CGD repensa estratégia em Espanha

Sem dinheiro para crescer através de aquisições, o banco público admite trocar posições com uma instituição local, desde que mantenha a maioria do capital ou assegure uma posição de referência que lhe dê a gestão.

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O presidente António de Sousa (à direita) quer arranjar um bom casamento em Espanha Miguel Madeira/PÚBLICO

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) não deverá adquirir nenhum banco em Espanha, pelo menos no imediato, decisão que levou a repensar a sua estratégia de crescimento naquele país, disse António de Sousa, presidente da CGD, durante um encontro com a comunicação social para apresentar os resultados da actividade em 2002.

No ano passado, o banco público apresentou um lucro de 665 milhões de euros (mais 1,7 por cento que em 2001), sendo que "cerca de 48 por cento" reverterão para o Estado e dois por cento para os trabalhadores. António de Sousa admitiu poder recorrer ao Banco Simeon, da CGD, como "moeda de troca", para ganhar dimensão em Espanha, desde que fique com um posição maioritária ou de referência, neste caso, assegurando a gestão da instituição.

"Queríamos ter uma posição que não fosse sub-óptima em Espanha", pois, por muito "eficiente" que a CGD seja, a sua actual dimensão naquele país não lhe permite ser rentável, ficando sempre próximo do "break even" mesmo que num ano "bom" possa apresentar lucros até 10 milhões de euros, afirmou António de Sousa.

O grupo estatal - com uma quota de 51,2 por cento dos resultados líquidos dos quatro maiores bancos com sede em Portugal - opera no país vizinho através do Banco Siméon (resultante da fusão dos bancos da Extremadura e Luso Espanhol), que conta com 200 mil clientes e uma rede comercial de 170 balcões, localizadas, sobretudo, na Galiza e na Extremadura (a região mais pobre da Península Ibérica, com um PIB "per capita", em paridades de poder de compra de 52 por cento da média dos 15).

Porém, o administrador adiantou que a expansão no mercado vizinho depende das oportunidades que aí surgirem, isto, porque, após ter analisado, sem sucesso, várias operações envolvendo bancos espanhóis, a CGD decidiu "repensar" a sua presença, admitindo que não se irá registar nenhuma aquisição em Espanha. Por outro lado, lembrou que, dado que mais de 50 por cento do sector bancário espanhol se encontra nas mãos das Caixas (controladas por mútuas) e 30 por cento é controlado por três bancos privados, apenas seria possível ao grupo português crescer por via de aquisição se se registasse o "fortalecimento dos seus capitais próprios, num volume que neste momento não lhe é possível". Esta a razão pela qual defende a possibilidade de tornar a operação em Espanha rentável, "o principal objectivo", por via da troca de posições entre o Siméon e um banco local, desde que a CGD mantenha a maioria do capital, ou assegure uma posição de referência que lhe dê a gestão.

Referindo-se ao acordo para a expansão internacional, celebrado em 2000, entre a CGD e o Banco Comercial Português (BCP), onde o grupo estatal tem uma posição de cerca de oito por cento do capital, o mesmo administrador reconheceu que este permanece na gaveta, nomeadamente, devido à conjuntura internacional. O objectivo era o estabelecimento de parcerias para o reforço da posição dos dois grupos portugueses em países do leste europeu, que apresentam índices de bancarização muito baixos. António de Sousa recordou que, na actual conjuntura, nem a Caixa, nem o BCP "se encontram no momento certo para fazer grandes investimentos".

Mais-valias com IPE ajudaram lucros em 2002

Dos 665 milhões de euros de lucros registados pela CGD em 2002, 93,2 milhões de euros foram resultados extraordinários, sobretudo, das mais valias obtidas com a alienação" da participação detida na "holding" estatal IPE - Investimentos e Participações Empresariais, em processo de extinção, e no Banco Itaú (90 milhões de euros).


No último exercício, o produto bancário aumentou 2,2 por cento, situando-se em 1992,7 milhões de euros, tendo a margem financeira baixado para 1,42 milhões de euros, o que traduz uma diminuição de 3,9 por cento. Os depósitos de clientes cifraram-se em 45,2 mil milhões de euros, mais 3,9 por cento que em 2001, também os créditos sobre clientes aumentaram 4,7 por cento, passando para 44,4 mil milhões de euros. Em 2003, o Grupo CGD espera obter um lucro em linha com o registado no exercício transacto.

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