rock.Ser diferente - "toda a gente tocava guitarra" - foi o que atraiu Cullum para o piano. Neste disco, as suas canções e as do irmão Ben alternam com "standards" e versões de músicas que considera que podem vir a ser clássicos, como "Lover, you should have come over" de Jeff Buckley. A escolha para interpretar composições que não são suas depende apenas de sentir que as pode tornar pessoais.Essa liberdade foi o que o levou a entusiasmar-se pelo jazz. "Podes tocar suave, podes tocar alto, podes tocar uma canção de Radiohead, podes tocar uma canção de Cole Porter. Não tens que ser velho, não tens que ser novo, podes ser feio. No jazz pode-se fazer o que se quiser."

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