Filarmónica de Amares lança CD para assinalar 150 anos

Andam a dar música há 150 anos. Por isso, numa data histórica como esta, não querem deixar as suas notas por partituras alheias. A Banda Filarmónica dos Bombeiros Voluntários de Amares promove no domingo, às 15h30, na Praça do Comércio de Amares, o I Encontro Internacional de Bandas Filarmónicas, com cinco colectivos. Paralelamente, o agrupamento lança o seu primeiro CD no final de Outubro. "Vivemos um momento ímpar, por isso tínhamos de festejá-lo com dignidade", sorri o presidente da instituição, José Fernandes Araújo.E não é para menos. Este ano de 2003 fica ainda marcado por quase duas dezenas de actuações, a homenagem ao fundador Ricardo Martins (a 29 de Março), a organização do I Festival Internacional Jovem de Música Filarmónica de Amares (a 26 de Abril) e uma exposição fotográfica e de espólio (aquando das festas concelhias de anto António, em Junho). Mas há mais: para 2004, está prevista a possibilidade da coninuação do festival filarmónico, a abertura de um museu na sede da Banda, sita na antiga Casa do Povo - cujos terrenos traseiros podem também servir, a médio prazo, para a edificação de um auditório de 350 lugares. "Muito provavelmente, a banda vai ficar com dívidas, mas não vamos deixar de viver as coisas com intensidade", repisa Fernandes Araújo.Essa intensidade é partilhada por grupos de amigos e pelo comércio local, pequenos bagos de uvas que no domingo vão ser essenciais para que o Encontro Internacional resulte em boa colheita. No final do espectáculo, e após a execução conjunta da marcha "Artave", a quinta de um amarense acolhe os grupos intervenientes, uma empresa oferece o vinho do banquete, o cozinheiro faz serviço de borla, os serventes são colegas e amigos, há padarias que cedem pão e bolos e o vídeo está a cargo de um fotógrafo da região. Basta haver "boa vontade" para receber as quatro filarmónicas convidadas - vêm de Vila Verde e Calvos, Póvoa de Lanhoso (ambas por questões de proximidade e de permuta de elementos), de Torres Vedras (chamada de Ponterrolense, uma das promessas mais jovens e promissoras) e do Rosal, Galiza (actual vencedora do CXVII Certame Internacional Ciudad de Valencia).Além de a banda estar em negociações com a autarquia para erigir em 2004 um eventual festival internacional de características anuais ou de dois em dois anos, na freguesia de Bouro, pretende criar um museu, num espaço onde, há quatro anos, chovia e era poiso de bichos (na recuperação, foram investidos 50 mil euros). A edilidade está a elaborar o projecto, que depois será candidatado a fundos comunitários. A exposição permanente vai contar com os instrumentos mais antigos do colectivo, a recolha dos temas musiciais interpretados ao longo de século e meio de História - está-se actualmente a investigar melhor o passado e a refazer arquivos - fotografias de maestros, instrumentistas e actuações e diversos emblemas. "O objectivo é tornar o local num ponto de passagem turístico do concelho, articular parcerias com agentes culturais e sociais e aproximar a juventude da realidade das bandas filarmónicas", salientou o presidente da Assembleia Geral, Adelino Manuel Domingues.Apostar nos mais novos - nomeadamente na sua formação musical inicial, na antiga Casa do Povo - é o alicerce deste grupo, outrora citado como da Feira Nova ou de Prozelo, em alusão ao seu fundador Ricardo Marcelino Martins, abade da freguesia de Prozelo entre 1842 e 1887. Dos cerca de 70 elementos da Banda dos Bombeiros Voluntários de Amares, 35 formam a Orquestra Juvenil, criada em 1998, sendo um em cada três pertencente àquele concelho. E até o maestro dos séniores é jovem - Vítor Matos, formado no Conservatório de Música do Porto e a estudar em Paris com o clarinetista Alessandro Carbonare, tem 26 anos.A subida de qualidade do agrupamento, que deixou de vestir o carácter militar e assalariado, pode ser ouvida no CD "150 Anos", cujas sete faixas foram gravadas em três dias no vizinho e beneditino Mosteiro de Rendufe. O primeiro álbum, a ser apresentado no domingo - conta com os conhecidos "O Fantasma da Ópera" ou "Romarias de Maria" -, sai em Outubro e espera por um mecenas que pague o CD, para que consigam ser pagas parte das despesas do aniversário e da renovação contínua dos instrumentos. Só o preço de uma tuba ronda os 10 mil euros, quase um terço do subsídio anual à colectividade."Tem de se funcionar forçosamente assim. O Governo não tem política para as bandas filarmónicas, que são orquestras que o Estado não tem e não se as encara como um potencial produto cultural", acentuou o vice-presidente da direcção, António Araújo.

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