Morreu o crítico de televisão Mário Castrim (actualização)

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A morte de Mário Castrim representa para os seus sucessores o desaparecimento do criador de um novo estilo no jornalismo português, uma espécie de "bússola" da crítica televisiva, diz João Gobern.

Para o jornalista, que durante vários anos assinou crítica televisiva, Mário Castrim era "a grande bússola da crítica de televisão desde que ela existe".

"Ele nunca abdicou dos seus princípios ideológicos e de uma certa forma de olhar o mundo, mas conseguiu sempre uma distância em relação às pessoas, uma justiça em relação aos programas, que lhe valeram inimizades antes e depois do 25 de Abril", disse à Lusa o actual director da "TV Guia".

Jorge Leitão Ramos, jornalista que durante muitos anos assinou a crítica de televisão no semanário "Expresso", não tem dúvidas em afirmar que Mário Castrim "foi o mestre que ensinou milhares de pessoas a olhar para o pequeno ecrã de outra maneira". "Ele não só era o mais antigo crítico, como foi o seu mentor. Foi ele que inaugurou este estilo no jornalismo português, porque antes não havia ninguém a fazer crítica de programas televisivos", disse à Lusa.

O crítico do "Diário de Notícias" e da TSF, João Lopes, concorda que Mário Castrim, "como qualquer pessoa que se manifesta publicamente, esteve sempre sujeito a imensas vozes discordantes". "De qualquer forma, em relação a ele, sinto que havia muitos mais amores de estimação do que ódios de estimação", disse, acrescentando que "se os ódios existiam, então eles que se manifestem agora e com coerência". Para João Lopes, o autor de "O Canal da Crítica" foi "uma referência central na história da crítica de televisão nos últimos 40 anos".

"Mário Castrim foi fundador e militante da crítica de televisão em Portugal", afirmou ao PUBLICO.PT Eduardo Cintra Torres, crítico de televisão do PÚBLICO e especialista na área dos media.

Foi Castrim que "soube perceber a genialidade dos programas culinários de Maria de Lurdes Modesto, ou, antes do 25 de Abril, dos programas sobre história de José Hermano Saraiva".

No fim do programa “Nós, as mulheres”, em 1970, o crítico falou de uma “rapariga de olhos rasgados” (Maria de Lurdes Modesto) e afirmou peremptoriamente: "Finalmente apareceu alguém que sabe como se fala em televisão".

"Ser militante nesta actividade não é fácil, é preciso muita dedicação e paciência. Mário Castrim conseguiu-o sem nunca esconder as suas opiniões políticas mas fazendo ao mesmo tempo uma análise distanciada do panorama televisivo português", afirmou ainda Cintra Torres sublinhando que Castrim tinha "um estilo marcado que sabia aliar à análise e crítica do meio televisivo".

Mário Castrim tinha 82 anos e faleceu hoje de madrugada, no Hospital dos Capuchos, em Lisboa, vitimado por uma pneumonia, que obrigara ao seu internamento no início de Agosto.

Era o mais antigo crítico de televisão português, actividade a que dedicou 40 anos. Manteve até Julho - altura em que a doença o impediu definitivamente de trabalhar - a página "Canal da Crítica" no semanário "Tal & Qual".

O corpo de Mário Castrim vai ficar a partir das 18h00 de hoje na Igreja de Santa Joana Princesa, na rua Teixeira de Pascoaes, em Lisboa, de onde partirá o funeral para o cemitério de Benfica, na quarta-feira, pelas 10h30.

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