Milosevic nega envolvimento no massacre de Srebrenica
O ex-Presidente sérvio, acusado pelo TPIJ de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra na Croácia (1991-1995), Bósnia (1992-1995) e Kosovo (1998-1999), garantiu não ter tomado parte naquela que é considerada a maior atrocidade da história da Europa desde a II Guerra Mundial.
O assassínio de homens e rapazes pelas forças sérvio-bósnias no enclave muçulmano de Srebrenica, constituído como "área segura" pelas Nações Unidas, constitui o pior acto do brutal conflito na Bósnia.
"Assumo que seja claro, para si e para todos os outros, que nem a Sérvia nem eu tivemos nada a ver com os acontecimentos de Srebrenica", disse Milosevic ao juiz-presidente do TPIJ, Richard May.
Milosevic é acusado de ser responsável pelo massacre de Srebrenica, juntamente com os dois homens mais procurados pelo tribunal, o líder de guerra sérvio-bósnio Radovan Karadzic e o chefe das operações militares Ratko Mladic.
Os procuradores do TPIJ alegam que, a partir de Belgrado, Milosevic ajudou Mladic e Karadzic a impor o controlo sérvio numa vasta área do território disputado na vizinha Bósnia, através da expulsão ou assassínio dos muçulmanos.
Milosevic, que está a ser julgado em Haia desde Fevereiro de 2002, representando-se judicialmente a si próprio, voltou hoje à barra do tribunal, após três semanas de interregno estival.
O TPIJ ouviu hoje uma testemunha que admitiu ter participado no massacre de Srebrenica. Drazen Erdemovic, condenado a dez anos de prisão pelo TPIJ em 1996 (a pena foi comutada para metade em 1998), testemunhou perante o tribunal que "para alguém fazer algo como aquilo [o massacre], as autoridades têm de ter tido conhecimento". "Tem de ter ficado claro para qualquer um dos envolvidos que alguém mais alto estava por trás", acrescentou, quando questionado por Milosevic sobre a presença de "alguém da Sérvia" no local dos acontecimentos.
Erdemovic, um croata da Bósnia alistado nas forças sérvias, testemunhou também contra o general Radislav Krstic, recentemente condenado a 46 anos de prisão por genocídio (a maior pena até agora atribuída pelo TPIJ).
Erdemovic contou como os 40 a 50 soldados da sua unidade receberam treino militar em Pancevo, em 1994, e confirmou que as armas e uniformes que usavam vinham da Sérvia. Enquanto Presidente da Sérvia, Milosevic negou sempre que a Sérvia estivesse envolvida nos conflitos das vizinhas Croácia e Bósnia.
Cerca de oito mil muçulmanos bósnios foram executados após a tomada de controlo da zona de segurança da ONU em Srebrenica pelas forças nacionalistas sérvias de Radovan Karadzic e Ratko Mladic, a 11 de Julho de 1995. O papel e a acção dos elementos da organização internacional também têm sido bastante criticados.