Schroeder à espera da derrota em dois dos mais importantes estados alemães

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O chanceler social-democrata enfrenta um duro teste que poderá tornar impossível ao seu Governo fazer aprovar qualquer reforma sem negociar com os democratas-cristãos Oliver Multhaup/EPA

Os próximos dias serão penosos para o chefe de Governo alemão, Gerhard Schroeder. Hoje, dois importantes "Laender", a Baixa-Saxónia e Hessen, escolhem os seus executivos regionais e as hipóteses de sucesso do SPD são quase nulas.

Na quarta-feira, reúne-se o Conselho de Segurança da ONU sob a presidência alemã, e ainda esta semana deverá ser tornado oficial que o número de desempregados ultrapassa os 4,5 milhões de pessoas.

Em tempos "normais" a eleição dos 157 deputados do Landtag (Parlamento regional) da Baixa-Saxónia não teriam particular relevo a não ser a nível local. Porém, na Alemanha não se vivem tempos "normais", e a Baixa-Saxónia não é um estado-federado qualquer.

Foi este "Land" que projectou Schroeder para a chancelaria federal em 1998 e, ironicamente, deverá ser aquele que lhe tornará a vida, na restante legislatura, particularmente difícil. Com quase oito milhões de habitantes e um PIB superior ao português, a Baixa-Saxónia é o segundo maior "Land" alemão, dispondo de seis votos no Bundesrat, o Conselho Federal que representa os 16 "Laender" cuja aprovação é necessária para a passagem da maioria das leis federais.

Se o parlamento de Hanôver passar a ser dominado pelos democratas-cristãos, como o indicam as sondagens, então a CDU/CSU passará a dispor de 41 votos no Bundesrat em 65, tornando impossível ao chanceler fazer aprovar qualquer reforma sem negociar com os conservadores.

Uma deliciosa vingança para a direita que falhou, por pouco mais de seis mil votos, a conquista da chancelaria federal.Quando perguntam a Sigmar Gabriel , o ministro-presidente do Land (que até às legislativas de Setembro gostava de ser visto como o "protegido" de Schroeder e até mesmo como um potencial herdeiro do chanceler à frente do SPD) qual o seu maior "handicap", ele responde: "A política que andam a fazer lá em Berlim".

Gabriel tem razão, se perder no "Land", a culpa não é do seu balanço como dirigente, mas dos fortes ventos contra que sopram de Berlim e da desilusão profunda do eleitorado, decorridos pouco mais de cem dias sobre a tomada de posse da coligação social-democrata e verde. Cerca de 80 por cento dos alemães desaprova as políticas governamentais de Schroeder, dois terços acusam-no de ter quebrado as suas promessas eleitorais.

A conjuntura económica federal é sombria - em 2002 o crescimento económico foi de 0,2 por cento, o mais baixo dos últimos dez anos. Este ano é esperada apenas uma ligeira melhoria. Os impostos e as contribuições sociais, que o chanceler prometera baixar, subiram e o desemprego em Janeiro terá ultrapassado os 4,5 milhões de pessoas.

Todos estes factores juntos reflectem-se nas sondagens que atribuem ao adversário de Gabriel, o democrata-cristão Christhian Wulff, uma vitória clara, com 48 por cento das intenções de voto, contra 35 por cento para o SPD.

Nem mesmo a tentativa desesperada do SPD de tentar capitalizar votos com a questão do Iraque, que deu o empurrão definitivo a Schroeder em Setembro, deverá alterar estes números, uma vez que existe um consenso alargado e extra-partidário na sociedade alemã contra uma guerra no Golfo.

O segundo "land" que hoje vai às urnas, Hessen, é governado desde 1999 por Roland Koch, uma figura-chave da CDU, tido como o próximo candidato dos conservadores a chanceler. Neste estado-federado, profundamente social-democrata, que Koch "roubou" inesperadamente ao SPD com a controversa campanha de assinaturas contra a dupla nacionalidade, o "statu quo" manter-se-á.

A CDU está creditada nas sondagens com 51 por cento das intenções de voto, contra 29 por cento para os sociais-democratas.Apesar da esperada dupla vitória democrata cristã, a CDU/CSU está disposta a cooperar com Schroeder para levar por diante as reformas necessárias. " Não enveredaremos por uma política de bloqueio", afirmou questionado pelo PòBLICO, Roland Koch. Mas deixa um aviso: "A nossa cooperação depende do Governo" .

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