Américo Amorim: "Não recebi um euro em dinheiro"

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Américo Amorim foi um dos subscritores do manifesto que defende a manutenção dos centros de decisão em Portugal Daniel Rocha/PÚBLICO

Américo Amorim trocou 75 por cento do Banco Nacional de Crédito Imobiliário por quase cinco por cento do Banco Popular Español. Nesta entrevista, fala ao PÚBLICO sobre o negócio e recusa qualquer acusação de falta de patriotismo.

Américo Amorim foi um dos subscritores do manifesto que defende a manutenção dos centros de decisão em Portugal. "Tenho nacionalidade portuguesa e nunca pretendi ter uma segunda nacionalidade", argumenta o empresário nortenho que assegura, ainda, que não vai receber "um euro em dinheiro" com esta operação.

PÚBLICO - Como é que um dos subscritores do manifesto que defende a manutenção dos centros de decisão em Portugal aliena 75 por cento do Banco Nacional de Crédito Imobiliário (BNC) ao Banco Popular Español (BPE)?


AMÉRICO AMORIM - Tenho nacionalidade portuguesa e nunca pretendi ter uma segunda nacionalidade. Depois da mudança política em Portugal decorrente da revolução pensei que poderia ser mais útil ficando no meu país em condições muito vezes difíceis. Os órgãos de comunicação televisivos, na época, anunciaram a minha presença física nos contactos solicitados a propósito desse manifesto. Nunca estive, fisicamente, em nenhum desses encontros. Não participei em nenhum.


Não participou, mas subscreveu o documento...

Não participei. Tudo isto é rigorosamente verdade.

Recusa, então, qualquer acusação de falta de patriotismo?

Absolutamente. Até fico chocado de ouvir isso. Sou português e vou morrer em Portugal, que é o meu país. As pessoas não sabem o que é patriotismo, as pessoas não sabem o que foi a revolução de Abril, não sabem o que foi o Dr. Salazar... É tudo muito superficial neste país para terem 'o direito' de pretenderem insinuar a mim... É tudo muito fútil.

Mas há ou não uma perda de identidade do BNC? O Banco Popular pretender inverter completamente a estratégia do banco

O BNC manterá a sua identidade e a sua continuidade jurídica. Claro que nada é estático na economia. O BPE tem em Portugal 11 agências e destas vai inflectir nove para o logotipo BNC. Não é isto saudável? Agora não posso é pretender, como português, ter 51 por cento do BPE, isso dava um bilião de contos. Tomara eu...

Vai trocar 75 por cento do BNC por cerca de 4,5 por cento do BPE?

Tudo isso é mentira. Aproxima-se dos cinco por cento. O que significa que sou o maior accionista privado no BPE, havendo dois institucionais de relevo maior. E é por isso que me convidaram a entrar na administração do banco. Não considero essa posição menor e continuo no centro da decisão. Não se pode ser líder em tudo. Como Portugal é líder mundial na cortiça, o grupo Amorim é líder da cortiça. O que não impede que ele não seja líder da cortiça no mercado espanhol. Ser o primeiro accionista privado do BPE não é

Para além das acções vai, ou não, receber alguma quantia em dinheiro?

Eu não recebo um euro em dinheiro. É uma troca de participações. Nunca esteve no meu pensamento vender a instituição. Sempre tive o desejo de me manter ligado ao sistema financeiro [Amorim esteve para comprar o Banco Micaelense, dos Açores, em 1969, e participou na fundação do BPI e do BCP]. Aliás, como português, fui o fundador, apesar da falta de convicção que havia em 1983/84, do que é hoje o BCP. Como é que tendo este currículo alguém vai pensar que eu vou vender o BNC e receber euros em troca? Nunca foi admitido por mim esse cenário, porque, se quisesse receber dinheiro, já o tinha feito há muito tempo e, possivelmente, por valor superior.

Preocupa-o a possibilidade de o BPE vir a ficar com a totalidade do BNC?

A oferta pública de aquisição a lançar sobre 25 por cento do capital constitui um acto económico positivo para quem quiser vender. Não vejo qualquer tipo de problema.

Vai ou não ser nomeada uma nova administração no BNC?

Defendia e defendo, pelo brilhante trabalho que fez a administração e todos os colaboradores, que não haja mudanças, a não ser por opção das pessoas.

Mas não é estranho que a actual administração não tenha tido conhecimento do plano delineado pelo BPE para o BNC a cinco anos e que foi divulgado na Comissão Nacional do Mercado de Valores espanhola?

Não há nenhum plano, há uma manifestação de intenções. Não se pode conhecer o que não existe.

Pretende reforçar a participação no BPE?

O futuro a Deus pertence.

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