Sonda Galileu mergulha para a morte

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Antes da Galileu, Júpiter nunca recebera a visita de uma sonda que andasse em órbita dele e das suas luas NASA

A sonda Galileu diz hoje adeus a Júpiter. Ao princípio da noite, vai mergulhar na atmosfera densa do planeta e ser destruída. Esta missão principiou há 14 anos, a 18 de Outubro de 1989, quando partiu para o espaço a bordo do vaivém Atlantis, e desde aí proporcionou aventuras q.b. aos cientistas. Maravilhou-os com belas fotografias, deu-lhes novidades científicas e também os assustou, com as provações por que passou.

A morte da Galileu é propositada. Chegou ao fim da vida. O combustível está a acabar-se e, sem ele, os cientistas já não serão capazes de controlar a sua trajectória, para que não colida com Europa, uma das luas de Júpiter. Como a Galileu descobriu que é provável haver debaixo da crosta gelada e repleta de fissuras de Europa um imenso oceano salgado, reforçando a possibilidade da existência de vida ali, a agência espacial norte-americana NASA não quer correr o risco de contaminar esta lua com micro-organismos da Terra. Mesmo tendo estando sujeita a 14 anos de intensa radiação de Júpiter e as suas luas, alguns seres microscópicos poderão ter resistido no interior da sonda.

Doze horas antes do mergulho fatal, espera-se que a sonda ainda envie dados para a Terra, que demorarão 50 minutos a chegar: pela primeira vez, recolherá dados da magnetosfera perto do planeta e do seu anel interior, muito fino. A sete minutos do impacto perder-se-ão as comunicações. Depois, já perto das oito da noite, a sonda mergulhará na atmosfera de Júpiter, na região equatorial, a 48,2 quilómetros por segundo - o que daria para ir de Nova Iorque a Los Angeles em apenas 82 segundos.

Novo aparelho para 2010?

Alegria e tristeza parecem ser os sentimentos de quem acompanhou a missão. "Foi uma missão fabulosa para as ciências planetárias e custa vê-la a chegar ao fim", diz Claudia Alexander, coordenadora do projecto da Galileu no Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA, na Califórnia. "Depois de ter sido os nossos olhos e ouvidos em redor de Júpiter, estamos a fazer figas para que, na hora final, a Galileu nos dê informações novas sobre o ambiente de Júpiter."

O astrofísico holandês Maarten Roos Serote, do Observatório Astronómico de Lisboa, que fez a tese de doutoramento no Observatório de Paris sobre a composição da atmosfera de Júpiter, mostra-se resignado com o fim da Galileu. "Ela deu o que tinha a dar. Foi uma missão fantástica, sem equivalentes até agora. Se houver dinheiro haverá mais. Pelo menos vontade há, para explorar questões científicas em aberto."

Antes da Galileu, Júpiter nunca recebera a visita de uma sonda que andasse em órbita dele e das suas luas, estudando exaustivamente o sistema joviano. Cinco sondas limitaram-se a passar por lá, seguindo viagem. A Pioneer 10 passou em 1973 e, no ano seguinte, foi a vez da Pioneer 11. As Voyager 1 e 2, ambas em 1979, também fizeram uma visita rápida. A Ulysses, da Agência Espacial Europeia e da NASA, que anda à volta do Sol, passou em 1992.

Além de ter sido a primeira sonda a fazer observações a longo prazo do sistema joviano, a Galileu enviou o primeiro módulo para a atmosfera de um planeta gasoso. Esse módulo, o Galileu Entry Probe, foi libertado pela Galileu cinco meses antes de chegar a Júpiter.

Os dois alcançaram o planeta ao mesmo tempo, em Dezembro de 1995, e foi de pára-quedas que o módulo entrou nas profundezas do planeta. A descida durou 57 minutos, durante os quais enviou dados sobre a composição e temperatura da complexa atmosfera, composta principalmente por hidrogénio. A 150 quilómetros de profundidade, o módulo desintegrou-se. Houve, no entanto, uma surpresa. Esperava-se encontrar vapor de água, mas, diz Maarten Roos Serote, afinal parece ser raro.

A Galileo teve de fazer uma passagem por Vénus e duas pela Terra, para ganhar balanço para a viagem até Júpiter. Nesse caminho, fez a primeira aproximação de uma sonda a um asteróide, o Gaspra, em Outubro de 1991. E em Agosto de 1993, ao passar pelo asteróide Ida, descobriu uma lua, baptizada Dactil - um fenómeno nunca antes visto.

Também fomos ficando a par da saga da antena principal de comunicações, que nunca abriu e obrigou os engenheiros a desenvencilharem-se com uma antena mais pequena, desenvolvendo novo "software" para que esta conseguisse mandar dados para a Terra. E que o gravador de dados era temperamental.

Chegada ao destino, a Galileu centrou atenções no planeta e nas suas luas principais - Io, Europa, Calisto e Ganimedes -, sem esquecer algumas das luas pequenas, nem os anéis. Em seis anos de observação, muitas foram as novidades. "A Galileu foi um sucesso científico retumbante", comenta Ian Halliday, um dos responsáveis Conselho de Investigação em Física de Partículas e Astronomia do Reino Unido.

Na hora de despedida, fala-se já da nova sonda, proposta pelo Laboratório de Propulsão a Jacto, para continuar as observações de Europa, Ganimedes e Calisto. Chamar-se-á Jupiter Icy Moons Orbiter e, se o projecto avançar, partirá depois de 2010.

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