Portugal já tem "rankings" de filmes

Portugal deixou ontem de ser o único país da União Europeia sem "ranking" de exibição cinematográfica: 80 por cento das salas de cinema estão agora em rede com o Instituto do Cinema Audiovisual e Multimédia (ICAM). Este é, segundo o presidente do instituto, o maior passo do ICAM desde que assumiu a direcção, no fim de 2002.O número de espectadores, das salas em que os filmes estão a ser exibidos e os resultados das bilheteiras estão agora acessíveis a qualquer pessoa. A actualização será feita todas as sextas-feiras de manhã no "site" do ICAM, anunciou ontem o seu presidente, Elísio Cabral de Oliveira, numa apresentação pública do projecto na Cinemateca Portuguesa.Este "ranking" foi possível através de uma parceria entre o Estado e os exibidores cinematográficos, que resultou na informatização das bilheteiras de cinema e que permite ao ICAM receber e tratar a informação relativa à emissão dos bilhetes.Este programa já estava previsto em 1999 mas só agora foi concretizado depois de ter sido regulamentado em Junho. As despesas de instalação do equipamento necessário à informatização da emissão de bilhetes e de transmissão de dados electrónicos foi suportada pelo ICAM e custou cerca de 100,000 euros. "Os responsáveis pelas salas de cinema aderiram rapidamente a esta iniciativa, mais do que nós estávamos à espera", disse ontem o presidente do ICAM. Até Junho, disse Cabral de Oliveira, o sistema "vai chegar a todas as salas". As 400 que já estão informatizadas representam todas as salas com exibições diárias que, na maioria, estão concentradas nos principais centros urbanos.Nas actualizações semanais, vai ser também possível consultar os valores acumulados. Isso significa que, a prazo, haverá um "ranking" dos 50 filmes mais vistos durante cada ano."Este é um mecanismo que cria uma melhor avaliação, conhecimento e controlo do número de espectadores, filmes e resultados de bilheteira", disse o secretário de Estado da Cultura, José Amaral Lopes. Este sistema, disse, "vai tornar o sector mais transparente e vai permitir corrigir deficiências na informação, porque os dados que existiam não eram credíveis".Amaral Lopes negou que os filmes portugueses que têm menos espectadores possam ficar penalizados - e que por isso poderão ser sistematicamente excluídos das tabelas - e disse que o "objectivo principal é um melhor controlo do sector, que pode permitir corrigir erros e adoptar medidas para promover mais a cultura cinematográfica".Na tabela desta semana dos 20 filmes mais vistos em Portugal, por exemplo, não há nenhum filme português; e na tabela acumulada de Outubro a Março, entre os 50 filmes mais vistos há apenas dois portugueses: "Os Imortais", de António Pedro Vasconcelos, em 33º lugar, e "Portugal SA", de Ruy Guerra, em 49º.O presidente do ICAM também não considera que este "ranking" possa prejudicar o cinema português e afirmou ontem que tem que se analisado de uma forma qualitativa: "Não estamos preocupados com o facto de o cinema português não estar entre os 50 filmes mais vistos, estamos empenhados em usar estes dados para aplicar medidas políticas para o cinema português."Sobre a nova lei do cinema, cujo projecto-lei foi aprovado em Conselho de Ministros em Dezembro, Elísio Cabral de Oliveira considera que "este processo [de informatização] não vai ter grande influência, é apenas útil para a análise do sector".Reacções positivasA informatização vai permitir que os produtores possam conhecer o comportamento do seu filme em determinada sala e as receitas de bilheteira de cada distrito do país, além das salas e tipo de filmes que têm mais público. "Fico muito satisfeito pois é uma batalha que tenho há anos, quando houver números reais e concretos será excelente", disse ao PÚBLICO o produtor de cinema Tino Navarro. A distribuidora Lusomundo Audiovisuais colaborou neste processo com o ICAM e considera positiva esta evolução "porque assim temos uma garantia de transparência e fiabilidade dos números das bilheteiras", disse uma fonte do gabinete de comunicação da PT Multimédia. O realizador Joaquim Leitão reconhece que esta medida é importante "pois passa a ser possível conhecer o estado do mercado cinematográfico de uma forma exacta".Segundo o presidente do ICAM, há, no entanto, uma lacuna no processo: não inclui o número de espectadores que os filmes fazem em salas no estrangeiro, nem o número de canais abertos ou codificados que exibem os filmes portugueses. Esta informação, disse Cabral de Oliveira, "fica com os produtores e nós não temos acesso a ela". O ICAM, disse, sabe que alguns filmes de Manoel de Oliveira, "O Fantasma", de João Pedro Rodrigues, e "Mulher Polícia", de Joaquim Sapinho, têm tido sucesso no estrangeiro, mas não tem os números exactos e globais.Para se ter uma ideia geral, porém, o Observatório Europeu do Audiovisual tem uma tabela dos 10 filmes portugueses mais vistos na Europa, na qual "Afirma Pereira", de Roberto Faenza, com mais de 384 mil espectadores entre 1996 e 2002, é o primeiro da lista.Este sistema que foi agora instituído para o cinema vai ser alargado a todos os espectáculos artísticos "de forma a que o Estado possa acompanhar e promover a difusão das artes", acrescentou o secretário de Estado da Cultura.

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