A tentação do bronzeado artificial

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Nos solários, a predisposição mental é para bronzear, acabando por existir quase sempre exagero DR

São cada vez mais as pessoas que recorrem aos solários para manterem um tom de pele bronzeado durante todo o ano, especialmente quando o Verão ainda vem longe. "O solário, feito com regra, não faz mal", afirma ao PÚBLICO Joaquina Ferreira, proprietária de um destes estabelecimentos, localizado no Porto. No entanto, o dermatologista Carlos Resende tem uma posição menos favorável ao bronzeado artificial, alertando para os inúmeros perigos inerentes aos solários.

"Não conheço ninguém que não faça solário de forma exagerada. Quem frequenta solários tem de estar consciente de que pode contrair cancro de pele e vir a sofrer de envelhecimento precoce, entre outras doenças", explica Carlos Resende. Mas os solários também são frequentados por profissionais da saúde: "Tenho muitos clientes que são médicos. Mesmo conhecendo os perigos, acabam também por cair no exagero", afirma Joaquina Ferreira.

Logo pela manhã, vão chegando os primeiros clientes, que não prescindem dos raios ultravioleta para manter (ou aumentar) o bronzeado. Maria (nome fictício) é uma das muitas pessoas que trazem estampado no rosto o efeito do solário feito em demasia: cara cor de cacau e a pele repleta de rugas. "Com a minha idade, já não me preocupo. Sinto-me bem assim", sustenta a senhora de idade avançada, apesar de já ter sido várias vezes advertida pela proprietária dos solários.

Existem muitos outros frequentadores assíduos do solário - homens e mulheres - com as mesmas características de Maria. Procuram o bronzeado por questões estéticas e, ironicamente, ficam com um aspecto pior depois de longas séries de minutos dentro das máquinas. Igualmente preocupante é o facto de as pessoas não utilizarem os óculos de protecção contra os raios ultravioleta durante as sessões, pois podem vir a sofrer de cataratas ou conjuntivites.

Carlos Resende apenas aceita um recurso ao bronzeado artificial se a pessoa, depois de terminado o Verão, e numa perspectiva de prolongar o bronzeado, fizer solário ao ritmo de uma vez por semana, nunca mais de dez minutos e protegendo particularmente as zonas sensíveis (lábios, olhos e sinais). É igualmente fundamental fazer uma hidratação muito cuidada da pele e que este prolongamento do bronzeado não dure mais que três meses.

De acordo com um estudo publicado pela DECO (Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor) no último número da revista "Teste Saúde" - que envolveu 25 solários de Lisboa e Porto -, os profissionais do solário são incompetentes na sua função, aconselhando mal os utilizadores, nomeadamente quanto ao tempo de exposição, uso de cremes e cuidados a ter antes e depois das sessões. Outra falha apontada pela DECO é a falta de preocupação prévia em questionar os utilizadores quanto à sua história clínica.

A este respeito, Carlos Resende é peremptório: "Saber a história clínica dos utilizadores é muito importante, pois há situações que representam contra-indicações absolutas. As grávidas não podem fazer solário, devido a uma possibilidade de alteração do ADN. Quem está a tomar medicamentos pode sofrer reacções tóxicas. Lúpus eritematoso, herpes ou porfíria impedem também a utilização de solários." Joaquina Ferreira está de acordo com esta necessidade, mas admite que quem trabalha num solário não tem por hábito colocar perguntas a esse respeito.

Ela acredita que os solários podem ajudar no tratamento de doenças dos ossos, do acne e da psoríase e alega que alguns dermatologistas chegam mesmo a ter solários nos seus consultórios para fazer tratamentos. "Os dermatologistas recorrem à chamada fototerapia", esclarece Carlos Resende, "o que é bem diferente do solário, por ter indicações muito precisas para tratar doenças de pele - e não para bronzear -, tais como psoríase, parapsoríase, algumas formas de acne e certos tipos de despigmentação [ver caixa]."

Para o dermatologista, o sol do dia-a-dia é suficiente. Nos solários, a predisposição mental é para bronzear, acabando por existir quase sempre exagero, em tempo e em número, e desrespeito pelas condições da pele e das outras doenças que possam estar associadas. Joaquina Ferreira está de acordo: "Tentamos avisar as pessoas, mas muitas vezes elas não cumprem. Quase ninguém respeita os tempos de exposição solar", disse, acrescentando que já se viu obrigada a recusar a entrada de determinados clientes por apresentarem queimaduras solares.

Quanto aos aceleradores de bronzeado, se é certo que são frequentemente aconselhados pelos profissionais dos solários, também é certo que os dermatologistas os consideram perigosos. Mas a verdade é que são um produto bastante vendido. "O que mais vendo são aceleradores de bronzeado. Se puser à venda cremes de protecção solar, as pessoas não os compram", garante Joaquina Ferreira.

Carlos Resende explica ao PÚBLICO que os indutores de pigmentação de aplicação tópica são muito difíceis de dosear, podendo levar a queimaduras em certas zonas do corpo. Se o solário é, por si só, perigoso, com a "ajuda" dos aceleradores de bronzeado os problemas podem surgir com maior facilidade. Mais seguro é utilizar um auto-bronzeador, que não provoca qualquer tipo de dano na pele. O único inconveniente é que, em algumas pessoas, a coloração resultante não fica muito natural. Trata-se apenas de uma questão estética.

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