E mais: tinha triunfado em S. Mamede de Infesta, uma secção de Matosinhos (Narciso preside à Câmara Municipal local) onde nem sequer tinha apresentado lista; venceu em todas as secções da cidade do Porto, na Póvoa de Varzim (o líder da Concelhia apoiava Narciso) e na maioria dos concelhos da área metropolitana. Matosinhos e Vila do Conde foram as excepções. Assis obteve 3844 votos, contra 3406 de Narciso e, assim, vai ao congresso da Federação já eleito presidente.

No discurso da vitória, Assis frisou que as eleições no Porto "deram um sinal ao partido que é preciso abrir-se e proceder à renovação dos protagonistas". Na plateia estavam Carlos Lage, Nuno Cardoso, Orlando Gaspar e outras figuras que, na óptica de Assis, "não se resignaram" contra o peso dos apoiantes de Narciso. Este, recorde-se, tinha o apoio expresso de Fernando Gomes e Mário Almeida e da maioria dos deputados eleitos pelo distrito do Porto, designadamente, José Saraiva, Renato Sampaio, Alberto Martins, Jorge Strecht e Augusto Santos Silva.

"Este resultado vai permitir o relançamento do PS a nível nacional. As pessoas estavam atentas ao que se passava no Porto . E sabem que o PS pode ser um partido aberto à sociedade", adiantou o vencedor. Aliás, aproveitando o tom do discurso de Assis, Nuno Cardoso anunciou, desde já, que "uma equipa está a trabalhar para fazer um novo projecto de governação da cidade"

Narciso Miranda, por seu lado, considerou "surpreendente" a adesão dos militantes - "ultrapassou os oitenta por cento"- e prometeu continuar na vida política a "lutar contra a direita". O candidato derrotado disse que "havia a obsessão de derrotar Narciso Miranda. Espero que agora essa mobilização seja colocada, no combate aos adversários do PS", rematou.

Ninguém oficialmente o assume. Mas a verdade é que a direcção nacional do PS, sobretudo o sector mais próximo do líder do partido, ficou bastante satisfeita com o resultado de Francisco Assis no Porto pelo que isso significou, na sua análise, de vontade de renovação expressa pela base militante do partido.

Há quem não esqueça, também, que Narciso Miranda se constituiu recentemente no porta-voz da revolta autárquica socialista contra o projecto da direcção do partido para se limitarem por via legislativa os mandatos executivos no poder local.

Os interlocutores do PÚBLICO sublinham também outros resultados, como o de Amélia Antunes em Setúbal (que derrotou o recandidato Alberto Antunes), o de Alberto Souto em Aveiro (o presidente da câmara tinha vantagem sobre o candidato do "status quo", Afonso Candal), e ainda o susto que que Mota Andrade apanhou em Bragança antes de ser eleito.

Oficialmente, por parte do porta-voz nacional do PS, Paulo Pedroso, o comentário é só um, e adapta-se a qualquer circunstância, seja quem for o vencedor: "Respeitamos plenamente a vontade expressa pelos militantes do partido."