Câmara de Évora paga transformação de praça de touros particular e decrépita

A decrépita praça de touros de Évora vai ser convertida num pavilhão multiusos coberto, de acordo com um contrato-promessa firmado há dias entre a autarquia e os proprietários do imóvel. Depois de beneficiar de obras avaliadas em cerca de 2,5 milhões de euros, aquele espaço passará a contar com uma galeria comercial e estará vocacionado para acolher congressos e concertos, além das touradas. A família Vaz Freire, dona da praça, conservará a propriedade do imóvel, que será utilizado pela Câmara de Évora por um período máximo de 25 anos. Findo este, a praça voltará às mãos da família. No acto da assinatura do acordo, o presidente da autarquia, José Ernesto d'Oliveira, defendeu que, deste modo, "o interesse da família [Vaz Freire] foi salvaguardado, o da câmara também e a cidade fica a ganhar". O autarca mostrou-se grato pela disponibilidade dos proprietários na viabilização do acordo, que deverá conferir à praça de touros "uma polivalência consonante com todas as suas potencialidades". A autarquia aposta assim na criação de vários espaços multiusos que acolham uma programação susceptível de enriquecer a cidade e fomentar o turismo, tirando partido da riqueza patrimonial. Para José Ernesto d'Oliveira, esta será "a melhor forma de recuperar" um "património histórico" actualmente muito degradado, "ao ponto de ameaçar ruir". Apesar destes argumentos, a decisão suscitou de imediato críticas de diversos sectores. Os detractores da tourada acham que uma câmara em severa contenção orçamental, como a de Évora, não deveria realizar gastos tão avultados para apoiar a festa brava. Alguns aficionados, por sua vez, preferiam que a verba fosse usada para construir de raiz outra praça de touros, em vez de ser investida na reabilitação da actual, dadas as dimensões relativamente acanhadas da arena. Outros sectores receiam que a transformação da praça faça cair no esquecimento a velha promessa autárquica de dotar Évora de um pavilhão multiusos. O estado da praça não tem impedido o seu funcionamento regular. Serve de palco a quatro ou cinco touradas por ano, incluindo a prestigiada Corrida Real, que tem lugar em Julho. No ano passado registou lotações esgotadas em todas as touradas, situando-se entre as mais concorridas de Portugal. Atendendo a que a festa brava, por si só, não rentabiliza aquele espaço, a decisão de o converter num pavilhão multiusos é considerada "um bom exemplo" a seguir noutras praças do país. Esta é a opinião de Carlos Pegado, um dos proprietários da empresa Aficionar, que detém os direitos de gestão das touradas na praça de Évora. Terá sido esta empresa que deu o "pontapé de saída" para a reconversão da praça, propondo a parceria à câmara. A proposta da empresa já previa a reabilitação da praça e a construção dos espaços comerciais, mas a autarquia resolveu ir mais além, avançando para a transformação num pavilhão multiusos coberto.As obras só deverão ter início daqui a um ano, já que ainda falta concluir o projecto arquitectónico, a candidatura a apoios financeiros e a adjudicação da obra.Contígua ao Rossio de S. Brás, a praça de touros de Évora dispõe de uma arena com 36 metros de diâmetro e tem capacidade para cinco mil espectadores. Inaugurada a 19 de Maio de 1889, na presença do rei D. Luís, foi durante muitos anos considerada uma das melhores do país. Mas o tempo não perdoa, e há cerca de três anos o seu estado de degradação obrigou a obras. Porém, na opinião de um especialista em questões taurinas, os trabalhos efectuados "acabaram por a estragar ainda mais", já que "amputaram em vez de curar". Assim, os camarotes foram retirados e o seu telhado, que ameaçava derrocada, foi pura e simplesmente removido, expondo ainda mais o imóvel às intempéries. J.P.S.

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