Massacres continuam em Ituri, no nordeste do Congo

Foto
Os soldados internacionais fazem o que podem para garantir a tranquilidade Jack Guez/AFP

No Congo, quase não há dia sem mortes. As chacinas no nordeste do país continuam, com o contingente europeu da Operação Artemisa impossibilitado de ir além da sua missão em Bunia. Tudo o que os soldados fazem, além de garantir a tranquilidade na cidade, é ouvir os relatos horríveis dos refugiados.

"Se dependesse de nós, já estaríamos lá em cima para intervir", diz um jovem militar francês a Emmamuel Serot, repórter da AFP. Fala do assassínio de uma centena e meia de pessoas, a mortandade mais recente, na sexta-feira, nas aldeias de Drodro e Largo, a 80 quilómetros a norte, atribuída a milicianos da comunidade lendu.

Os protagonistas dos confrontos são essencialmente duas etnias, os hema e os lendu, cuja rivalidade, adormecida até ao início da guerra civil, despontou, cruel, assanhada, impiedosa, depois da partida do contingente ugandês. A luta provocou só desde 1999 mais de 50 mil mortos e 500 mil deslocados, esses mesmo que quase todos os dias aparecem à beira dos soldados europeus com histórias de querer esquecer.

"O pai de família que sou não pode deixar de ficar revoltado com estas brutalidades; conseguimos por vezes evitar ajustes de contas, mas não é essa a nossa missão", diz o sargento Patrick Bertrand, que comanda uma pequena força de 36 homens, todos de 20 anos ou pouco mais do que isso.

Os dias para os soldados da Artemisa são uma sucessão de relatos de horrores, uns sobre os outros, diz Serot. Um refere uma criança decapitada, outro uma menina de três anos violada e empalada viva, outro ainda uma mulher de sexo mutilado. Tudo longe dali, em lugares fora da área de actuação da Artemisa.

Mas em Bunia também acontecem às vezes brutalidades indizíveis. Terça-feira à noite, por exemplo, ouviram-se tiros nos arredores. Pouco depois, uma criança chegava ao posto de Bertrand retalhada por golpes de machado. Cinco cadáveres, alguns muito mutilados, tinham sido entretanto descobertos na cidade, resultado, segundo o repórter, de ajustes de contas, provavelmente entre milicianos.

Os soldados internacionais fazem o que podem para garantir a tranquilidade. Nas estradas à volta da cidade, por exemplo, páram carros e motos para os fiscalizar, apreender armas. Às vezes entram também em casas suspeitas, com base em informações de populares. Mas são poucos, apenas 1,850, de nove países, só 500 deles combatentes, com muitas dificuldades logísticas e uma área demasiado grande para vigiar.

O caso dos massacres de sexta-feira em Drodro e Largo ilustra as dificuldades. Nesse dia, milhares de atacantes assaltaram três localidades na volátil região do Nordeste do Congo, com morteiros, "rockets" e espingardas de assalto, matando pelo menos 150 pessoas, de acordo com o relato do comandante do grupo rival, em declarações à Reuters, em Nairobi.

Segundo a testemunha, Saab Rafiki, um hema, os assaltantes eram em número não inferior e 3 mil, a maior parte lendus. Soldados governamentais congoleses terão participado também nos ataques - a Reuters não conseguiu confirmar a notícia junto do Governo transitório congolês, formado recentemente.

Sugerir correcção
Comentar