PS diz que Parlamento está “em condições” para aprovar eutanásia até Setembro

No programa Hora da Verdade, o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, revela quais os dossiês que devem avançar assim que o OE2022 for aprovado e o que ficará na gaveta para resolver ao longo da legislatura.

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Eurico Brilhante Dias, líder parlamentar do PS, tem 50 anos e foi secretário de Estado da Internacionalização Daniel Rocha

Eurico Brilhante Dias saiu do Governo para assumir a liderança da bancada socialista durante esta maioria absoluta. Na sua lista de prioridades para aprovar até Setembro deste ano têm dossiês como a despenalização da morte medicamente assistida (vetada pela segunda vez pelo Presidente da República em Novembro), as ordens profissionais e a reavaliação das alterações à lei da nacionalidade. Em entrevista ao PÚBLICO e à Renascença (que será integralmente transmitida às 23h), o líder parlamentar do PS revela que os socialistas colocarão na gaveta a lei de emergência sanitária, que depois de “serenada” precisa de “amadurecer”.

Têm dado entrada no Parlamento vários processos legislativos, entre os quais está um projecto do BE sobre a eutanásia. Já decidiu como irá votar?
O PS vai reapresentar um texto e vai seguramente querer convergir com os proponentes da proposta para a votação final global, eliminando ou dirimindo as questões de inconstitucionalidade que foram levantadas pelo Presidente da República para que volte a ser votado.

Ainda nesta sessão legislativa?
Procuraremos que seja o mais rapidamente possível. Estamos a falar de poder votar até 15 de Setembro de 2022. Anunciarei a forma como vou votar essa iniciativa quando for votada na generalidade. Votarei em consciência em função das minhas convicções nesse momento.

Podemos ver um líder parlamentar do PS a votar desalinhado com o resto da bancada?
Não há disciplina de voto. Há liberdade de voto e é um tema de consciência. Não vou satisfazer a sua curiosidade hoje.

Já disse que o PS teria disponibilidade para reavaliar a lei da nacionalidade e perceber se a regulamentação feita pelo Governo seria suficiente. Quando?
Esperamos muito rapidamente poder fazê-lo, mas temos uma condicionante de calendário evidente [o OE2022]. Temos outro dossiê importante: as ordens profissionais. É uma das nossas obrigações no quadro do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e é um tema que tem atravessado praticamente a última década.

A questão da nacionalidade é particularmente premente porque as questões em torno da utilização de uma parte da lei da nacionalidade (a herança histórica que temos e à relação que temos com a comunidade sefardita) têm suscitado algum alarme social e até alguma incompreensão pela forma como tem sido utilizada para atribuir a nacionalidade portuguesa.

O Governo já fez um bom trabalho ao criar regras mais claras de vinculação a Portugal do cidadão com herança sefardita. Avaliaremos se há algum passo em frente que tenha de ser dado e avançaremos. E há a questão da lei eleitoral, que preocupa todos os parlamentares. Há algum trabalho feito sobre a possibilidade de construir um Código Eleitoral que crie alguma uniformidade e simplificar alguns processos.

E acabe com a necessidade da fotocópia do cartão de cidadão nos círculos da emigração?
É uma situação que não pode deixar de despertar em nós uma certa incomodidade​.

Mas o PS vai apresentar uma proposta?
Não temos urgência eleitoral.

Em 2019 também não havia e já havia críticas. Em 2021 e 2022 tivemos eleições e voltou o problema.
A expectativa é não ter eleições muito proximamente. E a questão da fotocópia do cartão de cidadão é posta nas legislativas, não teria acontecido o mesmo nas presidenciais. Tivemos um acto eleitoral em que os emigrantes foram votar e que não viram o seu voto validado por não terem cumprido escrupulosamente um procedimento administrativo. Não poderemos voltar a ter legislativas com a lei tal como está.

O PS também já se mostrou disponível para rever o modelo de debates quinzenais. Em que é que está a pensar para renovar este modelo e o tornar mais elástico?
Não perdemos elasticidade. Ficámos muito amarrados à frequência. É essencial garantir é que o Governo no seu conjunto é escrutinado na AR. O acordo celebrado entre o PSD e o PS foi celebrado com o PS como Governo e o PSD como partido da oposição, num quadro em que o PS não tinha maioria absoluta. Isso tinha uma legitimidade acrescida.

O que pode resultar dessa revisão?
É difícil fazer uma avaliação do modelo sem incluir o parceiro, o PSD, e esperaremos para ver qual será a sua posição e depois desenhar o modelo mais adequado para controlar a actividade governativa. Faremos esse debate quando forem objecto de análise as propostas que os partidos têm.

O PS vai apresentar alterações ao Orçamento do Estado para 2022?
Naturalmente pensámos nisso, mas a resposta é politicamente mais complexa do que dizer que vamos apresentar alterações. O cenário macroeconómico teve um ajustamento, mas este OE é uma obrigação do PS. Teremos um quadro e espaço na especialidade. O PS acompanhará o processo orçamental, mas a mensagem não é o conjunto de alterações que eventualmente pode introduzir.

É sobre a bondade do OE?
É sobre a questão peremptória que estamos a cumprir um compromisso com os eleitores. Este OE foi mostrado na televisão várias vezes como pronto a executar. Contará com propostas do PS em áreas muito diferentes. Aliás, começámos a nossa conversa falando de iniciativas muito concretas que não são aspectos menores.

O que acha acerca do imposto sobre os lucros inesperados que o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, admitiu na apresentação do programa do Governo?
O que está em causa é a resposta ao processo inflacionista que tem dois pilares centrais: o custo da energia e das matérias-primas alimentares, em particular os cereais. Não quero excluir à partida nenhuma iniciativa que diz respeito ao Governo. Vivemos um quadro de incerteza, pode haver mais medidas.

E em relação a este imposto?
Não está no quadro orçamental. A discussão sobre instrumentos adicionais poderá ser falada mais para a frente.

O ministro das Finanças já disse que obviamente não haveria nenhum orçamento rectificativo. Para si é assim tão óbvio? O OE2023 será o rectificativo?
Olhando para o quadro macroeconómico e para a realidade orçamental hoje não se antevê esse cenário. Percebo a reposta do ministro das Finanças e acho que tem razão. Um Governo que apresenta rectificativos sucessivos e que falha as contas é um Governo em que os portugueses perdem confiança. Contas certas e orçamentos estáveis são um bom princípio.

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