Torne-se perito

Canal 2: arranca ainda em cenário de transição

Um programa de meia hora contando a história e o processo de criação do 2: marca o arranque do novo canal que, a partir desta noite, mais precisamente das 21h00, substitui a RTP2. Este "making of" será apresentado por Alberta Marques Fernandes - o rosto de estreia, há onze anos, da primeira estação privada, a SIC.Trinta e cinco anos depois do lançamento do segundo canal da televisão estatal, ele vai agora tornar-se verdadeiramente "público", como anunciou o ministro da Presidência, Morais Sarmento, há pouco mais de um ano, quando apresentou as Novas Opções para o Audiovisual. É que a partir de hoje o canal contará com a participação de parceiros da dita "sociedade civil", em matéria de financiamento, patrocínio, cedência de meios e direitos, apoio técnico e científico e até fornecimento de programas. O 2: corresponde, no geral, ao que recomendava a comissão nomeada pelo Governo para estudar o serviço público de televisão.A primeira intenção do Governo apontava no sentido de daqui a alguns anos ser a sociedade a tomar plenamente conta do canal, ou seja, em financiamento e em conteúdos. Mas por enquanto isso está longe de acontecer, até mesmo tendo em conta o desconhecimento de quaisquer técnicas televisivas manifestado por muitos dos parceiros. O funcionamento do canal será seguido de perto por um Conselho de Acompanhamento, composto por representantes dos parceiros, com meras competências consultivas. Mas é a este órgão que caberá a responsabilidade de avaliar o cumprimento dos objectivos de serviço público e complementaridade do canal, a qualidade e diversidade da programação, bem como a sua gestão corrente.Por agora, aderiram ao projecto 52 entidades de utilidade pública da sociedade civil, entre associações, universidades, ordens profissionais, fundações e outros parceiros (ver lista nestas páginas), tendo já quatro dezenas formalizado protocolos com a RTP. As restantes adiaram a assinatura por, entre outras razões, estarem a ultimar os termos do acordo, já que a natureza deste depende do tipo e grau de envolvimento de cada entidade. Mais uma dezena de possíveis outros parceiros manifestaram interesse em participar. Com eles a comissão instaladora deverá "acertar agulhas" passada esta fase mais trabalhosa de colocar no ar o canal, adiantou ao PÚBLICO o director, Manuel Falcão.Financeiramente, o 2: deverá custar este ano 31 milhões de euros, entrando os parceiros com cerca de dois milhões - a RTP2 custou, em 2001 e 2002, 52 mihões de euros/ano. Está previsto que o custo total desça até aos 28 milhões de euros em 2006 (contas feitas pela RTP a preços constantes de 2003), apontado como o "ano cruzeiro". Nestes valores estão contabilizados custos de grelha, estrutura, emissão e operacionais.Grelha com nomes familiaresOlhando para a grelha, percebe-se que a passagem real do canal para a sociedade civil ainda demora. Na programação continuam títulos familiares de programas que transitam da RTP2 - como Bombordo, Por Outro Lado, Parlamento, 2010, Loja do Consumidor, Clube da Europa, A Alma e a Gente, Artes de Palco, A Fé dos Homens, 70x7, Novos Horizontes, Caminhos, Repórter RTP - 7 Dias, e Iniciativa - e até mesmo do primeiro canal, como o Top +. Há igualmente programas, em especial séries estrangeiras, que ganharam nome no segundo canal e voltam à antena, em novos episódios. São os casos de Sabrina - A Bruxinha Adolescente (programa mais visto da RTP2 em 2002), Sete Palmos de Terra, 24, Britcom e Começar de Novo.A participação da sociedade civil limita-se, por agora, aos programas Tudo em Família (debate diário sobre questões de carácter social) e Causas Comuns (sobre temas de cidadania), em que as entidades seleccionam temas e participantes e apoiam a produção com informação