$Geração sem geração em Vigo

No Museu de Arte Contemporânea de Vigo (MARCO), Galiza, é hoje inaugurada a exposição "Outras Alternativas: Novas Experiências Visuais em Portugal". A mostra, comissariada pelo espanhol David Barro, junta vinte artistas que têm vindo a ganhar uma crescente visibilidade no contexto artístico nacional: de Rui Toscano (n. 1970) a João Vilhena (n. 1978). Alguns dos participantes - Leonor Antunes, Pedro Gomes, André Guedes e Sancho Silva - foram mesmo convidados a realizar projectos específicos para a instituição galega, uma situação que acrescenta uma mais-valia a uma iniciativa baseada sobretudo em obras já reveladas nos circuitos galerísticos e institucionais.A exposição surge no sequência do trabalho que o MARCO tem desenvolvido desde a sua inauguração, há cerca de um ano. Desde Novembro de 2002, que o museu tem organizado uma série de mostras colectivas, contudo, a grande diferença relativamente às exposições anteriores é o facto de "Outras Alternativas" ter como ponto de partida uma base geográfica e não temática. Esse facto deve-se certamente quer à proximidade entre Vigo e Porto - de carro, as cidades distam uma da outra cerca de hora e meia -, quer à vontade de potencializar a actividade crescente, nesta região, no domínio da arte contemporânea.Há igualmente outras situações para confirmar nesta exposição, como a de saber se existe realmente um novo paradigma na arte portuguesa. Não é por acaso que David Barro considera que teria sido muito problemático para um comissário português reunir os vinte nomes por si seleccionados. O responsável por "Outras Alternativas" nota que o critério para as suas escolhas foi amplo, tendo mesmo ido para além do seu gosto pessoal: "Procurei mostrar obras de artistas com um mínimo de percurso e visibilidade; senti-me como uma espécie de organizador de uma bienal".De facto, o comissário considera a exposição como "boa para todos, mesmo para os que não estão cá, porque assim a arte portuguesa ganha visibilidade". Há, contudo, uma situação incontornável: os nomes escolhidos pertencem a uma geração que tem beneficiado de um contexto propício para trabalhar. Como sublinha David Barro, ao contrário da primeira geração dos anos 90, muitos dos artistas presentes em "Outras Alternativas" "passaram directamente da escola para a instituição, ou seja, não tiveram as dificuldades dos seus colegas mais velhos, como João Tabarra, Miguel Palma e Paulo Mendes; estão integrados no sistema".David Barro tem vindo a acompanhar a arte portuguesa actual nos últimos anos enquanto correspondente das revistas espanholas "Arte y Parte" e "Lápiz", tendo iniciado a preparação da mostra de Vigo no início de 2003. O primeiro projecto era mais ambicioso, tratava-se de dar uma visão total da década de 90, com os seus diversos momentos e protagonistas. Contudo, o facto da Fundação de Serralves ter já então previsto apresentar, em datas coincidentes, a sua colecção relativa aos anos 90 em várias cidades espanholas - a exposição foi inaugurada ontem em Salamanca e segue depois para Barcelona -, inviabilizou a intenção.A crescente afirmação de uma série de artistas, que têm tido não só acompanhamento crítico, mas também o apoio de galerias e instituições, surgiu assim como hipótese de trabalho cada vez mais consistente. O resultado foi a selecção de um conjunto de nomes, que reflectem diversas tendências da arte portuguesa contemporânea - depois de "Plano XXI" (Glasgow, 2001) exposição de tendência comissariada por António Rego e Paulo Mendes, na qual foram mostrados trabalhos de um número significativo de criadores que ganharam visibilidade na primeira metade da década de 90, a mostra de Vigo assume-se enquanto plataforma de discussão relativamente à nova diversidade artística, que, hoje, passa um pouco por todo o país: Lisboa, Porto, Coimbra, Viseu, Castelo Branco, Maia, Braga, etc.No ensaio para o catálogo, David Barro conclui que os artistas seleccionados têm a consciência da exiguidade do meio português. Como tal, a participação daqueles numa mostra em Vigo resulta da vontade em "ampliar horizontes e trabalhar em contextos geográficos diferentes que, no entanto, sentem próximos em situações e inquietudes". O comissário acrescenta: "Este interesse em confrontar os seus trabalhos em lugares onde estes têm de defender-se por si sós desembocou, em muitos casos, paradoxalmente, numa visibilidade maior da que gozam muitos dos artistas portugueses que os precedem em termos de geração, mais centrados em consolidar umas metas internas de um meio necessitado como foi o português e carentes das possibilidades das infra-estruturas das que gozam hoje os artistas emergentes".Curiosamente, o título da exposição foi inspirado numa outra colectiva, "Alternativa Zero", que aconteceu em Lisboa, em 1977, sob a orientação de Ernesto de Sousa. Barro refere o facto desta mostra ser "a mais importante e recordada das então celebradas, uma exposição-manifesto que pretendia redefinir a situação portuguesa e actuar como balanço dos avanços conseguidos desde os finais dos anos 60". Em Vigo, o comissário pretende tirar a temperatura - e certamente provocar alguma polémica - à arte hoje produzida no nosso país por uma "geração sem geração"."Outras Alternativas: Novas Experiências Visuais em Portugal"VIGOMuseu de Arte Contemporânea (MARCO). Rua Príncipe, 54. Tel. 0034986113900. Inaugura às 20h (19h, hora portuguesa).

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