Cientistas italianos conseguem clonar o primeiro cavalo

Chama-se "Prometea" e é a primeira égua clonada da história. Nascida há dois meses, a 28 de Maio, a pequena égua, que recebeu um nome inspirado em Prometeu, o deus grego que roubou o fogo escondido do Olimpo para o dar aos homens, também deu algo muito importante à equipa do Laboratório de Tecnologia da Reprodução, em Cremona, Itália: este é o primeiro mamífero clonado em que o dador do material genético é a própria mãe que o gerou. Para a equipa italiana, este facto pode significar uma grande evolução nas técnicas de clonagem de animais.

Já se clonaram ovelhas, ratos, porcos, coelhos, vacas, cabras, gatos e, há pouco tempo, uma mula. Todas estas clonagens foram conseguidas através da técnica de transferência do património genético de células adultas, ou somáticas, para um ovócito esvaziado de núcleo. Mas a "Prometea" não é só mais uma espécie de mamíferos a juntar à lista. Ela nasceu graças a uma técnica algo inovadora, que a equipa italiana, coordenada por Cesare Galli, acredita poder trazer mais sucesso à clonagem de animais.

"Conseguimos provar que é possível obter uma gravidez viável numa mãe de acolhimento que também é a dadora do material genético. O clone é geneticamente idêntico à sua mãe, o que pode fazer com que o sistema auto-imune da mãe reconheça mais facilmente o feto, contribuindo para uma gravidez mais saudável."

Geralmente, a mãe de acolhimento, em cujo útero cresce o clone, apenas recebe o embrião, num estado evolutivo ainda muito precoce. Mas o material genético implantado no ovócito não era seu. No caso da "Prometea", o ADN que deu origem a este bebé foi retirado de uma célula da pele da própria mãe que a gerou. Esse material implantado num ovócito de uma outra égua, previamente desprovido de núcleo, e depois induzida a fusão entre ambos em laboratório. Quando a divisão embrionária atingiu a fase de blastocisto, ao sexto dia de gestação, foi então colocado no útero da égua. Nove éguas receberam embriões, mas apenas quatro engravidaram. Dessas quatro, conta a equipa no artigo da "Nature", duas abortaram muito prematuramente e outra a meio da gestação. A mãe de "Prometea" levou a gravidez ao fim, completando os 336 dias de gestação. O primeiro cavalo clonado nasceu de parto normal.

A "Prometea" é dócil e alimenta-se da mão de quem lhe estender um punhado de feno. Segundo o repórter da BBC Online, Fergus Walsh, que a visitou no estábulo em Cremona, não se importa nada com câmaras fotográficas e de filmar. "Tal como a ovelha 'Dolly', 'Prometea' não se mostra assustada com o público e é fotogénica e extrovertida face às câmaras", conta Walsh.

"A clonagem de cavalos pode ajudar a perpetuar as linhas de campeões, bem como controlar certas características genéticas como o carácter apto para o treino ou para uma boa performance desportiva", conclui a equipa.

Apesar de todos os sucessos em torno da clonagem de mamíferos, os cientistas continuam a confrontar-se com vários problemas, não apenas na gestação dos animais, mas também durante a sua vida. Envelhecimento precoce e doenças associadas, como artrite reumatóide e problemas respiratórios, são alguns dos males de que sofreu, por exemplo, a "Dolly". A ovelha mais famosa de sempre teve de ser abatida, no início deste ano. Ainda esta semana cientistas de Cambridge anunciaram que os animais clonados sofrem alterações nos mecanismos genéticos, que fazem com que não se consigam desenvolver de forma normal.

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