Torne-se perito

Equipa da RTP assaltada e agredida em Bagdad

Os enviados da RTP em Bagdad, Carlos Fino e Nuno Patrício, foram ontem agredidos por uma multidão furiosa, depois de terem sido roubados por homens armados, no centro de Bagdad. No dia em que os jornalistas finalmente puderam andar pela capital iraquiana sem sinais dos funcionários do Ministério da Informação que habitualmente os controlavam, a equipa da RTP acabou por se ver num "exemplo que traduz a situação" de falta de poder em Bagdad. Como disse Carlos Fino: "É um sinal de que o regime de Saddam Hussein está a chegar ao fim."O repórter contou depois na emissão da RTP como, na manhã de ontem, o carro em que seguia a sua equipa, juntamente com uma jornalista búlgara, e atrás de um automóvel da SIC - "Andávamos juntos para ser mais seguro" -, foi apanhado num tiroteio num cruzamento, a cerca de 3,5 quilómetros do hotel Palestina. O primeiro veículo ainda conseguiu fazer inversão de marcha, mas o carro da equipa da RTP não. Os três repórteres foram retirados à força do automóvel por homens armados com metralhadoras Kalashnikov e roubados - segundo Carlos Fino, este era o objectivo do ataque: "Levaram muitos dólares, grande parte dos objectos de trabalho e objectos pessoais." Mas começou entretanto a aproximar-se "uma multidão, eram cerca de 200 pessoas". "Gritámos que éramos europeus, que não éramos americanos, mas eles nem ouviram. Queriam-nos fazer de bodes expiatórios." O jornalista da RTP falou da sensação "não de medo, era uma sensação como devem ter os carneiros quando vão ser mortos - as pancadas são tão grandes que anestesiam". Concluindo: "Estivemos quase a ser linchados."O repórter de imagem Nuno Patrício, com um olho inchado, deu também a sua versão do que passou: "Fui arrastado, levei murros e coronhadas, mas felizmente o colete à prova de bala sempre protege alguma coisa..." Nuno Patrício disse ainda qual a imagem de que mais se vai lembrar: "A de um velho que vinha direito a mim com uma grande faca com uma ponte recurvada, quando outro elemento o impediu." Carlos Fino explicou que o ataque se deu perto da sede do Baas e que terão sido alguns elementos do partido no local a evitar que a situação piorasse. Militares americanos no hotel PalestinaAs tropas norte-americanas chegaram entretanto ao hotel Palestina, casa e escritório para a maioria dos jornalistas estrangeiros em Bagdad - e muito perto do local onde iraquianos tentavam, entretanto, derrubar uma estátua de Saddam Hussein. Os "marines" entraram e revistaram os quartos, sem disparar um só tiro. Quando um jornalista perguntou a um deles se sabia onde estava, teve, segundo a Reuters, como resposta: "Não faço ideia. Disseram-me para sair e evacuar o edifício." Na véspera, o hotel tinha sido atingido por um míssil norte-americano, matando dois jornalistas e deixando três feridos e atraindo fortes condenações: a Federação Internacional de Jornalistas, sediada em Bruxelas, avisou que ataques deliberados contra jornalistas "são sérias violações da lei internacional", referindo-se aos ataques ao Palestina e à delegação da Al-Jazira em Bagdad, que ocorreu também anteontem e provocou a morte de um operador de câmara da televisão qatari.Logo na primeira semana de guerra, uma outra equipa da televisão estatal portuguesa esteve, durante quase dois dias, detida no Iraque pela polícia militar norte-americana, sob acusação de espionagem. Luís Castro e Vítor Silva estavam em Najaf, poucos quilómetros a sul de Kerbala, onde havia combates, quando foram detidos e interrogados. "A polícia militar americana interrogou-os, espancou Luís Castro e acusou-os de espionagem. Os oficiais foram intransigentes, não quiseram sequer acreditar nos documentos que lhes apresentaram", contou na altura o director da RTP, José Rodrigues dos Santos.

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