Uma estrela pop chamada Moby em Lisboa

Tem sido um ano azedo para a indústria da música pop. A recessão na venda de discos é um facto e os músicos parecem paralisados pelo medo de arriscarem novos desígnios estéticos ou outros veículos de produção e promoção. Vive-se em estado de congelação, de gestão de imagem, de balanço. Editam-se colectâneas de sucessos, o passado é vendido a baixo custo gerando algumas receitas interessantes. Rolling Stones, David Bowie ou Elvis Presley, artistas deste mundo e do outro, que o digam.

Uma conjuntura difícil para as estrelas pop com nome consolidado, quanto mais para aquelas que querem irromper, rasgar horizontes. Mas, no meio da corrente dominante, existem sempre excepções. Quantas vezes não somos surpreendidos pelo sucesso de um disco que não esperávamos e, pelo contrário, aqueles discos que, aparentemente, têm todos os condimentos para o sucesso são relegados ao fracasso?

O que é que isto tem a ver com o senhor Richard Melville, vulgo Moby, que hoje se apresenta no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, naquele que é um dos concertos mais esperados do ano em Portugal? Na verdade, tudo. Em primeiro lugar, o sucesso de Moby foi uma grande surpresa. Até ao álbum "Play", de 1999, a carreira do músico americano tinha-se pautado pela irregularidade. De vendas, de géneros a abordar, de qualidade da música. E o que é mais, "Play" reflectia todos esses factos. Era um disco diverso, desequilibrado, com algumas boas canções pop. Que foram entrando nos ouvidos do público em geral, muito lentamente, graças a clips publicitários ilustrados pela música do nova-iorquino. Moby virou estrela pop numa conjuntura muito pouco propícia para o nascimento delas.

O desafio seguinte era como manter esse estatuto. Um estatuto frágil, porque não tinha um passado que falasse por si e porque ainda não havia experimentado a prova de fogo que é expor a música perante milhares de pessoas. Vender muitos discos não é propriamente garantia de ser-se capaz de criar grandes espectáculos ao vivo. No entanto, a todos estes desafios, Moby tem sabido responder com tranquilidade.

Luxo em tempos difíceis

Moby não é um grande cantor, nem tem carisma por aí além, mas mesmo assim soube montar um espectáculo eficaz e profissional, sem deixar de ser vibrante. É esse Moby que Lisboa vai ver hoje à noite. Um Moby diferente daquele que Portugal já viu, há quatro anos no Porto e em Janeiro de 2000 em Lisboa. Um Moby que, num ano onde a maior parte das estrelas pop não arriscaram digressões (a única com sucesso terá sido a de Bruce Springsteen) nem discos novos de originais, se fez à estrada para promover um álbum, "18", que, afinal, ao contrário do que se fez crêr, está a conseguir excelentes marcas.


A maior parte dos críticos de "18" apontou que era uma cópia fiel de "Play", feita com o intuito de vender. Em primeiro lugar, mesmo que isso fosse verdade, não era garantia de nada, em segundo, "18", é um disco bem mais homógéneo - tem uma ideia e desenvolve-a de forma coerente - do que a manta de retalhos que era "Play".

Disco de platina em quase todos os mercados europeus, inclusive em Portugal onde chegou à marca dos 50 mil discos vendidos, e com possibilidade de ir muito mais longe. É isto garantia de um Pavilhão Atlântico, com capacidade para 12 mil pessoas, completamente cheio logo à noite? Nem tanto. Moby não tem um grande passado de palco e a crise económica pode falar mais alto. Mas uma coisa é certa: os milhares que se deslocarem à zona da Expo não verão as suas expectativas defraudadas. Porque, para além de méritos e defeitos, Moby é um músico empenhado que sabe o que quer e os concertos da digressão europeia têm-no confirmado.

E o que motiva essa mole humana? Os sucessos dos discos, claro, mas também a promessa de assistirem a um daqueles espectáculos que apenas as estrelas se podem dar ao luxo de oferecer.

Em tempo de crise convém ser contido e Moby é-o. Quer dizer, está lá tudo aquilo que as pessoas gostam. Um excelente jogo de luzes, um tratamento cénico com soluções e uma noção geral de espectáculo que funciona. Mas são as canções, os diferentes géneros de música - do tecno ao punk-rock, passando pela pop festiva à soul intimista - e uma cumplicidade muito bem estudada entre os músicos, que dominam o concerto. Até agora tem sido assim em todas as cidades americanas, canadianas, japonesas e europeias por onde a caravana "18" tem passado. Tudo indica que no Atlântico venha a suceder o mesmo.

Na primeira parte, vamos ter a dupla norueguesa Röyksopp, alvo de algum culto em Portugal e um pouco por todo o mundo, graças ao álbum "Melody A.M.", editado no final de 2001. Música para diversa parafernália electrónica e um baixista é aquilo que, do ponto de vista da execução, têm para oferecer. Contem com ritmos electrónicos e texturas atmosféricas que tanto se dançam como se dissolvem na melancolia dos sonhos. Música electrónica dançante, mas feita a partir de princípios que revelam uma grande sensibilidade pop. Logo à noite se ouvirá, olhará, sentirá.

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