Clara Pinto Correia assina artigo copiado de revista americana

O artigo de opinião assinado por Clara Pinto Correia na revista "Visão" da passada semana é uma cópia quase integral de um texto publicado na revista "The New Yorker" por um dos mais carismáticos analistas norte-americanos. A autora desmente as acusações de plágio e afirma que se tratou de uma "distracção".

O texto do colunista David Remnick, inserido na secção "The talk of the town", intitula-se "Leaving the castle" ("Abandonando o castelo") e nele o autor discorre sobre a vida e ideias políticas de Vaclav Havel antes e durante o seu mandato enquanto presidente da República Checa - que terminou no passado dia 2. Já o artigo que ocupa a coluna semanal de Clara Pinto Correia, denominada A Deriva dos Continentes, saído na edição da "Visão" de 30 de Janeiro, recebeu um título mais curto: "O castelo". Mas o essencial do texto de David Remnick está lá.

Dos sete parágrafos do artigo de Remnick, Clara Pinto Correia copiou e traduziu à letra quatro - do original não aproveitou o primeiro nem os dois últimos. Apenas mudou a ordem de um deles e acrescentou dez linhas, no final da sua página na "Visão". Nessa conclusão, que é única parte da sua autoria, Clara Pinto Correia exorta o "trabalho impressionante" de Vaclav Havel e agradece-lhe "por existir": "A gente precisa de saber que há pessoas para quem dá gosto olhar."

Contactada pelo PÚBLICO, Clara Pinto Correia afirmou que se tratou de uma "distracção" ao "cortar o texto, que estava longuíssimo". A escritora e professora universitária contou que para escrever as suas crónicas usa material de diversas revistas da sua preferência, como é o caso da "The New Yorker", de que até é assinante. "Se parto do princípio que vou citar, uso parêntesis; se sei que vou usar apenas a ideia uso a informação como a leio". O que aconteceu com este artigo sobre Vaclav Havel, "que estava muito bem escrito", foi que "usei o texto, acrescentei uma introdução minha, uns comentários pelo meio sobre a situação política em Portugal, e uma conclusão sobre como é bom que existam personagens inspiradoras e com grande sentido moral com Vaclav Havel".

O que aconteceu depois foi "um erro". O texto estava muito grande e foi preciso cortá-lo: "Fui muito descuidada por não ver, no final, o que tinha cortado e o que deixara", disse. "Apetece-me esbofetear-me a mim própria. A única coisa que posso fazer é dizer que estou bastante envergonhada. A acusação é válida e só tenho que pedir desculpa e prometer que não volta a acontecer", acrescentou Clara Pinto Correia.

O director-adjunto da "Visão" Pedro Camacho disse ao PÚBLICO que este "é um assunto grave", e que a direcção da revista só tomara conhecimento dele ontem à tarde, pelo que no número publicado hoje não haverá qualquer referência ao assunto. Como ainda não tinham conseguido contactar Clara Pinto Correia nem o director da revista, Carlos Cáceres Monteiro, que se encontra em Bagdad, apenas hoje poderão tomar uma posição ou comentar o caso mais a fundo. "Vamos saber o que se passou e perceber se houve algum problema técnico", disse Pedro Camacho, acrescentando que "a ser o que parece ser [plágio] terá que ter como resposta uma atitude qualquer da 'Visão'".

No passado domingo, Clara Pinto Correia foi uma das citadas pelo PÚBLICO num artigo intitulado "'Cibercopianço' ganha adeptos", em que afirmava que os alunos, ao copiarem trabalhos e entregando-os como se fossem seus, "nem se apercebem de que estão a plagiar e que o plágio é crime". E mostrava-se preocupada com a "normalidade" com que os alunos o faziam. "Já tive casos de desqualificar trabalhos porque me tinham sido entregues iguais até à última vírgula a material que estava 'on-line'", contava.

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