Bagão quer averiguar alegados abusos sexuais na Casa do Gaiato
O governante afirmou também que quer apurar a razão pela qual o resultado da inspecção feita há meio ano na Casa do Gaiato de Paço de Sousa ainda não lhe foi comunicado, adianta a TSF.
O "Diário de Notícias" divulgou hoje que casos de "violência sexual, escravatura e maus tratos" poderão estar a acontecer naquela instituição em Penafiel, acrescentando que a situação está já a ser investigada pelo Ministério Público.
Bagão Félix diz ter tido conhecimento da situação através daquele jornal e que, apesar da investigação ter passado pelo Ministério da Segurança Social e do Trabalho, não chegou até si.
O ministro considerou também que seis meses de investigação em casos deste tipo é muito tempo, sublinhando, contudo, que não vai tomar medidas precipitadas.
Ex-director nega acusaçõesO ex-director da Casa do Gaiato de Paço de Sousa confirmou hoje ter recebido — em Março ou Abril — a visita de um inspector da Segurança Social, mas negou, porém, as acusações de maus tratos, violência sexual e escravatura de menores na instituição.
"Nego essas acusações. É tudo invenção maldosa e doentia", disse o padre Carlos Galamba.
Em declarações à Lusa, o padre Carlos Galamba (foi director da instituição durante 48 anos) classificou de "ignorância, má fé, maldade e espírito doentio" a conclusão do referido relatório.
Além de que, acrescenta, revela "uma grande ignorância em relação ao pensamento de um dos maiores pedagogos europeus, o padre Américo".
"Trabalhamos todos, para não nos encostarmos a ninguém", respondeu o mesmo responsável, quando questionado sobre a alegada exploração do trabalho infantil, acrescentando: "Não custamos um tostão ao Estado".
O sacerdote afirmou igualmente desconhecer casos de violação sexual de menores, apesar de se recordar de "um caso", envolvendo várias crianças, que chegou ao Tribunal de Penafiel, mas que "não teve consequências". "Até hoje não conhecemos a conclusão dessa investigação", disse, considerando, no entanto, que as práticas sexuais entre adolescentes "sempre aconteceram e sempre irão acontecer".
Lamentou ainda que, após a "exploração sórdida" que se fez da suspeita de alegados casos de pedofilia na Casa Pia de Lisboa, se tenham agora lembrado de um relatório feito há seis meses para denegrir a imagem da Casa do Gaiato.
Sobre a visita do inspector da Segurança Social, Carlos Galamba disse que "não demorou mais de uma hora e meia" e que a única pessoa a ser contactada foi ele próprio.
Também antigos alunos da Casa do Gaiato de Paço de Sousa e continuadores da obra do padre Américo, conhecidos por "obreiros", exprimem um sentimento de revolta contra o que classificam de "campanha difamatória de uma instituição com 62 anos".
Bagão confirma investigação à Casa do Gaiato de SetúbalO ministro Bagão Félix confirmou ainda a existência de uma outra investigação à Casa do Gaiato de Setúbal, que está a ser realizada através do seu ministério. Segundo o governante, o caso remonta a 1991 e está relacionado com presumíveis de maus tratos.
Bagão Félix fez questão de distinguir estas situações na Casa do Gaiato com os casos da Casa Pia de Lisboa. Referiu ainda que existem outros dois casos, que não são do conhecimento público, mas recusou-se a adiantar mais pormenores.
As casas do Gaiato foram criadas pelo Padre Américo e existem por todo o país, mas também em Angola e Moçambique, acolhendo um total de mais de mil crianças.
A primeira Casa do Gaiato surgiu em Janeiro de 1940, em Miranda do Corvo, Coimbra.