Carvalhas desafia Governo a apresentar Orçamento Rectificativo

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O secretário-geral do PCP escolheu ontem a capital do distrito de Aveiro para lançar uma série de reptos ao Executivo PSD-CDS Tiago Petinga/Lusa

Desafios ao Governo e à ministra das Finanças no quadro da economia nacional, "puxões de orelhas" ao Partido Socialista em matéria de revisão do sistema político, reforço da censura à "guerra de rapina" travada no Iraque, saudações ao povo palestiniano e à opinião pública norte-americana que se ergue contra George W. Bush. Foi com uma intervenção longa e apontada em várias direcções que o secretário-geral do PCP encerrou ontem, em Aveiro, a 5ª Assembleia Regional do partido.

Aplaudido antes e depois de discursar, Carlos Carvalhas concluiu que o PCP "incomoda e vai continuar a incomodar": "Não vamos ultrapassar os problemas com uma varinha de condão, mas há razões para continuar a lutar", afirmou.

O secretário-geral do PCP escolheu ontem a capital do distrito de Aveiro, que considera ser "o exemplo emblemático da falência do modelo de desenvolvimento escolhido" pelo Governo, para lançar uma série de reptos ao Executivo PSD-CDS. Os desafios foram, fundamentalmente, na direcção da ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, a quem Carlos Carvalhas propõe que "reveja a meta do défice e a ultrapasse". "Desafiamos a senhora ministra a aumentar o investimento reprodutivo público, a apresentar um novo Pacto de Estabilidade em Bruxelas, e a dizer que precisamos de instrumentos que nos permitam ultrapassar a recessão. Também desafiamos o Governo a apresentar um orçamento rectificativo e medidas de apoio às pequenas e médias empresas para que possam ser lançadas as bases para o relançamento da actividade económica nacional", apelou Carvalhas, que vê o país "confrontado com contra-reformas retrógradas".

"Hoje as estatísticas dizem que estamos em recessão técnica e real. Em vez de contrariarmos a política neoliberal que vinha do passado, juntámos crise à crise, o déficit foi o alfa e o ómega da política económica", defendeu o secretário-geral do PCP que exortou depois os comunistas "à luta, denúncia, intervenção, alternativas e massas nas ruas".

Carlos Carvalhas apontou ainda baterias contra o PS, acusando os socialistas de se terem aliado ao PSD para a revisão do sistema político, da lei dos partidos e da lei de financiamento dos partidos, "sem respeitar a soberania dos militantes". "O PS vai por um mau caminho e faremos tudo para lutar contra este processo", avisou.

A "guerra que afecta todos"

Perante os seus camaradas de Aveiro, Carlos Carvalhas não podia deixar de fazer referências sobre a guerra no Iraque, a guerra "que afecta todos e traz à memória ecos de um passado longínquo, de ocupação de território, de cruzadas, de força bruta".

Após nove dias de conflito, o balanço do líder comunista é inequívoco: "Esta não é uma guerra limpa, cirúrgica, com trombetas ou arcos do triunfo, mas de morte, sangue, medo, raiva e inocentes sacrificados". Em suma, "é a guerra de Bush e do petróleo", acusa Carvalhas, criticando "o cinismo dos que fazem cálculos sobre a retoma da bolsa e as negociatas da reconstrução", o "mesmo cinismo de Durão Barroso, ao dizer que Portugal já ganhou ao apoiar Bush, por garantir a NATO em Oeiras".

Ainda em torno da "guerra de rapina" instalada, o secretário-geral do PCP apresentou ontem "saudações ao povo palestiniano e às forças da paz que, em Israel, lutam contra a política criminosa de Ariel Sharon", bem como à "opinião pública norte-americana que se levanta contra Bush". Porque "é necessário que a opinião pública se continue a ouvir para isolar os falcões", salientou Carlos Carvalhas, frente a uma plateia comunista que se ergueu em uníssono para gritar "paz sim, guerra não!"

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