Vírus da sida invade China, Índia e Rússia

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Depois de ter morto milhões por todo o mundo, o surto começou a propagar se por África e, apesar de tudo, os especialistas tiveram esperança que houvesse - ao chegar ao Sul daquele continente - uma estabilização da doença. Algo que não aconteceu.

A Índia, a China e a Rússia temem a já prenunciada “explosão” da epidemia. Dos cerca de três milhões de pessoas que morreram por causa da sida em todo o mundo, em 2002, meio milhão eram asiáticas. A Onusida teme que o HIV faça 11 milhões de vítimas até ao final da década, só na Ásia. “A China e a Índia experimentam sérias e localizadas epidemias que afectam muitos milhões de pessoas”, pode ler-se no relatório do organismo.

Se a prevista “explosão” não for combatida atempadamente, tornará insignificante a epidemia actual, que atinge cerca de 42 milhões em todo o mundo. Segundo a Onusida, o investimento anual para tratamento e prevenção terá de passar de dois milhões e meio para 15 mil milhões de dólares. É a única forma de evitar o aparecimento, já em 2010, de cerca de 29 milhões de novas infecções com HIV. O mesmo organismo prevê que seja necessário duplicar o orçamento já em 2003. Os especialistas antecipam que, a continuar assim, dentro de 20 anos serão 68 milhões os atingidos mortalmente pela sida.

A Índia e a China, que representam mais de um terço dos seis mil milhões de humanos da Terra, têm ainda a possibilidade de “amenizar a epidemia”, adverte o relatório. Werasit Sittritrai, director de desenvolvimento de projectos da Onusida, afirma que a incidência naqueles países ultrapassa os dez a 20 por cento.

China Contaminação por seringas

Se as autoridades chinesas não responderem rapidamente, dez milhões de pessoas poderão contraír o vírus até 2010. São já um milhão, concretizando as previsões feitas pelo ministério da Saúde chinês. “As taxas de incidência podem desenvolver-se brutalmente neste país marcado pelo aumento de diferenças socio-económicas e importante êxodo rural - que afecta cerca de 100 milhões de chineses”, afirma a Onusida. A China deve também preocupar-se com “um problema maior”, o tratamento e rastreio das pessoas que foram contaminados ao dar sangue, no sentido de evitar que transmitam o vírus através de relações sexuais. Nas zonas rurais, 12,5 por cento dos dadores de sangue têm o HIV.

Segundo Qi Xiaoqui, o número de infectados aumentou em 58 por cento de 2000 para 2001 e a taxa de crescimento diminuiu para 16,7 por cento, neste ano. Notou os esforços governamentais no sentido de fornecer terapêuticas de baixo custo e de regularizar uma indústria fornecedora de sangue para transfusão, acusada de infectar milhares de habitantes das zonas rurais. Especialistas internacionais têm questionado os números oficiais fornecidos pela China: entre outras falhas, as autoridades locais estão a evitar o rastreio a indivíduos de alto risco com o objectivo de manterem reduzido o número de infectados.

Índia Quatro milhões infectados

Quatro milhões de indianos são portadores do HIV - o equivalente a toda a população belga -, a segunda mais alta taxa a nível mundial (a primeira é a da África do Sul). Um relatório americano prevê que aquele número suba para 25 milhões até 2010. O Governo indiano afirma que a previsão é exagerada. Lançou, no entanto, novas campanhas para combater o flagelo.

Durante as consultas pré-natais, a proporção de mulheres infectadas foi de mais de um por cento, em várias regiões. A Índia espera começar a primeira fase de testes de uma vacina para a sida, no final do próximo ano, adiantou o presidente da Iniciativa Internacional para a Vacina da Sida, Seth Berkley à Reuters. “Estamos ainda na fase dos preparativos para conseguir os testes clínicos e a pensar como vamos conseguir fabricar a vacina aqui”, explicou Berkley. A vacina será eficaz contra o subtipo de vírus C, o mais comum na Índia.

O país está perante uma dupla batalha, devido ao enorme estigma sócio-cultural, que se prende com a transgressão da doença dos grupos de alto risco - como prostitutas, toxicodependentes e homossexuais -para as grandes regiões rurais e urbanas. “A doença é má. Sabemos que está agora em cada um dos dos Estados e territórios e sabemos que há grupos que se movem constantemente.”

Rússia O HIV que mais cresce

A Rússia está à beira de uma catástrofe de sida do tipo subsariana. O país tem um total de 277 mil infectados, sendo que suporta o fardo de ter a epidemia de HIV que mais rapidamente cresce em todo o mundo (do tipo A) e foi detectado um aumento dramático entre os heterossexuais que praticam sexo sem protecção, que representam 15 por cento. Desde 1997, a taxa de infecção subiu 500 por cento.

Os números começaram a baixar nos primeiros dez meses do ano, segundo o primeiro vice-ministro da Saúde russo, Guennadi Onichtchenco, sendo que surgiram 41 mil novos infectados. Em 2001, apareceram mais de 77 mil casos. A diminuição, segundo a mesma fonte oficial, deve-se à “mudança de regime no Afeganistão”, uma vez que 85 por cento dos seropositivos terão sido contaminados com seringas infectadas trazidas por traficantes de droga vindos daquele país.

O número real de seropositivos na Rússia pode, no entanto, ser de um milhão de pessoas, porque apenas um em cada seis russos fez os testes de despistagem do vírus, estimou Vadim Pokrovski, director do Centro Federal de Luta contra a Sida. O orçamento confinado à luta contra a epidemia, acrescentou, “é visivelmente insuficiente”, em particular no que concerne ao tratamento de seropositivos. No ano transacto, foram disponibilizados menos de seis milhões de dólares - são necessários 65 milhões.

A Inglaterra e o Canadá vão ajudar financeiramente o país a combater a catástrofe.

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