Um Dia no Circo

É um circo a duzentos à hora, com os "números" a sucederem-se na melhor ordem e com vedetas e "atracções especiais" - por exemplo, Michael Jackson como ET.

Pronto, aí está um dos "blockbusters" mais aguardados do Verão, a sequela de "MIB - Homens de Negro", ele próprio um "blockbuster" do Verão de há cinco anos. É basicamente mais do mesmo, como seria de esperar, mas em versão mais curta e "compacta", a funcionar quase ao jeito de um episódio de série televisiva (o que, de qualquer modo, é um pouco o modelo do filme, expressamente citado nas sequências iniciais). É mais caricatural, também, como costuma acontecer com este tipo de sequelas: há um maior sentido de economia, que faz com que se vá directo ao que fez o sucesso do primeiro filme e se deixe o resto à porta. Pode ser a memória a trair, mas a sensação é a de que enquanto em "Homens de Negro" ainda havia alguma coisa para levar a sério, neste já não há nada para além da irrisão, que até já pode ser autoparódica.

Tem uma grande vantagem (para além da curtíssima duração): não tem tempos mortos, não perde tempo, cumpre o seu programa a duzentos à hora. Ainda mais do que o primeiro filme, deixa-se presidir por uma lógica narrativa de desenho animado - tudo é "cartoon" e nada mais do que "cartoon". Incluindo os actores, Will Smith e Tommy Lee Jones, que são tratados como bonecos e se tratam a si mesmos como bonecos. Eles são, no fundo, os seus próprios bonecos, a "maquette" das suas "personas" cinematográficas, e parte fundamental do sucesso da série passa indesmentivelmente por aí.

Atracções especiais

"Entertainment" em estado puro (ou seja, gasoso), executado com alguma "panache" - Barry Sonnenfeld talvez não seja mais do que um realizador meramente competente, mas tem sentido de humor, e isso ajuda. Aqui, o seu papel é o de uma espécie de director de circo, assegurando que os "números" se sucedem uns aos outros na melhor ordem e nas melhores condições, gerindo a participação das vedetas e das "atracções especiais" (toda gama de extraterrestres que faz do filme um "freak show"), e zelando para que o "respeitável público" não dê o seu dinheiro por mal empregue. Fá-lo bem, é o mínimo que se pode dizer, assim como é justo que se diga que não há nenhuma boa ideia de "gag" que o filme deixe desperdiçar.

O departamento de efeitos especiais dá uma ajuda, em particular a imaginação do criador dos múltiplos monstros e extraterrestres que por aqui pululam, o lendário Rick Baker. Também há algumas boas ideias de "casting", em particular a que se lembrou de trazer Lara Flynn Boyle para o papel de suprema de vilã da fita. Não é todos os dias que se vê uma pequena criatura viscosa e tentacular a transformar-se, perante os nossos olhos, em Lara Flynn Boyle de "lingerie", e isso (que acontece logo numa das primeiras cenas) é qualquer coisa que não deixa de valer a pena.

Também vale a pena acrescentar que por entre o "freak show" de "Homens de Negro 2" aparece uma participação especial de Michael Jackson, num "cameo" em que interpreta o seu próprio papel - ou seja, o de extraterrestre desejoso de ser aceite na Terra. Não se percebe bem se é Sonnenfeld a ser perverso, se é Jackson a demonstrar uma capacidade de auto-ironia de que, valha a verdade, nunca pareceu muito capaz. De qualquer modo, tem graça.

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