Programa Acontece vai mesmo desaparecer da RTP2

Foto
Almerindo Marques setenciou a morte ao Acontece na quinta-feira Rui Gaudêncio/PÚBLICO

O programa Acontece tem os dias contados. A administração da RTP confirmou que o telejornal cultural, no ar há nove anos, já não terá lugar no futuro segundo canal e será substituído por um magazine com um formato ainda a definir. O autor e apresentador do Acontece, Carlos Pinto Coelho, declarou-se "surpreso" pela decisão e "perplexo" por ter sido a administração a anunciá-la e não a direcção de Informação da RTP.

"Quem me informa na praça pública é o presidente do Conselho de Administração e não a direcção de Informação que está silenciosa. Daí a minha perplexidade", disse ao PÚBLICO Carlos Pinto Coelho que, até ontem ao final da tarde, não tinha sido contactado por nenhum responsável da RTP sobre o assunto. A directora-adjunta de informação, Judite de Sousa, declarou ontem não ter comentários a fazer sobre a questão e o director, José Rodrigues dos Santos, encontra-se de férias, ausente do país.

Na última emissão do Acontece, antes da habitual pausa de Verão, Carlos Pinto Coelho anunciou o regresso do programa a 11 de Agosto, conforme indicações que diz ter recebido do director de Informação. Estreado em Setembro de 1994, o telejornal cultural iria completar duas mil emissões em Outubro, mas não deverá chegar a esse número, dado que a nova RTP2 deverá começar no início desse mês.

O desaparecimento deste espaço diário dedicado à cultura - caso único na Europa - foi confirmado pelo presidente da RTP, Almerindo Marques, na quarta-feira, à margem da apresentação pública da nova imagem da estação e de um ano de reestruturação na empresa. Almerindo adiantou que o Acontece será substituído no futuro canal Conhecimento (designado até agora por canal Sociedade) por um magazine cultural com um formato a definir.

Quanto a Carlos Pinto Coelho, o presidente da RTP referiu que o jornalista apresentou um pedido de rescisão do contrato que está a ser avaliado. A adesão ao plano de rescisões em Setembro de 2002 foi confirmada pelo autor do Acontece, mas afirma que até agora não recebeu qualquer resposta. "Dezenas de colegas apresentaram na mesma data propostas de rescisão, já obtiveram resposta e até já se foram embora. No meu caso não me responderam em dez meses", disse o jornalista que trabalha na RTP há 26 anos.

Almerindo Marques setenciou a morte ao Acontece na quinta-feira, mas há vários meses que o programa está sob ameaça de extinção. Em Fevereiro deste ano, o ministro da Presidência Morais Sarmento, que tutela a comunicação social, disse, no parlamento, que os custos da emissão eram tão altos que ficaria mais barato pagar uma volta ao mundo a cada um dos telespectadores do Acontece do que produzir o programa. "Nessa altura, muita gente me disse que era a sentença de morte, mas a administração garantiu-me que tinha muita consideração pelo programa e que era uma bandeira de serviço público, por isso estou surpreso com este anúncio", revela o apresentador do Acontece que, desde quarta-feira à noite, tem recebido telefonemas de apoio de pessoas "da política, da cultura, do jornalismo e até de pessoas do estrangeiro".

Protestos contra fim de O Lugar da História

O Lugar da História - outro dos programas da actual RTP2 ameaçado na futura grelha - continua a receber apoio dos cibernautas que têm assinado a petição "on-line" contra o fim daquele espaço televisivo. Desde a semana passada até ontem à tarde, subscreveram o protesto 3332 nomes que não querem ver o fim do único programa sobre história da televisão generalista.

O director do Museu Nacional de Arqueologia, Luís Raposo, enviou, por seu lado, uma carta ao ministro da Presidência e à administração da RTP em que manifesta "estranheza e revolta" face à decisão. "Se pudesse vislumbrar alguma racionalidade económica nesta medida - mesmo que a nível cultural não concordasse com ela - mas é um programa que já era feito com gastos mínimos, por isso, é incompreensível", afirmou ao PÚBLICO Luís Raposo. "Por dificuldades orçamentais e operacionais, o programa já quase só comprava produções no estrangeiro, embora fossem de qualidade", lembra.

Mesmo em relação ao Acontece "não se percebe que tipo de economia se pode fazer se é para criar outro [magazine]", acrescenta o mesmo responsável, considerando que decretar o fim dos dois programas é um "acto muito danoso para a cultura portuguesa".

Sugerir correcção
Comentar