Filme sobre genocídio arménio causa polémica na Turquia

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Nenhum outro filme sobre a imagem da Turquia terá gerado tanta polémica, à excepção de O Expresso da Meia-Noite DR

"Ararat", o filme do cineasta canadiano de origem arménia Atom Egoyan que evoca o genocídio arménio em 1915, foi adquirido por um distribuidor turco, mas a sua estreia tem sido sucessivamente adiada, segundo o diário francês "Le Monde". Nenhum outro filme sobre a imagem da Turquia terá gerado tanta polémica, à excepção de "O Expresso da Meia-Noite" (1978), de Alan Parker, com o seu retrato condenatório das prisões turcas.

A perspectiva de um novo debate no Congresso americano sobre um projecto de resolução que reconheça o extermínio arménio veio suspender a apresentação de "Ararat" na Turquia. O filme teve uma exibição especial na Biblioteca do Congresso em Outubro do ano passado perante congressistas e diplomatas. O projecto de resolução é algo pelo qual os "lobbies" arménio-americanos se têm batido - mas é também da sua aprovação, e da normalização das relações americano-turcas, que está dependente a distribuição do filme na Turquia, prevista para o Outono.

O percurso tem sido tortuoso: o filme (em exibição nas salas portuguesas) foi mostrado no Festival de Cannes de 2002, sob protesto das autoridades turcas. A estreia em França, em Setembro do ano passado, levou a embaixada turca em Paris a reafirmar num comunicado a posição oficial de Ancara, que não reconhece o genocídio de um milhão de arménios pelo exército otomano: os "acontecimentos que tiveram lugar no período da I Guerra Mundial em circunstâncias excepcionais (...) fizeram vítimas no conjunto da população da região, tanto muçulmanos quanto arménios".

Contudo, em Fevereiro, o anúncio da compra dos direitos por uma companhia turca, a Belge film, especializada na distribuição de autores europeus, parecia indicar uma vontade de abertura. Suscitando um grande debate sobre liberdade de expressão, o lançamento de "Ararat" foi encarado como uma oportunidade política para demonstrar, segundo os seus partidários, uma "lição de tolerância". Em Abril, no entanto, o Festival de Cinema de Istambul recusou-se a programar "Ararat", sob o pretexto da sua falta de "valor artístico", apoiando-se em críticas desfavoráveis na imprensa internacional. O próprio Conselho de Segurança nacional interveio, declarando que a apresentação do filme era "inconveniente", devido à "hostilidade anti-turca" do argumento.

Se o patrão da Belge Film, Sebahattin Çettin, acredita que "o cinema deve contribuir para o desenvolvimento das relações turco-arménias" e que a projecção do filme deverá "provar a tolerância da sociedade turca", também admite que convidou Egoyan para ir à Turquia "explicar" a sua obra, esperando obter do realizador "desculpas públicas", à semelhança de Alan Parker, 25 anos depois de "O Expresso da Meia-Noite".

Çettin aprovou mesmo a censura de um plano de dez segundos, em que uma mulher arménia é violada por um soldado otomano.

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