Companhia de Dança Contemporânea comemora doze anos nas novas instalações

Foto
Maria Bessa continua a achar que a dança é incompreendida por políticos e mecenas DR

A CeDeCe - Companhia de Dança Contemporânea festeja este mês o seu 12º aniversário já sedeada nas novas instalações.

Apesar de considerar que a dança é incompreendida por políticos e mecenas, Maria Graça Bessa, directora artística da companhia, considera que a CeDeCe conseguiu diversificar públicos e criar hábitos culturais, ao mostrar "a elevada qualidade do bailado em Portugal".

A companhia esteve sedeada em Setúbal até Junho de 2003, altura em que saiu da cidade em litígio com a câmara local. Após a saída de Setúbal, a CeDeCe instalou-se provisoriamente no Centro de Dança de Oeiras, onde permaneceu até Março.

Este ano, na sequência de um protocolo assinado com as câmaras de Alcobaça e Óbidos e com o Instituto das Artes, a companhia passará a dispor de espaços naqueles dois concelhos do Litoral Oeste.

No âmbito do protocolo de descentralização cultural, que será tornado público no dia 8 de Maio no Teatro Camões, em Lisboa, a CeDeCe passa a ter duas casas - uma em Alcobaça e outra em Óbidos.

Maria Bessa revelou que a sede da companhia vai ser repartida entre o Celeiro do Mosteiro de Alcobaça e a Casa de Santiago, em Óbidos. "Em Alcobaça, a companhia vai apresentar a maior parte dos seus espectáculos e na Casa de Santiago vai ensaiar e realizar 'workshops'. Será o nosso local de trabalho", disse.

"O protocolo prevê a criação de um Centro de Artes do Espectáculo com actividades centradas em Alcobaça e na vila de Óbidos", precisou Maria Bessa. "Este Centro inicialmente funcionará no Teatro de Alcobaça e mais tarde também no Teatro de Óbidos", acrescentou, adiantando, que o projecto agradou às duas edilidades porque vai "ajudar no desenvolvimento cultural da região".

Ainda no âmbito do protocolo, a CeDeCe compromete-se a manter o seu centro de actividades nos dois municípios durante quatro anos e a apresentar, até Junho, a programação para o Centro.

"As câmaras vão dar um apoio financeiro simbólico", disse a coreógrafa, referindo que do Instituto das Artes, com quem a companhia tem um protocolo há quatro anos, deverá receber 125 mil euros".

Apesar das dificuldades sentidas ao longo destes doze anos de existência, Maria Bessa faz um balanço positivo da actividade da companhia, afirmando que o objectivo de levar a dança a todos os tipos de público foi cumprido. "A companhia tem bons bailarinos e coreógrafos e os nossos espectáculos têm tido grande aceitação em Portugal e no estrangeiro", disse.

Numa altura em que se assinala mais um Dia Mundial da Dança, na próxima quinta-feira, Maria Bessa reconhece que "a dança continua a ser uma arte pouco compreendida". "A dança em Portugal não tem problemas de público e há bons bailarinos e coreógrafos cujo trabalho é reconhecido na Europa e nos Estados Unidos", indicou, acrescentando que a dança "é uma boa embaixadora de Portugal e isto não é visto pelo poder político e pelo mecenato, com excepção da EDP".

Maria Bessa afirmou ainda estar preocupada com o problema da reconversão da carreira dos profissionais do bailado. "O poder político devia reconhecer o estatuto de desgaste rápido da profissão e proporcionar cursos de reconversão de carreira", defendeu, convidando o ministro do Trabalho e Segurança Social, Bagão Félix, a "dar mais atenção" à legislação do trabalho para o caso da dança.

"A profissão dura pouco e é desgastante", explicou Maria Bessa, defendendo que "a reforma dos bailarinos deveria ser antecipada". Há vários anos que os profissionais do bailado alegam que a profissão é de desgaste rápido e reivindicam um regime especial em que a reforma seja possível aos 45 anos, propondo-se aumentar os descontos à Segurança Social.

A coreógrafa considera ainda que os bailarinos em fim de carreira deveriam ser integrados no ensino porque têm a experiência necessária para o fazer.

Maria Bessa e o marido, António Rodrigues, antigos bailarinos do Ballet Gulbenkian, fundaram a Academia de Dança Contemporânea em Setúbal, em 1982, e a CeDeCe, em Abril de 1992.

Sugerir correcção
Comentar