Beyoncé e OutKast consagrados nos Grammy

As jovens estrelas do r&b contemporâneo e do hip-hop, como Beyoncé, OutKast, Justin Timberlake ou Jay-Z, foram os grandes vencedores dos Grammys, os mais importantes prémios da indústria norte-americana e talvez os mais relevantes em todo o mundo no campo da música, que foram entregues na madrugada de segunda-feira em Los Angeles. O resultado reflecte o domínio em termos de mercado, mas também no campo artístico, da música negra que tem vindo a ser editada nos últimos anos. Um fenómeno americano, mas com expressão em todo o mundo, apesar da relativa descrição com que em Portugal são recebidas estas novas figuras da pop, que vieram destronar definitivamente estrelas veteranas como Madonna ou Michael Jackson. Beyoncé e os OutKast merecem uma menção especial. Ela porque estava nomeada para seis categorias e venceu cinco - feito só igualado nas 46 edições dos prémios por outras jovens cantoras como Norah Jones, Lauryn Hill e Alicia Keys - e eles porque arrecadaram o prémio mais apetecido, "melhor álbum", com "Speakerboxxx / The Love Below", também o melhor disco de 2003 para o suplemento "Y" do PÚBLICO. Um duplo-álbum, que na prática eram dois discos a solo, respectivamente de Big Boi e André 3000, que revela que alguma da música mais ousada de hoje é criada por nomes que habitam os lugares cimeiros dos "tops". Mais de seis milhões compraram o álbum dos OutKast, mas isso não o impedia de ser um disco bizarro e futurista. O hip-hop e a soul ambígua do duo foi também premiada na categoria de "álbum rap" e "'performance' alternativa" com o single "Hey ya". Em relação a Beyoncé Knowles a história é outra. Nasceu em 1981, começou a pisar os palcos aos sete, estudou dança clássica e começou a cantar profissionalmente aos 14, integrada nas Destiny's Childs, um trio feminino responsável por inúmeros êxitos. Destinada ao sucesso desde nova, a cantora, de 21 anos, editou o ano passado o primeiro álbum a solo, "Dangerously In Love" - um disco de sonoridades r&b, hip-hop, soul e pop suportado por uma voz voluptuosa e imagem sexualmente agressiva. Em entrevista ao PÚBLICO (suplemento "Y" de 14 de Agosto), Beyoncé confessava que não se sentia confortável quando olhavam para ela como símbolo sexual. "Quero ser reconhecida apenas pelo meu talento", confessava, ao mesmo tempo que afirmava que "o disco é emocional porque quis recuperar o encanto da soul que nos fazia gritar, que nos fazia acreditar, como as canções de Marvin Gaye". Nova deusa da geração MTV e síntese conseguida entre arte e "marketing", foi premiada com cinco galardões: "interpretação feminina r&b", "álbum contemporâneo r&b", "duo r&b", "canção rap" e "canção r&b". No discurso de agradecimento não se esqueceu de Jay-Z, que canta com ela em "Crazy in love", também distinguido com dois prémios. A cerimónia do Staples Center de Los Angeles começou com Prince e Beyoncé a interpretarem o clássico de 1984 do primeiro, "Purple rain", a que se seguiu um "meddley" de sucessos de ambos, com "Let's go crazy" e "Crazy in love". No entanto, o momento mais apetecido registou-se quando Justin Timberlake subiu ao palco para receber os prémios para "interpretação masculina pop" e "álbum pop". Uma semana antes o cantor havia descoberto o seio de Janet Jackson na final do SuperBowl, jogo do título do campeonato de futebol americano, protagonizando o escândalo da semana. "Foi uma semana difícil. O que se passou foi involuntário e peço-vos que me desculpem se vos ofendi", disse, depois de ter agradecido à mãe, presente na sala.Vencedores da noite foram também Richard Marx e Luther Vandross, distinguidos na categoria "canção do ano" com "Dance with my father", naquele que foi o quarto grammy para Vandross. Os prémios renderam também homenagem aos Beatles, que realizaram em Fevereiro de 1964 a sua primeira digressão pelos EUA e a Sting, homenageado com o "prémio carreira". A música rock, relegada para segundo plano como força motriz do mercado, foi representada pelos americanos Evanescence, "melhores novos artistas", enquanto os britânicos Coldplay ganharam em "single do ano" com "Clocks" e dedicaram o prémio a "Johnny Cash e a John Kerry [candidato democrata] que, esperamos, será o vosso presidente um dia". Os Foo Fighters venceram o "álbum rock" e o duo The White Stripes a "interpretação rock". Cesária premiadaNo campo das "músicas do mundo" destaque para Cesária Évora que foi distinguida na categoria "worl-music contemporânea" através de "Voz D' Amor", enquanto a cubana Célia Cruz, a título póstumo, recebeu o galardão "disco de salsa" com "Regalo Del Alma". No meio de tantos galardões nem o ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, foi esquecido, recebendo um prémio na categoria de "melhor álbum recitado para crianças", por ter emprestado a sua voz ao conto musical "Pedro e o Lobo" de Serguei Prokofiev. O prémio vai ser dividido com Mickhail Gorbachev, antigo presidente da Rússia, e com a actriz italiana Sophia Loren. A ex-Primeira Dama e agora senadora do estado de Nova Iorque, Hillary Clinton, não teve a mesma sorte do marido não vencendo na categoria para que estava nomeada - a de "melhor álbum recitado".

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