Fotobiografia do cardeal Cerejeira lançada hoje

O patriarca de Lisboa, José da Cruz Policarpo, apresenta hoje a sua obra "Fotobiografia do Cardeal Cerejeira". O livro constitui, para a editora, "um acto de coragem".

"Uma fotobiografia que vale não só pela figura tratada, mas essencialmente por esse tratamento ser feito pelo actual cardeal Patriarca", adiantou Alexandre Manuel, da Editorial Notícias, que considera que José da Cruz Policarpo revelou "muita coragem ao ter feito uma leitura distante" de uma das figuras preponderantes da sociedade portuguesa durante o Estado Novo.

A coragem é aliás uma das tónicas da obra. José Policarpo opina na fotobiografia que faltou precisamente coragem ao cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira em alguns momentos do seu pontificado.

O actual patriarca considera que faltou coragem a Cerejeira em momentos críticos do regime e nota-lhe também contradições. Em 1959, o Papa Paulo VI visita Bombaim, crispando as relações entre a Santa Sé e Lisboa, realizam-se eleições presidenciais às quais se candidata Humberto Delgado e estala a crise do bispo do Porto, António Ferreira Gomes, factos que para José Policarpo "teriam exigido dele mais ousadia". Se não lhe faltou clarividência, prossegue, "fraquejou-lhe a coragem".

Por outro lado, se foi tão acérrimo defensor da Acção Católica, contra a vontade do regime, essa mesma defesa não se fez sentir na questão dos padres da Capela do Rato. Alexandre Manuel, que, como jornalista, fez para a revista "Flama" a última entrevista a Cerejeira, considera que este "encarnou bem o ideal para o tempo de um príncipe da Igreja".

José Policarpo salienta, todavia, a estatura intelectual de um homem que foi "uma das figuras mais interessantes da cultura católica do século XX em Portugal" e cuja acção definiu como "uma cruzada por Deus contra a moderna invasão do laicismo anticristão".

Manuel Gonçalves Cerejeira nasceu em Santa Marinha de Lousado, Famalicão, em 1888. Em 1911 é ordenado sacerdote. Em 1928 é ordenado bispo de Mitilene. A 18 de Novembro do ano seguinte é nomeado patriarca de Lisboa, tendo a 16 de Dezembro sido elevado a cardeal pelo Papa Pio XI. Em 1932 lança a Acção Católica Portuguesa. Em 1971 pede a resignação, por imposição da Santa Sé em 1966, mas só a 15 de Maio de 1971 esta é aceite pelo Papa Paulo VI. A 1 de Agosto de 1977 morre, estando sepultado no Panteão dos Patriarcas na igreja de São Vicente de Fora.

A fotobiografia hoje apresentada surge na sequência de uma obra anterior sobre Oliveira Salazar, de autoria de Fernando Dacosta, actualmente na terceira edição com sete mil exemplares já vendidos, e duas semanos depois de a Editorial Notícias ter trazido a lume "Salazar-Cerejeira. A força da Igreja. Cartas enviadas do cardeal Patriarca ao Presidente do Conselho", de Pedro Ramos Brandão.

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