Liderança parlamentar de Bernardino Soares posta em causa
O problema prende-se com as afirmações feitas por Bernardino Soares em entrevista ao "Diário de Notícias", publicada na segunda-feira, em que o líder parlamentar considerava a possibilidade de a Correia do Norte ser uma democracia, afirmava que não conhece a existência de presos políticos em Cuba, louva os méritos anti-belicistas do Muro de Berlim e acusa os renovadores de terem prejudicado eleitoralmente a CDU e de trazerem mau ambiente ao partido.
De acordo com militantes comunistas, alguns dos quais membros do Comité Central, as posições assumidas por Bernardino Soares nada têm a ver com o que são hoje em dia as posições oficiais do PCP, inscritas no seu programa bem como nas resoluções de vários Congressos.
Logo, garantem, não é possível manter à frente de um lugar partidário e institucional com a importância da presidência do grupo parlamentar uma pessoa que afirma publicamente posições que nunca foram contempladas em nenhum programa do PCP.
Houve mesmo um responsável do PCP que afirmou ao PÚBLICO: "O grau de dislates vai ao ponto de desmentir Fidel de Castro, já que o presidente Fidel nunca escondeu que em Cuba há prisioneiros políticos."
Além das considerações sobre política internacional, as afirmações sobre a situação interna no PCP feitas por Bernardino Soares também foram mal recebidas no partido. E há quem responda que "se alguém prejudicou eleitoralmente a CDU foi a direcção do PCP ao excluir figuras como João Amaral das listas eleitorais nas legislativas de 2002".
O nível de reacção interna e externa à entrevista de Bernardino Soares levou a que o líder parlamentar, sem se atrever a desmentir uma entrevista que está obviamente gravada, emitisse, porém, um comunicado onde procura claramente emendar a mão e onde se lê: "Quanto à Correia do Norte é uma evidência que as concepções de socialismo e de democracia que defendemos estão nos antípodas das deste país e que rejeitamos vigorosamente quaisquer tentativas de 'colar' o PCP a experiências ou práticas pelas quais não é responsável e que são estranhas às suas concepções".