Hoje é dia de Natal para os ortodoxos

Hoje, centenas de milhar de pessoas vão estar a trabalhar num dia feriado, porque é Natal. São de países do Leste europeu, na maior parte ortodoxos, sem prendas e sem a família.

Para eles, o dia de Natal é também um dia dedicado à família e à troca de presentes. A diferença de calendário — os ortodoxos usam ainda, em muitos casos, o calendário juliano e não o gregoriano, utilizado no Ocidente europeu — faz com que o 25 de Dezembro seja hoje assinalado.

De acordo com o padre Alexandre Bonito, da Igreja Ortodoxa, a noite de ontem foi assinalada com algumas missas por todo o país, mas dificilmente o será com uma ceia de Natal como é tradição: a comunidade ortodoxa é essencialmente constituída por imigrantes provenientes de países do leste europeu, a esmagadora maioria em condições económicas e sociais difíceis e longe da família.

O padre Bonito diz que, nas igrejas, parecem exércitos. “Há celebrações que parecem exércitos, só homens, não se vêem mulheres ou crianças, 200 ou 300 homens perfilados, como se estivessem em parada”. Poucos foram passar o Natal a casa, garante Alexandre Bonito.

Até final da década de 80, Portugal tinha uma “minúscula comunidade ortodoxa, em torno da capelania da embaixada da Grécia”, conforme lembra Alexandre Bonito. Mas após a queda do Muro de Berlim e dos regimes comunistas do Leste europeu, em 1989, a situação começa a alterar-se.

Primeiro chegam os romenos e funda-se uma capela romena, segue-se depois uma capela búlgara, ucraniana e, em preparação, está uma igreja relacionada com o patriarcado de Moscovo.

Hoje, muitos desses fiéis participam em missas nas igrejas portuguesas, sempre cedidas de boa vontade pelas paróquias católicas. Para todo o país, há cinco padres ortodoxos e outros cinco uniatas — seguem o rito bizantino mas reconhecem o Papa. Porém, lamenta Alexandre Bonito, também há “os espontâneos”, que se assumem como ortodoxos mas que “estão ligados a ‘santos’ ou outros fenómenos”, e que “vão fazendo os seus negócios, aproveitando- se do desconhecimento e boa-fé dos imigrantes”, numa referência à ligação de uma comunidade ortodoxa à Ladeira do Pinheiro.

Na noite de ontem é também tradição uma gastronomia especial, embora a mesma dependa dos países de origem dos imigrantes. “A festa, na essência, é comum a todos os cristãos, a maior diferença é que em Portugal os imigrantes estão mais fragilizados em relação à família.”

A divergência entre Igreja Católica e Igreja Ortodoxa começou a desenhar-se com a separação entre Roma e Constantinopla no ano 1054, embora tenha sido todo um período e razões políticas, históricas e teológicas que levaram à separação. No essencial, de acordo com o padre Alexandre, as duas igrejas são idênticas, até porque têm “mil anos de história em comum”. “Veneramos a mesma Bíblia, os mesmos santos, os mesmos episódios.” A Igreja Católica tem um Papa em Roma e a Ortodoxa organiza-se em igrejas autocéfalas (autónomas), embora se reconheça uma primazia de honra ao patriarca de Constantinopla (actual Istambul).

A diferença de datas do Natal tem, pelo menos, uma vantagem: comprar as prendas de Natal é muito mais fácil. E até se pode aproveitar os saldos.

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