Sporting assume culpas no caso de "doping" de Rui Jorge

Um medicamento utilizado para tratar uma inite alérgica originou um controlo "antidoping" positivo a Rui Jorge, no final do encontro entre o Sporting e o Moreirense, para a SuperLiga, no dia 13 de Fevereiro. Antecipando-se às eventuais sanções em que o internacional poderá incorrer, a SAD leonina convocou ontem ao princípio da tarde os jornalistas para uma conferência de imprensa em Alvalade, onde quebrou a confidencialidade - que decorre entre a análise e a contra-análise -, para defender o atleta, assumindo o departamento clínico do clube toda a responsabilidade pelo sucedido, por não ter notificado em tempo útil o Conselho Nacional Antidopagem (CNAD) dos fármacos que o jogador estava a usar."Foi comunicado [ao CNAD] em fase posterior ao jogo, o que se tratou de uma falha processual. O Rui Jorge acusou positivo a substância que utilizou por indicação médica e que continua a utilizar porque necessita da mesma", explicou Gomes Pereira, director clínico do Sporting - acompanhado pelo administrador executivo da SAD, José Eduardo Bettencourt, pelo treinador Fernando Santos e pelo próprio Rui Jorge -, que chamou a si toda a responsabilidade e eventuais consequências: "Tratou-se de uma falha processual que não pode ser imputada ao atleta, cabendo a responsabilidade aos serviços clínicos e a mim. Alguma advertência terá de ser dirigida a mim e o atleta não pode vir a ser penalizado por isso."Segundo aquele médico, o departamento que dirige acabou, por lapso, por notificar o CNAD sobre os medicamentos prescritos a Rui Jorge, apenas 48 horas após a partida frente ao Moreirense e ao controlo efectuado ao futebolista. Mas segundo Gomes Pereira, o próprio jogador terá informado e deixado escrito o nome dos medicamentos que estava a usar antes de proceder ao controlo.Bastante agastado pelo sucedido, mostrou-se o jogador, anteontem, ao princípio da tarde, informado deste caso, que agradeceu aos responsáveis da SAD por quebrarem a confidencialidade a que estavam obrigados e explicarem o sucedido. "Estou numa situação em que nunca pensei estar na minha carreira", comentou o jogador. "Tenho um problema de rinite alérgica e tomo dois medicamentos, que trouxe para o departamento médico do Sporting. Foi com surpresa que soube desta notícia. A partir do momento em que tenho um medicamento prescrito pelo departamento médico do clube, fico descansado (...) É revoltante. Sei que isto nunca vai ser apagado, ficam sempre resquícios para toda uma carreira."Em defesa do jogador partiu também José Bettencourt, garantindo não existir "a mais pequena possibilidade" de se estar perante um caso de "doping" e desejando que todo o processo decorra agora de forma célere, "para evitar mais sofrimento ao futebolista". Em relação à falha do departamento clínico, Bettencourt limitou-se a adiantar que não confunde um lapso administrativo "com a categoria e honorabilidade das pessoas em causa".Jogador poderá ser apenas advertidoDe acordo com o "Guia informativo para médicos", disponível no sítio do Instituto do Desporto de Portugal (www.idesporto.pt), "a administração de glucocorticosteróides (...) requer uma solicitação de autorização para a sua utilização terapêutica dirigida ao CNAD por parte do atleta e do seu médico". "A sua autorização é automática, mas o CNAD tem o direito de solicitar informação clínica suplementar", explica ainda o organismo.Para cumprir estes pressupostos, a "Norma internacional sobre autorizações de utilização terapêutica", anexa ao código mundial, já prevê que os atletas e respectivos médicos notifiquem as autoridades antidopagem 21 dias antes das competições.Outro procedimento obrigatório deve ser cumprido pelo atleta: avisar o médico da brigada que medicamentos ou suplementos nutricionais consumiu nos três dias anteriores ao controlo. Neste caso, Rui Jorge cumpriu o que lhe era exigido e avisou o médico do CNAD, facilitando a tarefa do CNAD quando recomendar a penalização à comissão disciplinar da Liga de Clubes.No código mundial, os glucocorticosteróides são considerados "substâncias específicas que são particularmente susceptíveis de dar origem a infracções não intencionais das normas antidopagem devido ao facto de estarem muito frequentemente presentes em medicamentos ou devido ao facto de serem menos susceptíveis de serem utilizados com sucesso como agentes dopantes". Por isso, um atleta que registe o primeiro caso positivo desta substância poderá ser punido apenas, no mínimo, com "um aviso e uma advertência e nenhum período de suspensão" e, no máximo, com um ano de inactividade desportiva.No entanto, o código mundial "antidoping" dá margem de manobra às federações relativamente à suspensão preventiva. E, tendo em conta outros processos instaurados, Rui Jorge poderá mesmo ser suspenso preventivamente e ver o seu caso arrastar-se na comissão disciplinar da Liga de Clubes. Os regulamentos internacionais também permitem a penalização de outros agentes desportivos, inclusive médicos, como aconteceu recentemente com Basil Ribeiro, suspenso por um ano por ter sido considerado culpado de dois casos de dopagem inadvertida na equipa de ciclismo Maia Milaneza MSS.

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