História de Annie Silva Pais em livro e com adaptação ao cinema à vista

A história de Annie Silva Pais, a filha do último director da PIDE que se apaixonou pela revolução cubana, é agora recordada no livro "A Filha Rebelde", estando já em preparação a adaptação ao cinema.

O livro é apresentado como uma "reportagem histórica" por José Pedro Castanheira, jornalista que assina o trabalho em conjunto com o também jornalista Valdemar Cruz. A sessão de lançamento está prevista para Janeiro, embora a obra chegue esta semana às livrarias.

"A Filha Rebelde", obra editada pela Temas e Debates, constitui o desenvolvimento de uma reportagem publicada na revista do "Expresso" em Setembro de 2002 e que valeu aos dois jornalistas o Prémio Gazeta de jornalismo.

O livro conta a história de Annie Silva Pais, filha única do responsável máximo da PIDE entre 1962 e 1974, Fernando Silva Pais, que em 1965 toma uma decisão tida como ultrajante para o pai e para o regime português: abandona o marido, a restante família, os amigos e o país para se entregar à revolução cubana.

Com 30 anos, Annie desaparece por três meses e, quando volta a apresentar-se, revela uma ardente paixão por Che Guevara, vindo a enamorar-se do médico pessoal de Fidel Castro e, posteriormente, a estabelecer uma prolongada relação com o ministro do Interior cubano, José Abrantes.

Tradutora e intérprete de Fidel, Annie só regressa a Portugal após o 25 de Abril, para ir visitar o pai a Peniche, "tendo então envidado múltiplos esforços para que este fosse libertado ou, pelo menos, dispusesse de melhores condições na prisão", conta José Pedro Castanheira.

Já em Portugal, Annie — cujas relações com a família se mantinham tensas — trabalha para o Movimento das Forças Armadas (MFA) durante o Verão Quente de 1975, regressando no ano seguinte a Cuba, onde acabaria por morrer, vítima de cancro, em Julho de 1990.

De acordo com José Pedro Castanheira, "o livro surgiu porque muito material tinha ficado fora da reportagem publicada, o que foi frustrante. Assim, ficou decidido prolongar a investigação, acabando este livro por ser, em parte, uma biografia de Annie e uma biografia, a primeira, do seu pai".

O acesso aos arquivos de Salazar e da PIDE/DGS, a polícia política do antigo regime, bem como ao diário incompleto de Armanda Silva Pais, mãe de Annie, foi determinante na investigação dos dois jornalistas.

Valdemar Cruz e José Pedro Castanheira deslocaram-se ainda a Cuba, onde recolheram depoimentos, tendo também ouvido os testemunhos do ex-marido de Annie Silva Pais e de um primo direito da protagonista, ambos actualmente a residir na Suíça.

De entre todo o material, José Pedro Castanheira enfatizou o papel do diário que a mãe de Annie iniciou em 1966 e escreveu até 2001, "não falhando um único dia, muito embora após a Revolução tenha destruído as páginas até 1974 para não se comprometer".

"Todavia, uma viagem que Armanda Silva Pais realizou a Cuba em 1966 para tentar demover a filha dos seus ideais e convencê-la a regressar a Portugal ainda consta do diário, que é de um cariz testemunhal espantoso", adiantou o jornalista.

O livro, que de certo modo também confronta o regime político português com o cubano na década de 60, surge num momento em que "os portugueses começam a redescobrir a sua história mais recente, nomeadamente a da segunda metade do século XX em diante", salientou o autor.

A obra "A Filha Rebelde" deverá ainda ser adaptada ao cinema pela produtora HO, de Henrique Oliveira, que realizou "Major Alvega" e que está também a preparar um documentário sobre o assunto, de que se encarregarão os dois jornalistas.

Valdemar Cruz adiantou que "o argumento para a criação do filme está já em preparação, cabendo eventualmente à ficção explorar outros aspectos da obra, talvez valorizando especificamente determinado episódio ou personagem", enquanto o livro ficou restrito aos factos, "com absoluto respeito pelas datas, locais e nomes".

Dedicado sobretudo à reportagem sobre a História recente de Portugal e das ex-colónias, José Pedro Castanheira, que nasceu em Lisboa em 1952 e tem formação na área da economia e do jornalismo, já passou pelo matutino "A Luta" e pelo semanário "O Jornal", integrando actualmente os quadros do "Expresso".

Valdemar Cruz nasceu em 1965 em S. Pedro da Cova, Gondomar, licenciou-se pela Faculdade de Letras do Porto e é jornalista profissional desde 1976, tendo iniciado a sua actividade em "O Diário" e colaborado em diversas publicações nacionais e estrangeiras.

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