Athina toma posse do império Onassis

Para brincar, havia bonecas Chanel e Dior. No lugar do triciclo estava um Ferrari Testarossa miniatura. Depois, a mãe morreu e acabaram-se as extravagâncias, mas ficou-lhe o estigma de pertencer à família mais trágica da Grécia

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Athina é neta de Onassis e especula-se sobre o seu futuro DR

Athina Roussel faz hoje 18 anos e começa a tomar posse da fortuna dos Onassis. O avô e a mãe deixaram-lhe quase três mil milhões de euros. Fizeram- na a mulher mais rica do mundo. No testamento, deixaram-lhe também a fama, que pode ser mais difícil de gerir do que o dinheiro.

A fortuna chega-lhe às mãos agarrada a uma cadeia de desgraças. Colunistas perguntam se escapará à “maldição dos Onassis”, tentam, um tanto precocemente, encontrar paralelos entre as vidas da mãe e da filha. Por enquanto, só o dinheiro, que é o mesmo, lhes une o percurso.

Suicídios

Athina Roussel é neta de Aristóteles Onassis, um dos grandes empresários dos anos 30-60 do século XX. Grego com descendência turca, chegou ao porto de Buenos Aires, na Argentina, em 1930, com 60 dólares no bolso. Meia dúzia de anos depois, já tinha fortuna feita com o negócio do tabaco. Mudou os investimentos para a Grécia quando casou com a filha do armador Stavros Livanos. De Athina “Tina” Livanos, Onassis teve dois filhos, Alexandre, que foi educado para herdeiro, e Cristina, que não foi educada para coisa nenhuma porque era mulher (quando os negócios lhe foram parar às mãos, não soube o que fazer deles). “Tina” suicidou-se ao ser preterida a favor de Maria Callas.

A diva seria trocada por Jacqueline Kennedy, a viúva do Presidente dos Estados Unidos assassinado, que desiludiu o marido — não lhe abriu as portas da elite americana. Em 1975, Aristóteles Onassis morreu, doente e esmagado pelo desgosto da morte prematura do filho. Cristina cresceu depressiva. Sem auto-estima, comia de mais, bebia de mais. A imprensa chamava-lhe “tanque grego”, o que só piorava tudo. Tomava comprimidos e, um dia, tomou muitos — por acidente ou suicídio, morreu de edema pulmonar provocado por excesso de barbitúricos quando tinha 37 anos.

Cristina casou três vezes antes de encontrar Thierry Roussel, espécie de “playboy” francês de uma família abastada. Pagou-lhes uma fortuna para se mudarem de França para a Suíça, onde decidira viver. Cristina era infeliz (dizia-se que pagava para o marido não se ir embora), mas queria ser mãe. E só se separou quando engravidou e soube que uma das amantes de Roussel, Gaby, também esperava um filho.

Depois, foi assim: Athina Onassis Roussel nasceu e só brincava com bonecas que a mãe encomendava, anualmente, às casas Dior e Chanel. Gostava de um livro de histórias que tinha uma ovelha, e a mãe, para entreter a bebé, comprou-lhe um jardim zoológico de animais domésticos. Uma miniatura de Ferrari Testarossa fazia de triciclo. Cristina Onassis decidira que a filha só teria o melhor. Morreu tinha a menina três anos. Soa a crueldade, mas se calhar foi por causa disso que Athina se salvou da “síndroma dos Onassis”.

O pai

“Eu vi o que acontece aos miúdos ricos”, disse Thierry Roussel ao “Sunday Times”. “Quis que Athina soubesse que o dinheiro não é tudo. Ela tem amigos e sempre soube que é uma privilegiada, mas que a maior parte das pessoas não quer e não pode viver assim.”

Roussel levou a menina para uma casa nova — a sua casa com Gaby, com quem teve três filhos. Das extravagâncias, deixou apenas as obrigatórias para a “menina mais rica do mundo”: o Mercedes platinado e à prova de bala para a levar à escola pública, o guarda-costas permanente. Deu-lhe a mesma mesada que aos três meio-irmãos. Deu-lhe uma vida banal, que ajudou a protegê-la das máquinas fotográficas.

Mostrou-se um bom pai, antes da guerra com os administradores gregos da fortuna Onassis, nomeados pelo testamento de Cristina.

Há duas teses. A primeira diz que Roussel queria ter poder sobre toda a fortuna. A outra defende que quis proteger a filha, que os gregos reivindicavam, para educar e, dizia o pai, estragar. Conseguiu- se um compromisso: em 1999, Roussel — que chegou a ligar-se a Portugal com plantações de morangos no Alentejo que faliram, deixaram dívidas imensas e gente desempregada — conseguiu que os administradores gregos se afastassem, sendo nomeada uma equipa independente para gerir o império. Conseguiu também 1,4 milhões de dólares anuais para a educação da filha e mais dois milhões por ano para si; no divórcio conseguira 20 milhões.

Alguns comentadores gregos acreditam que Athina vai finalmente ter liberdade para se tornar grega — com relutância, Roussel permitiu visitas-relâmpago ao país, mas a rapariga mal percebe a língua. Dizem que o processo é inevitável, porque é uma Onassis, um apelido que reivindicam como “património nacional”. Falam no “regresso da deusa” e noutras coisas parecidas.

Athina, que prefere ser chamada Roussel, disse um dia à madrasta que, se o dinheiro desaparecesse, esvaíam-se os problemas. Chegou a anunciar em privado — em público só proferiu três palavras: “olá”, “obrigado”, “adeus” — que daria toda a fortuna para caridade, menos 20 milhões que ficariam para si.

Por enquanto, a rapariga, que não é bonita nem feia, nem magra nem gorda — apesar de já haver revistas que lhe notam quilos a mais —, quer apenas fazer o que gosta. Já participou em campeonatos de saltos de obstáculos e quer ir aos Jogos Olímpicos de Atenas — a Grécia, percebendo a oportunidade de a ganhar de volta, já lhe ofereceu um lugar na equipa hípica. Por causa dos cavalos, conheceu o primeiro amor, Álvaro “Doda” de Miranda Neto, herdeiro e cavaleiro da equipa olímpica brasileira que estuda numa famosa escola hípica de Bruxelas, a mesma que Athina decidiu frequentar, abandonando a casa do pai.

“Doda” tem 29 anos, está a divorciar-se. A ex-mulher diz que foi trocada “pelos milhões de Athina”. Athina não se importa. É inteligente e determinada, garantiu Alexis Matheakis, que escreveu a biografia “Athina in the eye of the storm”.

Os dois namorados deverão passar o dia de hoje na ilha de Skorpios, um dos “itens” na herança de Athina. Há outros: por exemplo dois bancos na Grécia, um arranha-céus na Quinta Avenida de Nova Iorque, um apartamento na luxuosa Avenida Foch parisiense, o hotel Metropole em Monte Carlo, uma companhia de material eléctrico no Japão, negócios na Argentina (tabaco), Uruguai e Brasil, dinheiro vivo em mais de 200 bancos de todo o mundo, incontáveis obras de arte, uma fundação dedicada às artes, cultura e beneficência. Quando fizer 21 anos, Athina Roussel torna-se presidente do império.

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