Guterres apresenta caminho para uma nova ordem mundial

Foto
O ex-primeiro-ministro português será reeleito, na quarta-feira, presidente da Internacional Socialista Miguel Silva/PÚBLICO

Um conjunto de medidas com o objectivo de lançar uma nova ordem internacional, em que as Nações Unidas sejam reforçadas, será hoje apresentado por António Guterres, na sessão inaugural do Congresso da Internacional Socialista, que decorre até quarta-feira em São Paulo, no Brasil.

Guterres irá defender, de acordo com as informações obtidas pelo PÚBLICO junto do seu gabinete de apoio, que a Internacional Socialista "seja a força impulsionadora de uma clara coligação global para uma nova ordem mundial", bem como "por um novo multilateralismo ao serviço da paz e segurança, da democracia e dos Direitos do Homem, do desenvolvimento sustentado e da justiça social."

O ex-primeiro-ministro português - que na quarta-feira será reeleito presidente da Internacional Socialista e que nessa condição deverá participar no próximo Fórum Social Mundial que se realiza em Bombaim, na Índia - afirmará também hoje que este caminho "é uma resposta à ideologia neo-liberal, à agenda política neo-conservadora e à lógica do unilateralismo, que sacraliza o mercado, mesmo com o sacrifício da pessoa humana" e que "procura desmantelar ou enfraquecer o sistema das Nações Unidas, as organizações internacionais de regulação e o direito internacional".

No mesmo discurso que profira hoje, Guterres criticará directamente a política dos EUA mas também a de Israel: "Nós não aceitamos que a lei seja a vontade do mais forte. Este é um tempo de contradições. Caiu o velho Muro de Berlim, constrói-se um novo Muro na Palestina. A IS é contra os muros de Berlim e da Palestina, os muros não protegem os povos, sejamos claros, separam-os, oprimem-os, segregam-os."

A condenação frontal do terrorismo será também feita por António Guterres, mas em termos diversos dos que têm sido defendidos pela Administração americana:"O terrorismo tem sempre que ser combatido com firmeza, mas é preciso olhar para o outro lado da moeda, se não houver exclusão social, se não houver pobreza e injustiça, se as sociedades forem coesas não será fácil ninguém recrutar um terrorista."

Na sua intervenção, Guterres defenderá a criação de um Conselho da ONU para o desenvolvimento, à semelhança do Conselho de Segurança, que desempenhe o papel que o G-8 devia desempenhar. E sustentará ainda a necessidade de ser congelada a dívida dos países pobres.

Este congresso da IS continuará a trabalhar com o objectivo de preparar uma frente de esquerda para lutar pela criação de uma nova ordem internacional que venha a ser instituída, se não antes, quando actual Administração americana for substituída. Da reunião deverá sair a "declaração de São Paulo", onde estarão presentes algumas das posições assumidas por Guterres na sua intervenção.

Em São Paulo, será estabelecido um acordo de parceria permanente com o Partidos dos Trabalhadores, dirigido pelo Presidente da República do Brasil, Luís Inácio da Silva, "Lula", que hoje abrirá oficialmente o Congresso e que será brindado com uma pequena cerimónia e um bolo, assinalando o seu aniversário pessoal, bem como o passar do primeiro ano sobre a sua eleição presidencial. No congresso, será sedimentada a aproximação e o trabalho conjunto com o Partido Democrata dos EUA.

Por outro lado, em São Paulo, será concretizada a entrada do MPLA para a IS, onde tinha até aqui o lugar de observador. Esta entrada é apresentada como um sinal de incentivo à democratização de Angola.

Sugerir correcção
Comentar