Azembla's Quartet

Criada por membros dos Belle Chase Hotel, a banda-sonora de "Esquece Tudo O Que Te Disse" é um delicioso mosaico de imagens 'retro'. Pedro Renato é o mentor. Para continuar...

Toda a gente sabe que a produção de filmes em Portugal é reduzida. Menor ainda é a quantidade de bandas-sonoras com música original criada para filmes portugueses que chega aos escaparates. A edição da banda-sonora de "Esquece Tudo O Que Te Disse", do Azembla's Quartet, faz por isso figura de acontecimento. Ainda para mais tratando-se de um disco que sobrevive sem as imagens. Por detrás do Azembla's Quartet está Pedro Renato dos Belle Chase Hotel, coadjuvado por músicos como Luís Pedro Madeira, Pedro Pinto (ambos dos Belle Chase), Joana Longobardi (Mão Morta) e pela cantora Raquel Ralha (dos Belle Chase e dos Wray Gunn). A produção e concepção da operação foi de Renato que já havia feito o mesmo para a curta de António Ferreira, "Respirar (Debaixo d'Água)". "Conhecemo-nos há anos. Crescemos juntos, uma vez que a minha mãe estava casada com o pai dele", explica Pedro Renato. "Mas isso não foi determinante. O que foi decisivo foi o facto de gostarmos do trabalho um do outro. Foi isso que nos fez trabalhar no 'Respirar...' e prosseguir a colaboração". Apesar de serem obras diferentes na ambição, foram criadas a partir da mesma metodologia. "Li o argumento e ele fez-me uma selecção musical de coisas que podiam encaixar naquele imaginário. Tudo começou por aí, depois o processo de trabalho foi-se alterando. As referências iniciais eram muito ligadas à bossa nova e depois acabou por resultar em algo diferente. Sempre ouvi muitas bandas-sonoras. Gosto muito de John Barry até finais dos anos 70. Acho-o genial. Gosto também muito de italianos como Nino Rota ou Ennio Morricone".Pedro Renato é um dos principais compositores dos Belle Chase Hotel e no disco participam membros do grupo. Em termos de sonoridade, existem semelhanças entre os projectos. Não se trata, obviamente, de uma coincidência. "Claro que não. O disco tem uma sonoridade que pode remeter para os Belle Chase. Mas, de certa maneira, isso não sucede porque não está lá o J. P. Simões. De resto, é um trabalho com o mesmo ideário". Na verdade, lá estão referências como Nino Rota, a música italiana dos anos 40 e 50, a "chançon française" de Françoise Hardy, a bossa nova, o easy-listening segundo Bacharach, a música para filmes de John Barry e até música ligeira portuguesa dos anos 60. "Tal como nos Belle Chase sou eu a compor a música, portanto é natural que essas referências estejam presentes", resume Renato. De qualquer forma é diferente compor música para imagens e para ambientes de canções. "Sim, este é um trabalho condicionado pelo filme porque é uma banda sonora. Desse ponto de vista trata-se de um processo diferente daquele que encontro nos Belle Chase. Mas tive a preocupação de que a música sobrevivesse às imagens. Aliás, foram compostos 32 temas para o filme e no disco surgem apenas 18". A canção mais emblemática acaba por ser o tema-título, com a voz de Raquel Ralha envolvida pelos arranjos orquestrais a resumir o ultra-romantismo melancólico que atravessa o disco. "Esse tema apareceu à última da hora", conta Renato. "Existia uma cena de 'karaoke' no filme e era necessária uma canção. Foi assim que aconteceu. A Maria da Cruz conhecia o projecto e foi ela que escreveu a letra. Depois, a música foi um instante. Foi talvez o tema mais rápido a ser criado".A canção foi criada num ápice, mas todo o processo foi demorado. "Arrastou-se tudo um pouco, é verdade. Desde a selecção de ambientes musicais, procurar referências, delinear o perfil sonoro das personagens. Foram meses". E agora, o projecto fica por aqui? "Não, nasce aqui. No final de Janeiro vamos apresentá-lo ao vivo no contexto de 'Coimbra Capital da Cultura' e contamos dar outros concertos", conclui Pedro Renato.

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