"O enigma de Zulmira", de Vasco Graça Moura, é lançado hoje em Lisboa

O novo romance de Vasco Graça Moura, "O Enigma de Zulmira", (Quetzal Editores) é apresentado hoje, às 18h30, pelo eurodeputado José Pacheco Pereira, na Biblioteca do Grémio Literário, em Lisboa.

Na vasta obra do polémico ensaísta, poeta e também ele eurodeputado do PSD, "O Enigma de Zulmira" significa uma nova etapa romanesca de Graça Moura. "Quis ver como é que uma pessoa de uma geração mais nova, que não atravessou o primeiro período do Estado Novo, nem sequer na adolescência, embora ainda tenha conhecido muitos aspectos daquela mediocridade e vil tristeza, constrói um universo romanesco", afirmou ao PÚBLICO o romancista, ao explicar por que razão quis escrever "O Enigma de Zulmira".

O eixo central do romance - ou, como gosta de lhe chamar o autor, "o âmago da questão" - "é a relação amorosa entre uma militante/funcionária do Partido Comunista Português [PCP] e um agente da PIDE [ex-polícia política da ditadura]". "É uma situação, se se quiser uma realidade muito interessante, com todas as reservas éticas que se possam ter", confessa Graça Moura. E acrescenta: "O que tentei foi fazer funcionar essa situação, isto é, criar um universo a partir de indícios. Um universo em que há qualquer coisa de burlesco."

Quais são esses indícios? Uma história real e apaixonante entre a militante do PCP Carolina Loff e o agente da PIDE Júlio de Almeida: no romance ela é Zulmira, ele Esmeraldo. "Porém", ressalva o escritor, "não segui nenhuma peripécia biográfica de nenhum dos dois".

Vasco Graça Moura é muito claro quando é confrontado com as semelhanças que se poderão estabelecer entre realidade e ficção. "Quaisquer semelhanças do caso concreto com a realidade histórica são, como é hábito dizer-se, pura coincidência, que o leitor encontrará ou não, sem prejuízo de o prazer, o interesse e a voracidade da leitura serem inevitáveis."

Mas a pergunta é incontornável: estamos a falar destas pessoas ou não? "Não! A história é, se se quiser, o meu ponto de partida. Não os conheci e mesmo que tivesse conhecido não queria ir por aí porque me interessava construir as minhas personagens", afirma, calmamente, Graça Moura.

Isso não impede que responda, quando o PÚBLICO lhe pergunta se teria tido interesse em ter privado com elas: "Gostava de ter conhecido o melhor das suas vidas. Mas, repito, não para utilizar para este romance. Apenas por curiosidade humana."

O facto de ter, nestes últimos anos, um convívio assíduo com o seu colega de bancada parlamentar europeia, José Pacheco Pereira, não foi alheio para a escrita deste livro. "Sim, foi muito importante, decisivo." "O Pacheco Pereira conheceu a realidade muito melhor do que eu." Falaram, conversaram, imagina-se, com alguma bonomia e prazer. "Sobretudo trocámos muitas impressões sobre as ambiguidades que se estabelecem entre o preso e o captor." Embora, volta a insistir o poeta/tradutor, "nada tenha sido transposto para o meu enigma", diz entre risos.

"'O Enigma de Zulmira' é mais um captar de um quadro, de uma atmosfera e do lado lúdico que tem que ver com a escrita, com a literatura, de alguém que não viveu uma situação." Por isso, justifica, "o meu guionista" - um dos narradores do romance juntamente com o argumentista de um filme que quer contar o enigma de Zulmira - "tem 35, 36 anos".

Guionista e argumentista (alter-egos de Vasco Graça Moura?) que não têm nome (os únicos na obra sem ele...) mas que contam uma história que prendem o leitor da primeira à última página. Afinal de contas, e ao contrário do que diz uma das personagens, inventa-se ainda muita coisa neste mundo.

Sugerir correcção
Comentar