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Elia Kazan (1909-2003): Morreu o último dos gigantes do cinema americano

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O momento mais tenso da cerimónia dos Óscares de 1999 envolveu a entrega de um prémio de carreira. Normalmente, os Óscares honorários são ocasiões enfadonhas, mas desta vez o homenageado era Elia Kazan. Às portas do teatro onde decorria a cerimónia havia manifestações a apelar à plateia que fizesse uma pateada a Kazan, e contra-manifestações a saudar Kazan como um herói.O prémio foi anunciado por Martin Scorsese e Robert De Niro, que abraçaram Kazan e elogiaram eloquentemente a sua carreira. Grande parte da plateia levantou-se e ovacionou Kazan; alguns, como Steven Spielberg, aplaudiram discretamente o premiado; outros, como Ed Harris, não se mexeram. O episódio reflecte a atitude ambígua de Hollywood para com Elia Kazan, o último dos gigantes do cinema americano que morreu no domingo, em Nova Iorque, aos 94 anos. Kazan é unanimemente considerado um dos grandes cineastas americanos do século XX; os seus filmes incluem obras-primas como "Há Lodo no Cais" ou "A Leste do Paraíso"; a sua participação na escola do "método" revolucionou a arte da representação.Mas Kazan foi também o mais importante dos artistas de Hollywood que aceitou participar na "caça às bruxas" anti-comunista do senador Joe McCarthy nos anos 50; Kazan denunciou oito outros artistas como membros de organizações comunistas. Muitos em Hollywood nunca lhe perdoaram o papel de delator.Elia Kazanjoglous nasceu em 1909 em Constantinopla (hoje Istambul), filho de uma família grega da Anatólia. O pai, um vendedor de tapetes, levou-o para a América na infância. Agora americano, com o nome abreviado para Kazan, o nova-iorquino Elia não se interessou por tapetes mas pelo palco.Nos anos 30 envolveu-se no mundo do teatro. Com Lee Strasberg fundou o Actors' Studio, a escola de reputação quase mítica que influenciou várias gerações de actores americanos. O Actors' Studio é a casa do "método", uma escola que Kazan definia como "a transformação da psicologia em comportamento".Algumas produções encenadas por Kazan na Broadway tornaram-se lendárias, como "Um Eléctrico Chamado Desejo" (que depois adaptou ao cinema) ou "A Morte de um Caixeiro-viajante"; ele era o encenador favorito de dramaturgos como Arthur Miller ou Tennessee Williams. Em 1945, Kazan chegou a Hollywood com "Laços Humanos". Dois anos depois, ganhou o seu primeiro Óscar de melhor realizador com "A Luz é Para Todos". Venceria o segundo com "Há Lodo no Cais". Os seus filmes lançaram as carreiras de alguns dos grandes actores americanos - Warren Beatty, Jack Palance, Lee Remick, James Dean, Marlon Brando (deste último, Kazan disse "ele podia ter sido o [Laurence] Olivier americano se não se tivesse desleixado").A "lista negra"Ainda nos anos 30, Kazan aderiu ao Partido Comunista, integrando uma célula secreta dentro da companhia The Group Theater. O partido ordenou à célula que "tomasse o controlo" da companhia; Kazan recusou. O partido exigiu-lhe um acto de contrição e Kazan simplesmente deixou de ser comunista.Em 1952, teve de regressar a esse passado. O comité de Actividades Anti-Americanas do Congresso americano investigava a infiltração de agentes soviéticos na sociedade americana. Liderado pelo instável senador Joe McCarthy, o comité virou a sua atenção para Hollywood, intimando artistas a divulgar a sua associação a organizações comunistas e a denunciar outros.Nesta "caça às bruxas", muitos artistas foram parar à "lista negra" por terem sido denunciados ou por se recusarem a testemunhar. Kazan, inicialmente, recusou-se a falar, mas depois mudou de ideias. Disse ao comité que foi membro do Partido Comunista Americano entre 1934 e 1936 e deu o nome de outros oito membros do partido.Pouco depois, o Presidente Eisenhower desautorizou McCarthy, o comité foi extinto e a "caça às bruxas" desacreditada. Mas alguns artistas na "lista negra" continuaram a ter dificuldades em arranjar trabalho (alguns, como o argumentista Dalton Trumbo, arranjaram pseudónimos) - os delatores foram vetados ao desprezo pela comunidade de Hollywood. A carreira de Kazan continuou activa nos anos 50 e 60, num misto de admiração pelo seu trabalho mas ressentimento pelo seu papel na "caça às bruxas".Alguns dos seus filmes (em particular "Há Lodo no Cais") foram interpretados por críticos como justificações ou expiações das suas denúncias, mas Kazan nunca se arrependeu. Arthur Miller, citado pelo "New York Times", contou que Kazan lhe disse nos anos 50: "Não gosto de comunistas e não acho justo ter de abandonar a minha carreira para os defender. Desistia da minha carreira no interesse de alguma coisa em que acreditasse, mas não [do comunismo]."Depois de 1970, Kazan só realizou mais três filmes, e o cineasta reformado continuava a ser controverso em Hollywood. A ideia de lhe atribuir um Óscar de carreira foi rejeitada várias vezes, até que em 1999 a Academia decidiu mesmo homenagear Kazan. Então com 90 anos, frágil e pequeno, Kazan disse poucas palavras com uma voz sumida, e concluiu: "Acho que agora posso escapar-me."

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