Museu Guggenheim, a montra da nova Bilbau

Foi, no século passado, uma cidade marcada pela industrialização que agitou os cimentos da tradicional sociedade basca. Conheceu gerações de operários e alguns funcionários, viveu as reivindicações proibidas dos sindicatos e chorou a repressão franquista. Hoje, a urbe tem novas cores, nas suas ruas convivem idiomas de diversas latitudes e há espaço para uma nova convivência: a do ócio e da cultura. Nos cinco anos do Museu Guggenheim de Bilbau, o edifício e o espaço com a assinatura do arquitecto Frank Gehry são a montra da renovação e deram nova luz à "ria", como os bilbaínos chamam em linguagem de afecto ao rio Nervión."Há 11 anos aqui havia uma grande crise económica, o sustentáculo da cidade, a siderurgia e todas as indústrias auxiliares, estavam em colapso", recorda, ao PÚBLICO, Elvira Etxeberria, directora de Bilbau Iniciativas Turísticas (BIT). E, foi então que se pensou numa cidade diferente: menos poluída, mais amável, com menos desempregados e com um tecido social diverso. "As instituições bascas [executivo regional e câmara da cidade] apostaram nos serviços, no ócio e na cultura", prossegue Etxeberria. Uma novidade em que poucos acreditavam, mas que começou a ser realidade com o acordo com a Fundação Guggenheim de Nova Iorque. O arquitecto Frank Gehry teve carta branca: "foi ele que escolheu a localização do museu", recorda a responsável do BIT, o epicentro organizativo da modernidade bilbaína.Todos que pensavam que um museu é uma "casa morta", um amontoado de generoso espaço dissociado do local da sua implantação, foram-se rendendo. Gehry, com felicidade, interpretou nas formas e nos materiais utilizados a tradição de Bilbau. Desenhou um espaço que lembra quilhas de barcos e tem áreas redondas, como as das chaminés dos vapores que durante décadas sulcaram as águas mortas e sujas do Nervión. Como se o exterior do espaço expositivo, com revestimento metálico, fosse um monumento à memória de uma cidade que se queria modificar.Depois chegou o metro com a traça de Norman Foster, a renovação do aeroporto no desenho de Calatrava, o Palácio Eskaldun, o lento processo da limpeza das águas da ria que não divide mas afaga a cidade, através de novas pontes e mantendo as ligações de outrora. Claro que Bilbau não é San Sebastián: os quarteirões burgueses bilbaínos não têm a beleza e monumentalidade dos "boulevards" da capital de Guipuzcoa. Mas, nunca foi tão perceptível, como o é em Bilbau, o afã renovador e o desafio da aposta no futuro de uma urbe de 370 mil habitantes."O metro custou 24 milhões de contos, o aeroporto outros 18 milhões, o museu 28,8...", enumera Elvira Etxeberria os investimentos. E há mais. A limpeza da "ria", a oxigenação das águas continua, em marcha estão os planos para ligar em zonas de lazer e espaços pedonais os dois símbolos da mudança: o museu e o palácio. Do outro lado da "ria" já existem parques infantis, espaços para as bicicletas, num perpétuo convite à conquista da rua.Mas, se não fosse o Museu, a oferta hoteleira não tinha aumentado 20 por cento - atingindo actualmente cinco mil camas -, e as grandes cadeias de hotéis não procurariam terrenos. "Dantes tínhamos turismo de negócios entre segunda e sexta-feira mas, aos fins-de-semana não havia ocupação, agora tudo mudou", revela Etxeberria. O objectivo é potenciar uma cidade que vive do terciário, mas rodeada por sectores industriais - a construção do novo parque de exposições -, e apostar no sector turístico."Sofremos, como toda a sociedade basca, os atentados da ETA, embora em Bilbau não exista insegurança", opina a directora do BIT. No entanto, admite: "este é um destino politicamente conflituoso e, depois de um atentado [etarra], existe uma ligeira quebra de reservas".Apesar desta situação, as autoridades prolongam o desafio. "A nossa aposta é o turismo de cruzeiros, depois do alargamento do porto", refere Elvira Etxeberria: "Dantes não havia, mas este ano tivemos 20". A responsabilidade é do Museu Guggenheim (ver caixa), que introduziu Bilbau no circuito do novo turismo: aquele que aposta no lazer e na cultura. No primeiro ano, os visitantes - 1,3 milhões - superaram as expectativas, e agora mantêm-se em confortáveis 990 mil de média anual, muitos oriundos do turismo interno. E, no ranking das exposições de 2001, a da obra e propostas de Giorgio Armani foi a 14ª mais visitada em todo o mundo. Um ano antes, o Guggenheim de Bilbau já tinha obtido os sétimo, 12º, 14º, 15º e 20º postos, com as exposições "Amazons of the Avant-garde", "Degas to Picasso", "Andy Warhol", "The Art of the Motocycle" e "The Tower Wounden by Lightning".

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