Nove novos em Serralves

São nove os nomes seleccionados para a exposição Prémio EDP Novos Artistas 2003, que é hoje inaugurada no Museu de Arte Contemporânea de Serralves (MACS), no Porto. A escolha resulta de um trabalho de campo realizado nos últimos cinco meses por Nuno Faria, João Fernandes e João Pinharanda, que não só visitaram estabelecimentos de ensino artístico e "ateliers", mas também estudaram um número significativo de "portfolios" de criadores emergentes. O vencedor é anunciado a 17 de Dezembro.O director do MACS nota que os presentes na mostra "não são por nós entendidos como os mais interessantes do contexto português", sublinhando mesmo a impossibilidade de fazer com algum deles uma exposição individual em Serralves. É que, segundo João Fernandes, é necessário entender qual vai ser a evolução dos artistas, sendo esta uma oportunidade destes apresentarem obras em condições de produção excepcionais. A quase inexistência de espaços com as características adequadas à criação emergente é mesmo um dos problemas assinalados por João Fernandes, que vê nesta exposição um momento propício para reflectir acerca dessa lacuna - e amanhã, pelas 18h, tem lugar uma conversa com os nomes seleccionados, moderada pelos comissários. Para o director do MACS, "são os próprios artistas que têm vindo a formar os seus contextos de apresentação, como são os casos, no Porto, da Caldeira 213, do Artmosferas, dos Maus Hábitos, do Pêssego Prá Semana, do Salão Olímpico". A exposição reúne artistas que se podem situar entre o fim do curso e o início da carreira. Assim, Bunga, Daniel Barroca, Gonçalo Barreiros, Inês Botelho, Maria Lusitano, Max Rosenheim, Miguel Carneiro, Pedro Barateiro e Ruben Verdadeiro são os candidatos aos 10 mil euros do prémio. Contudo, e esta é uma das novidades, este dinheiro é destinado ao desenvolvimento de um projecto por parte do vencedor. O modelo do galardão é o Beck's Future, no valor de 24 mil libras, que distingue todos os anos um nome emergente da cena artística britânica - este ano, o prémio foi arrecadado por Rosalind Nashashibi, de 29 anos.Prémios de desenho e pintura anuladosJoão Pinharanda, consultor de artes plásticas da EDP, refere que este prémio, com periodicidade anual e localização diversa, surge na continuidade do que já existia - de nomeação directa e ganho por Joana Vasconcelos, Leonor Antunes e Vasco Araújo -, desaparecendo, no entanto, os galardões destinados ao desenho e à pintura, cuja fórmula se entendeu esgotada - o único que se mantém é o destinado a consagrar uma carreira. O júri que irá decidir o nome do vencedor deste ano é formado pelo crítico brasileiro Adriano Pedrosa, por uma das comissárias da quinta edição Manifesta, Bienal Europeia de Arte Contemporânea (San Sebastián, 2004), a ucraniana Marta Kuzma, e pelo português Manuel Costa Cabral, da Fundação Calouste Gulbenkian.A exposição inicia-se na entrada para a biblioteca do MACS, onde hoje é também inaugurada "Mário Pedrosa", uma peça do alemão Tobias Rehberger, formada por cerca de setenta candeeiros - existe a intenção de estabelecer uma relação funcional entre este trabalho e o Centro de Documentação Mário Pedrosa, em São Paulo, onde está reunido um importante centro documental deste crítico brasileiro de orientação marxista e acérrimo defensor da arte moderna. Esta obra, depositada em Serralves por Pedro Almeida Freitas, faz parte da denominada "Colecção dos Coleccionadores".É na biblioteca que está instalada a obra de Bunga (Porto, 1976). Trata-se de uma arquitectura feita em cartão, que, segundo informações prestadas pelos comissários da exposição, será destruída antes da inauguração. A exposição prossegue nas salas do piso inferior do MACS. Num primeiro espaço convivem as peças de Inês Botelho (Lisboa, 1977) - uma cortina que pode adquirir nove posições e uma escultura -, com a pintura quer de Miguel Carneiro (Porto, 1980) - a série "Triz", onde se observa o espaço entre o ânus e a vagina -, quer de Pedro Barateiro (Almada, 1979). Numa pequena divisão contígua, Maria Lusitano (Lisboa, 1971) apresenta uma narrativa em vídeo, construída a partir de velhos filmes de família.Num corredor que antecede a segunda sala da exposição, mostra-se a instalação de Ruben Verdadeiro (Ponta Delgada, 1974), que, amanhã, a anteceder o debate, realiza, no auditório de Serralves, a "performance" "Silêncio Azul". No último espaço da mostra reúnem-se seis vídeos de Daniel Barroca (Lisboa, 1976), duas máquinas-esculturas de Gonçalo Barreiros (Lisboa, 1978) e as reflexões de Max Rosenheim (Madrid, 1979) acerca do espaço da exposição - este artista veio viver temporariamente para o Porto, tendo mesmo "habitado" o MACS, infiltrando-se, com duas personagens, nos lugares habitualmente menos visíveis para o público.Prémio EDP Novos Artistas 2003PORTO. Museu de Arte Contemporânea de Serralves. Rua D. João de Castro, 210. Tel.: 226156500. De 3ª a dom., das 10h às 19h; 5ª, das 10h às 22h.Inaugura-se hoje às 22h. Até 4 de Janeiro de 2004.

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