Sucesso dos alunos depende mais dos professores do que do contexto sócio-económico

Não são as condições sócio-económicas mas o “factor humano” o que faz a diferença no sucesso dos alunos. Só assim se justifica que escolas de concelhos considerados desfavorecidos tenham bons resultados, quando comparadas com outras de zonas ricas. O grau de desenvolvimento de uma região não é determinante; as pessoas que trabalham em cada um dos estabelecimentos de ensino sim — conclui Valadares Tavares, professor catedrático do Instituto Superior Técnico, num trabalho para a Sedes.

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Não são as condições sócio-económicas mas o “factor humano” o que faz a diferença, diz o estudo Miguel Madeira/PÚBLICO

De que é que depende o sucesso dos alunos? Por que é que escolas em concelhos mais desfavorecidos, do ponto de vista sócio-económico, têm resultados semelhantes às que se situam nos mais desenvolvidos, como Lisboa ou Porto? Porque tudo depende do factor humano, afirma Luís Valadares Tavares, coordenador de um estudo — elaborado para a Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (Sedes) — sobre assimetrias regionais do desempenho educativo.

O trabalho é hoje apresentado em Lisboa. O ponto de partida foram as notas, a Matemática e Português, obtidas em 2002 nos exames nacionais do 12º ano.

As escolas queixam-se de falta de meios, mas não é esse investimento que faz a diferença, diz Valadares Tavares. Professor catedrático do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, e antigo presidente do Comité de Educação da OCDE, está convencido de que a maioria das escolas secundárias têm os mesmos recursos materiais e recebem o mesmo orçamento. Por isso, têm condições iguais para trabalhar.

Então, o que é decisivo? Os recursos humanos, responde. “É o entusiasmo, o desempenho dos conselhos executivos e dos professores que fazem a diferença.” Tudo depende da oferta educativa. Quanto ao contexto sócio-económico em que os alunos vivem, o coordenador do estudo diz que acaba por ser pouco significativo, uma vez que a correlação com os níveis de desempenho é baixa. O que não significa, salvaguarda Valadares Tavares, que estas condições não tenham qualquer influência; simplesmente, calcula que a correlação com o sucesso dos alunos fique aquém dos 30 por cento. “Quando dizemos que não determinam, quer dizer que não fixam obrigatoriamente os resultados. Estão correlacionadas, mas é uma correlação fraca”, acrescenta.

Diferenças entre escolas do mesmo concelho

Como é que Valadares Tavares chega a esta conclusão? Primeiro, fez a fotografia dos concelhos, tendo em conta o poder de compra e a percentagem de população com o 12º ano e dividiu em oito classes, dos mais pobres aos mais ricos (ver caixa) . Depois, em cada concelho verificou quantas escolas levaram a exame nacional de 12º ano de Matemática mais de 25 alunos. E calculou a média concelhia. A partir desses dados constatou que entre os 43 concelhos com melhores resultados a Matemática todos os grupos tinham lugar, dos menos aos mais desfavorecidos.

Os resultados desta parte do estudo foram divulgados, em Dezembro, pelo PÚBLICO. Depois da análise das prestações a nível concelhio, Valadares Tavares, Pedro da Maia Graça e Maria Manuel Valadares Tavares observaram o desempenho dos alunos, em cada escola, nos exames de Matemática (prova 435) e Português B (139). Novamente se verificaram enormes assimetrias, não só entre concelhos como entre as várias escolas que compõem cada um deles.

Por exemplo, Valadares Tavares não compreende como é que dentro de Lisboa existem disparidades tão grandes entre estabelecimentos de ensino vizinhos. “O que é que corre mal numa escola onde a média a Matemática é 2,8 (numa escala de 0 a 20)?” De facto, é na capital que se verifica uma maior dispersão: o melhor resultado pertence ao Colégio de Manuel Bernardes, com uma média de 13,6, e o pior é da secundária Eça de Queirós, com 2,8. A média nacional foi de 7 valores.

Além da Eça de Queirós, houve mais duas escolas com resultados que o estudo classifica como “anormalmente baixos”: o Externato Académico, no Porto, com 2,7, e a EB 2, 3 de Vilar Formoso, cujos alunos obtiveram uma média de 2,8. Valadares Tavares reafirma que as condições sócio-económicas não estão directamente relacionadas com os resultados, uma vez que duas destas três escolas estão nos concelhos mais ricos do país. “Há um espectro de heterogeneidade muito grande, que mostra que há problemas associados à oferta educativa”, aponta. No caso do Português, a média do exame foi 11,1.

Olhando para o quadro das escolas com melhores desempenhos, volta a confirmar-se que todas as classes estão representadas e com médias muito semelhantes. Por exemplo, a EB 2,3/Sec. de Oliveira de Frades, concelho que está na classe B, tem uma média ligeiramente superior à secundária Homem Cristo, em Aveiro, que está na classe F. O estudo foi feito para a Sedes e co-financiado pelo Ministério da Educação, Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

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