PS expulsa três dezenas de militantes da Mealhada

Foto
PUBLICO.PT

Foi a primeira presidente da Câmara da Mealhada eleita pelo PS após o 25 de Abril, militou no partido durante 28 anos e garante que vai morrer socialista, "com ou sem cartão". Mas vai também denunciar e responsabilizar, sem limites, a conduta de "permissividade do aparelho" rosa que conduziu à sua expulsão do partido, tornada pública no último número do jornal Acção Socialista.

"Profundamente desiludida" e "revoltada", Odete Isabel acusa sem piedade os colegas de partido que "estão agarrados ao poder, não largam o poder por nada e não olham a meios para atingirem os seus fins". O caso que teve origem no processo de escolha do candidato à Mealhada nas últimas eleições autárquicas já seguiu para o secretário-geral do partido, Ferro Rodrigues.

"Temos consciência do que fizemos, mas o âmago da questão nunca foi considerado", introduz Odete Isabel, para relatar a história da expulsão de três dezenas de militantes do PS na Mealhada. O caso remonta ao período pré-eleitoral das autárquicas de 2001 e começou com a reunião da comissão política concelhia da Mealhada, para a escolha do candidato à presidência da câmara local. "Fui eleita por mais um voto do que o actual presidente, Carlos Cabral", recorda Isabel. "Mas o presidente da concelhia, Rui Marqueiro, não gostou e convocou nova reunião, em que não houve uma eleição mas uma nomeação", acrescenta.

"É este o cerne da questão", defende a mulher que hoje é vereadora no executivo liderado pelo homem que não hesita em chamar de "usurpador". Segundo Odete Isabel, "a ilegitimidade da nomeação de Carlos Cabral, alvo de várias reclamações, nunca foi verificada" e com o aproximar do acto eleitoral o clima de "ansiedade" aumentava. "A população insistia para que não desistíssemos e formámos um movimento", relata a militante que foi expulsa do PS por concorrer pela lista do MOI-CM (Movimento Odete Isabel à Câmara da Mealhada). "Eu conhecia os estatutos do partido, sabia o que estava a fazer, mas escolher um candidato por nomeação também é contra os estatutos do partido", afirma.

"Há vários responsáveis por isto, mas o principal é o presidente da comissão de jurisdição da federação de Aveiro, Costa Amorim, que, se tivesse cumprido as suas obrigações, como foi requerido, verificava a ilegitimidade da nomeação e evitava essa fraude política", acusa Odete Isabel, garantindo que "o elemento do secretariado da federação que esteve presente na reunião da nomeação nunca foi ouvido". "O grupo a que pertenço está na política por paixão, nenhum dos elementos do MOI precisa da política para viver, ao contrário do outro lado", ataca, sustentando que "Rui Marqueiro e Costa Amorim estão agarrados ao poder, não largam o poder por nada e não olham a meios para atingirem os seus fins".

"Até que a voz me doa não vou deixar de falar nisto", esclarece Odete Isabel, que decidiu dar conta do processo ao secretariado nacional do partido e ao próprio líder socialista, Ferro Rodrigues. O caso das expulsões da Mealhada conta também o episódio da suspensão dos elementos do MOI por altura das eleições para a federação de Aveiro. "Para nos impedirem de votar fomos suspensos por 60 dias. Nós éramos apoiantes de Afonso Candal, mas Rui Marqueiro e Carlos Cabral apoiavam Alberto Souto". "Numa fase complicada para o partido, não percebo como é que ao fim de 28 anos há expulsões, e não se garante a coesão dos militantes", conclui Isabel.

Sugerir correcção
Comentar