Meio milhão de portugueses sofrem de ataques de pânico

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A prevalência da doença nas mulheres é duas vezes maior que nos homens Dulce Fernandes (PÚBLICO)

Palpitações, náuseas, tremores, suores, dores de cabeça intensas e medo de morrer. Tudo isto pode ser um sinal que há um distúrbio de pânico no ar. Estima-se que em Portugal mais de meio milhão de pessoas padeçam desta doença que, aliás, atinge mais as mulheres.

Este tema foi ontem esmiuçado no V Encontro Bial de Psiquiatria, que reuniu em Espinho alguns dos mais conceituados psiquiatras e investigadores da área. E, afinal, de que falamos quando nos referimos a um ataque de pânico? O distúrbio de pânico manifesta-se por um início súbito e inesperado de medo e desconforto, que, habitualmente, atinge o seu pico em 10 minutos, e faz-se acompanhar por um conjunto de acções que afectam o corpo, tanto física como psicologicamente.

Há estudos que revelam que, de facto, a prevalência de um ataque de pânico é duas vezes maior nas mulheres do que nos homens. Segundo o director clínico do departamento de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Adriano Vaz Serra, "a instabilidade hormonal, o próprio ciclo menstrual, facilita que um distúrbio de pânico se possa manifestar".

O psiquiatra explicou que um ataque de pânico é como se o ponteiro da ansiedade passasse "para o campo vermelho das rotações", se comparado ao funcionamento de um automóvel. "O distúrbio de pânico é o mais frequente de todos os transtornos mediados pela ansiedade", acrescentou.

No entanto, é fácil confundir os sintomas de um distúrbio de pânico com uma qualquer perturbação física, o que leva a que os pacientes procurem um médico de uma determinada especialidade que não está relacionada com o seu real estado de saúde o que, consequentemente, pode conduzir à perpetuação de um tratamento não adequado.

"Muitas vezes, as pessoas dizem aquilo que sentem, mas não aquilo que têm", explicou Vaz Serra. Por isso, é necessário ir à raiz do problema, muitas vezes de natureza psicológica, e dos sinais físicos para se ter uma percepção mais clara do que na realidade se passa.

Vaz Serra adiantou que nos casos de distúrbios de pânico, o tratamento tanto pode basear-se em farmacoterapia como em terapia cognitiva-comportamental. O ideal é, apontou, um "tratamento misto". Com três finalidades: "Modificar o diálogo interno, aprendendo a desdramatizar as situações; aprender a valorizar os transtornos de ansiedade e ter uma percepção dos comportamentos provocantes para os conseguir eliminar".

Por outro lado, há estudos que realçam que os indivíduos com distúrbios de pânico estão mais propensos ao abuso de álcool e drogas ilícitas e até mesmo ao suicídio. Luísa Figueira, do departamento de psiquiatria do Hospital de Santa Maria, destacou que as "cognições disfuncionais, crenças hipocondríacas, uma história anterior de fobias e uma personalidade evitante" podem potenciar perturbações de pânico com "uma maior probabilidade do risco de suicídio".

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