Electrónicas em Lisboa no Número Festival

Música electrónica, da dançável à mais conceptual, com o ex-Kraftwerk Karl Bartos, o Depeche Mode Andrew Fletcher ou os alemães Senõr Coconut, Laub, Alva Noto e Pole, cinema com uma retrospectiva de Jim Jarmush, exposições e "workshops" são algumas das actividades do Número Festival que começa hoje, às 21h, no Fórum Lisboa - com uma mostra tecnológica e a exibição do filme "Three Seasons" de Tony Rui - e que se prolonga até 30 de Outubro.Nesta 4ª edição, o Festival Internacional de Música, Cinema e Tecnologia de Lisboa revela "persistência" porque, segundo o principal responsável, Dinis Guarda, "há uma tendência para os eventos em Portugal nascerem e não terem continuidade".Nas edições anteriores, o festival mostrou nomes históricos da música urbana (Patti Smith, Carl Craig, Julee Cruise), antecipou tendências (Miss Kittin, Fischerspooner, Chicks On Speed), tentou ser uma mostra do que mais significativo vai acontecendo no campo das electrónicas (Aphex Twin, Gonzales, Erlend Oye), revelou nomes do audiovisual ou da arquitectura (Michel Gondry, Chris Cunningham, Didier Fiuza Faustino) e tentou dar visibilidade a projectos portugueses.Um evento perfeito? Nada disso, diz Guarda. "Faz-se fazendo. Temos consciência de que estamos no início. O Festival Sónar de Barcelona começou a ter sucesso a partir da 6ª edição e está agora na 10ª. Nós estamos na 4ª. Necessitamos de crescer e aprender." As suas alusões são fáceis de explicar. O conceito deste ano anda à volta de noções como "Life Style Krisis - Novas Energias". Uma das ideias é questionar alguns dos discursos sobre Portugal. "Tem sido um ano aziago para a nossa auto-imagem, mas temos que valorizar as coisas de qualidade. Somos um país estranho, toda a gente diz mal. Essa ideia de que o português para ser reconhecido aqui tem que vingar lá fora tem que acabar. Já não há desculpas. Outros países periféricos conseguem visibilidade pela qualidade dos seus projectos."Para quê esperar pelo Estado?Como exemplo da atitude que quer cultivar, Guarda apresenta a própria feitura do festival: "Mesmo com apoios limitados, a ideia é entrar nos circuitos internacionais, mostrando que se fazem coisas de qualidade aqui." Para reforçar essa via, entre 20 e 30 de Novembro, vai efectuar-se um "Portuguese Festival" em Londres - uma espécie de prolongamento do Número Festival - com concertos e filmes portugueses. No próximo ano, a mostra terá lugar em Barcelona. "Para a edição deste ano, não tivemos praticamente apoios estatais ou da Câmara de Lisboa, que nem sequer nos respondeu, mas persistimos e arranjámos outros financiamentos. As instituições têm que funcionar com a sociedade civil, mas não podemos estar à espera do Estado para tudo. Mesmo com todas as dificuldades, estamos satisfeitos". A programação de música conhece o seu ponto alto nas noites de sexta e sábado, na Gare Marítima de Alcântara. Será aí que, ao longo da noite, em dois palcos, evoluirão uma série de projectos portugueses e estrangeiros. Na sexta, o destaque vai para Andy Fletcher dos Depeche Mode que tocará a solo durante uma hora, antes de integrar a formação das Client, uma dupla feminina que faz parte da sua editora. O pioneiro do tecno de Detroit, Derrick May, o alemão dos organismos electrónicos, Pole, o compatriota Alva Noto, os ingleses Animal Collective da editora Fat Cat e os portugueses Stealing Orchestra, X-Wife, Twokindermen e Anabela Duarte Digital Quartet são outros nomes a reter.No sábado, o alemão Karl Bartos, que integrou os Kraftwerk, deverá atrair os fãs do grupo histórico. O que é mais curioso é que, na mesma noite, vai actuar ao vivo o excelente projecto Senõr Coconut que ficou conhecido depois de ter criado, no álbum "El Baile Aleman", versões dos Kraftwerk em regime chá-chá-chá. O finlandês Vladislav Delay vem apresentar as canções dançantes do álbum "The Present Lover" do seu projecto paralelo Luomo, enquanto os alemães Laub vão expor a pop electrónica do álbum "Filesharing". Também vão tocar os portuguess Micro Audio Waves, Loosers, Mourah, Expander e Zentex.Antestreias e uma retrospectivaNo campo do cinema, o Fórum Lisboa e o cinema King irão receber, até dia 30, filmografias independentes e experimentais. Vai haver uma retrospectiva do norte-americano Jim Jarmusch com alguns dos seus filmes menos conhecidos e a antestreia de "Coffee & Cigarette", o seu último filme (King, dia 23, 22h). Em ante-estreia é também mostrado "Nós" de Cláudia Tomaz (King, dia 30, 22h). A exibição de vários filmes da produtora independente nova-iorquina Blow Up Films e Open City de Jason Kliot e Joana Vicente, que vão estar presentes, é outro dos destaques.No Fórum Lisboa, referência para uma retrospectiva dos ingleses Autechre e para uma exposição do arquitecto João Mendes Ribeiro, autor do Centro de Artes Visuais de Coimbra. "Workshops" (sobre "cidadania da informação", "música electrónica", "interactive sound design", "design serviços móveis" e "web games - flash games"), conferências (na FNAC do Colombo a 23 e 30 de Outubro) e uma mostra de novas tecnologias e robótica (multimédia, net arte e 3d), que vai decorrer no Fórum Lisboa, são outras das actividades programadas.

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