Chavistas invadem hoje Caracas

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Os chavistas vão reocupar as ruas, por entre rumores de saques e medo de confrontos Juan Barreto/EPA

A data é duplamente simbólica: marca o aniversário da queda do ditador Pérez Jiménez, em 1958, mas também do primeiro confronto ocorrido em Caracas entre oficialistas e opositores. E soa a provocação: este era o dia mais apontado pela oposição para voltar ao Palácio Presidencial de Miraflores. "Virá gente de todo o país, vamos encher a cidade e provar que não é preciso referendo nenhum", diz Orieta Caponi, vice-reitora da Universidade Simón Bolívar.

O evento está a ser preparado desde o início do mês, altura em que os chavistas iniciaram operações de retoma das ruas, até então controladas pelos opositores. Os porta-vozes do Movimento V República, do Presidente Hugo Chávez, falam em milhões de manifestantes. E não deixam os trunfos em mãos alheias. Têm-se desdobrado em comícios por todo o país e asseguraram transporte e alimentação mesmo para os venezuelanos que vivem nas zonas mais longínquas. Até alguns indígenas devem figurar no megadesfile chavista. Face à escalada de violência das últimas semanas e ao incitamento dado por Hugo Chávez à toma de bens de consumo de empresas grevistas, os opositores temem o pior.

Até pode ser que este não seja o "Dia D", mas a paranóia está instalada. As televisões montam jogos de repetições dos confrontos ocorridos até hoje, musicados como se uma guerra tivesse rebentado. Na Internet, circulam "denúncias" de planos terríveis, que passam pela morte dos militares dissidentes de Altamira, onde a marcha irá passar rumo à Praça Bolívar. "No meu prédio, todos têm armas menos eu", diz Manuel Silva, um emigrante português, que reduz a inquietação generalizada a uma 'campanha de terror'."

Limpam-se as armas, verifica-se as trancas e fechaduras, compra-se ainda mais cadeados, confirma-se números de telefone dos hospitais e dos vizinhos que trabalham na área da saúde. Nas urbanizações, os vizinhos reúnem-se para acertar os últimos pormenores dos planos de contingência. Há comerciantes que não vão abrir as portas. Tudo a pensar numa repetição dos saques sangrentos de 1989.

Os hospitais estão em estado de alerta, com reforços nos serviços de urgências. Há a informação, adiantada por funcionários e não confirmada por chefias clínicas, de que se aumentou o número de bolsas negras, a pensar na hipótese de uma mortandade. Certo, certo é que as reservas de sangue foram repostas, afiança o director municipal de Saúde de Caracas, Pedro Aristumuno. Com a polarização social que rebentou em Abril, houve um aumento de mortes violentas na área metropolitana na ordem dos "150 por cento". Já há "sobrecarga" de serviço de urgências e "os medicamentos têm de ser administrados com restrições, porque são de difícil substituição". Nenhum hospital está a fazer consultas externas, as energias concentram-se nas urgências. E assim amanhece Caracas.

[Ontem, o Supremo Tribunal ordenou a suspensão do referendo consultivo proposto pela oposição para 2 de Fevereiro. Com as devisas quase esgotadas, o Governo suspendeu também os mercados de câmbio por cinco dias. Entretanto, os pilotos dos petroleiros venezuelanos abandonaram a greve, que durava há sete semanas.].

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