sobre os temas. Em termos de participação directa aparecem Clube de Jornalistas e o programa de grande entrevista da Rádio Renascença com o PÚBLICO, Diga Lá, Excelência!. Mantêm-se A Fé dos Homens e o espaço da Universidade Aberta.Na próxima segunda-feira arranca Nós, magazine dedicado à imigração da responsabilidade do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas, e em Fevereiro estreia também Planeta, destinado às comunidades russófonas portuguesas, pela Associação Respública.O 2: vai aproveitar sinergias com a RTP África e transmitir, nas manhãs de fim-de-semana, Repórter RTP - 7 Dias, Na Roça com os Tachos e Mana África. "É a melhor altura para chegar às comunidades africanas", justifica Manuel Falcão. O canal está também a trabalhar com a NTV, a estação por cabo da RTP, para a produção de programas e projectos comuns.Mais público juvenil e mulheresA RTP2 tem feito uma adaptação progressiva da grelha nas últimas semanas com a reposição de alguns programas, mas o período de ajustamentos irá estender-se até Abril, já que há compromissos de emissão assumidos, conteúdos programados e contratos ainda por acabar. O que até dá jeito aos programadores já que ainda nem todas as colaborações dos parceiros estão prontas a ir para o ar.Uma boa parte da emissão, sobretudo a da manhã dos dias úteis, vai ser ocupada com repetições de programas da tarde e noite do dia anterior e de alguns títulos do fim-de-semana. Uma maneira de manter os custos baixos e tentar que os conteúdos cheguem ao maior leque de possíveis franjas de audiências.Níveis de audiências é, aliás, algo com que a direcção do canal não está propriamente preocupada. Comparativamente à RTP2, o novo canal reforça os conteúdos ao nível da educação, cultura e acção social (têm um peso de 42 por cento no total da programação), e das matérias para o público infantil (19%). Mas perde na ficção e cinema (de 25 para 11 por cento), ligeiramente no desporto (dos 9 para os 6 por cento) e na informação (dos 21 para os 19).Boas notícias são, sem dúvida, a promessa de começar e terminar programas a horas, preferindo a rigidez de horários dos canais por cabo à descoordenação dos canais de sinal aberto, e a redução do Jornal 2 a meia hora. Segundo os responsáveis pelo canal, 60 por cento da produção do 2: será de origem nacional, maioritariamente da responsabilidade de produtores independentes (como é o caso da Artémis, Duvídeo, Imaterial, Companhia de Ideias, Oficina da Comunicação, Mínima Ideia, Logomédia, Textimédia, entre outros), com os quais a RTP passa a funcionar numa base de "outsourcing" quando até aqui esses programas eram feitos "em casa. A produtora RTP Meios e a Direcção de Informação da RTP continuam, no entanto, a assegurar vários espaços, nomeadamente alguns Magazine e Quiosque, bem como o Jornal 2, Parlamento e Desporto 2. À direcção de programas da 2: caberá a responsabilidade de Por Outro Lado, Conselho de Estado e Bastidores.O público da RTP2 era sobretudo masculino (53 por cento), mas o 2: quer equilibrar as coisas, com um objectivo de quotas na ordem dos 49/51 a favor das mulheres, de modo a aproximar-se do modelo global. O universo dos telespectadores de televisão é composto numa base de 56/44, com primazia do sexo feminino. O novo canal quer também crescer na faixa de espectadores mais novos, com idades entre os 4 e os 14 anos, dos actuais 17 por cento para os 25 por cento, mesmo que isso implique "cortar" ligeiramente nas faixas 35-54 anos (dos 22 para os 20 por cento) e nos maiores de 55 anos (dos 36 para os 32 pontos percentuais). Mas esta diversificação de público ficar-se-á pelas componentes sexo e idade, já que o objectivo é manter a fatia de 17 por cento da audiência pertencendo às classes A/B (contra a média global de 12 por cento).

Sugerir correcção