Ex-jornalista do "New York Times" quebra silêncio

O ex-jornalista do diário "The New York Times" que se demitiu no dia 1 devido a uma acusação de plágio, Jayson Blair, pede que não se acredite em tudo o que se escreve nos jornais. Numa entrevista publicada na revista semanal norte-americana "Newsweek", Blair diz também que está a viver "uma série de emoções, que vão da culpa à vergonha, à tristeza, à traição, à liberdade e à gratidão aos que ficaram ao [seu] lado".Após duas semanas de silêncio mediático, Blair começou no fim-de-semana a falar publicamente sobre as suas fraudes profissionais, que abalaram a imagem do "New York Times", um dos jornais mais prestigiados dos Estados Unidos. Saído recentemente de uma clínica no estado do Connecticut especializada em problemas de álcool e de droga, segundo a "Newsweek", o ex-jornalista contou entretanto à CNN que assinou contrato com um agente literário, David Vigliano, para ponderar ofertas para escrita de livros e filmes."Estou arrependido do que fiz. Tenho esperança de que outros aprendam com os meus erros", disse numa entrevista telefónica à cadeia de televisão norte-americana. "Espero escrever e partilhar a minha história para poder ajudar outros a melhorar."A comunicação social norte-americana tem sugerido que questões de cor de pele e favorecimento pessoal podem ter permitido o percurso fraudulento de Jayson Blair no "New York Times", apesar do seu "cadastro" de erros. O ex-jornalista também trabalhou no "Boston Globe", o qual veio entretanto (depois de rebentar o escândalo com "The New York Times") dizer ter detectado problemas nos seus textos.A CNN conta que um dos directores do "New York Times", Geral Boyd, é negro e está a tentar diversificar o seu pessoal. Além disso, há também referência ao facto de Blair ser amigo próximo de uma colega nascida na Polónia, a terra natal da esposa do director, Howell Raines."Estão a ser feitas muitas insinuações: que porque sou negro Gerald Boyd era meu mentor; e que porque a minha grande amiga Zuza Glowacka é polaca, eu estava a tentar obter favorecimento de Howell Raines. As pessoas vão ficar surpreendidas quando se souber a história toda", disse também à CNN.Segundo a "Newsweek", Jayson Blair é um mitómano de longa data, que desde o princípio da sua actividade mentiu e cometeu múltiplos atentados de outro tipo à deontologia, a maior parte dos quais foram sendo descobertos, mas sem que isso tivesse, até agora, provocado consequências para a sua carreira. Durante uma tumultuosa reunião da redacção na semana passada, o director fez saber que não tinha intenção de se demitir. Fundado em 1851, "The New York Times" tem 1200 jornalistas, 81 prémios Pulitzer e 3,2 milhões de leitores por semana.Um outro célebre falsificador da imprensa dos Estados Unidos, Stephen Glass, que se demitiu do semanário "New Republic", em 1998, após ter inventado dezenas de reportagens, acaba de publicar um livro, "O fabulista", e corre actualmente os palcos da televisão para o promover."Le Monde" publicou três textos com problemasO responsável do suplemento do "New York Times" editado semanalmente pelo diário francês "Le Monde", Eric Le Boucher, afirmou entretanto à agência AFP que o jornal publicou em Abril e Maio três artigos com erros assinados por Jayson Blair.Em acordo com "Le Monde", o "New York Times" publicou uma rectificação acompanhada de pedido de desculpas aos leitores, no suplemento anglófono do "Monde" datado de domingo/segunda-feira. Uma nota do director recorda o caso de Jayson Blair, cujo trabalho desde Outubro foi escrutinado por um grupo de jornalistas, que detectaram pelo menos 36 artigos, entre 73, que "continham plágios, declarações erróneas e enganos sobre os locais de reportagem, ou uma combinação destes".Os três artigos em questão relatavam aspectos à margem do conflito no Iraque. Um evocava um cemitério militar onde Blair não foi, o segundo a família de um soldado que não foi visitada, o terceiro uma falsa reportagem na Virgínia sobre o trabalho dos militares encarregues de anunciar a morte dos soldados.No âmbito de um acordo de parceria existente desde Abril de 2002, "Le Monde" publica todos os sábados, na sua edição de fim-de-semana, "o melhor do 'New York Times'", um suplemento de 12 páginas em inglês.

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