BSE: identificado primeiro "possível caso" de transmissão por via sanguínea no Reino Unido

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Segundo dados oficiais, 143 pessoas contraíram a variante humana da BSE no Reino Unido Wulf Pfeiffer/AFP

O primeiro "possível caso" de transmissão da variante humana da encefalopatia espongiforme bovina pela via sanguínea foi hoje revelado, na sequência da morte de um britânico após uma transfusão de sangue efectuada por um dador afectado pela doença.

O ministro da Saúde britânico, John Reid, deslocou-se à Câmara dos Comuns para informar os deputados desta eventualidade. "É uma possibilidade, ainda não existe uma relação causa-efeito provada", realçou.

O cidadão britânico que faleceu este Outono na sequência de uma infecção com Creutzfeldt-Jakob, a forma humana da encefalopatia espongiforme bovina (BSE, mais conhecida como doença das vacas loucas), recebeu uma transfusão sanguínea em 1996, no quadro de uma cirurgia. No entanto, o dador revelou-se portador da nova variante de Creutzfeldt-Jacob, da qual viria a morrer em 1999.

"É possível que a doença tenha sido transmitida pelo dador, via transfusão sanguínea, ainda que este tenha desenvolvido a doença apenas três anos mais tarde", afirmou John Reid, precisando que o receptor do sangue pode ter desenvolvido a doença "após um período de incubação de seis anos e meio".

Actualmente, apenas 15 pessoas receberam sangue da parte de um dador que mais tarde manifestou ser portador de Creutzfeldt-Jakob e todas estão a ser seguidas medicamente. Desde 1997, cerca de um ano após a transmissão sanguínea possivelmente fatal, foram tomadas diversas medidas para contrariar a progressão da doença no Reino Unido, mas ainda não existe nenhum teste sanguíneo que revele eventuais sinais da variante humana da BSE.

No Reino Unido registaram-se 1135 casos de BSE em 2002 e 309 nos primeiros seis meses de 2003. O pior ano foi o de 1991, com 37 mil casos recenseados. Destes casos, 143 revelaram-se na variante humana.

A BSE é uma encefalopatia espongiforme transmissível que afecta o gado bovino. O primeiro caso foi registado no Reino Unido em 1986. As doenças da classe encefalopatia espongiforme transmissível afectam ovinos, bovinos e veados.

A doença de Creutzfeldt-Jakob é uma doença rara de tipo neurodegenerativo. Surge por todo o mundo e é um tipo de encefalopatia espongiforme, característica pela degeneração esponjosa do cérebro. Há diferentes formas da doença de Creutzfeldt-Jakob e até há pouco tempo eram conhecidas apenas três variantes: Creutzfeldt-Jakob esporádica, que é o tipo mais comum, verificada em 85 por cento dos casos da patologia, afecta essencialmente pessoas com idades entre os 50 e os 75 anos e caracteriza-se por uma progressiva mas rápida demência; Creutzfeldt-Jakob familiar, que ocorre em dez a 15 por cento dos casos e é uma doença hereditária associada a mutação genética; e Creutzfeldt-Jakob iatrogénica, que surge em menos de cinco por cento dos casos e é consequência de transmissão do agente infeccioso através de tratamento médico ou cirúrgico, ou seja, através da utilização acidental de materiais contaminados.

Recentemente surgiu uma nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob. Foi descrita pela primeira vez em Março de 1996. Esta é a forma da doença geralmente denominada por variante humana da BSE, porque é a que mais probabilidades tem de ser causada por exposição ou contacto com o agente da doença bovina. Ao contrário dos casos comuns de Creutzfeldt-Jakob esporádica, esta variante afecta pacientes jovens, sendo que o espectro de idades das vítimas vai dos 27 aos 65 anos. Os sintomas são essencialmente psiquiátricos no início da doença e a depressão ou a esquizofrenia são as patologias mais comuns.

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