Estudantes já podem escolher um curso à medida das suas necessidades

É, antes de mais, uma nova maneira de encarar um curso superior. A ideia é dar ao aluno mais liberdade em vez de obrigá-lo, como até agora, a cumprir uma programa de fio a pavio, sem liberdade de escolha deste ou daquele professor, desta ou daquela disciplina. A Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), da Universidade Nova de Lisboa vai inaugurar neste ano lectivo o sistema de "liberal studies". O estudante entra numa licenciatura "x", faz um conjunto de cadeiras obrigatórias e o resto do tempo é ocupado a tirar as disciplinas que entender, de diferentes licenciaturas, se for caso disso.

No final dos quatro anos, os alunos podem até sair não com um, mas com dois cursos feitos, ainda que de diferente envergadura - um "major", outro "minor", na tradição anglo-americana. Por exemplo, um aluno que escolheu a licenciatura de Ciências da Comunicação pode fazer um "minor" em Estudos Ingleses. Ou, em vez de optar por um curso "minor" de uma determinada área científica, pode simplesmente escolher fazer cadeiras avulsas que mais se coadunem com os seus interesses. Ou ainda, em certos casos, fazer cadeiras de especialização dentro da área de licenciatura. O leque de escolhas é composto pelas mais de mil disciplinas que constituem as licenciaturas da faculdade envolvidas no projecto.

Claro que também há algumas regras. Por exemplo: o aluno só é licenciado quando consegue perfazer um total de de 240 créditos; a licenciatura propriamente dita é constituída por 180 créditos, os outros 60 são o tais de que o aluno dispõe para gastar como entender - para fazer um "minor", por exemplo. Outra regra é que terão de ser respeitadas as precedências. Mas, ainda assim, o estudante da FCSH terá muito mais margem de manobra para escolher o seu percurso de formação.

Experiência é para alargar a toda a universidade

À excepção de Filosofia, todos as licenciaturas da FCSH "entraram" na reforma da faculdade. A partir de Outubro, quando as aulas começarem, a FCSH adoptará, pela primeira vez, o sistema europeu de créditos (o ECTS - European Credit Transfer System), sem o qual seria difícil toda esta liberdade de escolha por parte dos alunos. A cada "cadeira" prática correspondem três unidades; uma teórico-prática vale seis, um seminário pode valer cinco...

"É a primeira vez que isto se faz em Portugal. O desafio para fazermos a experiência foi feito pelo senado. Se resultar, deverá ser alargada a toda a universidade, o que permitirá cruzar vários saberes. Por exemplo, um curso maior em Direito com um 'minor' em História, um maior de Geografia e um 'minor' em Economia", explica o vice-presidente do Conselho Científico da FCSH, Carlos Ceia.

Esta "reforma histórica na faculdade", como lhe chama o professor, vem de resto, ao encontro dos desafios que a Declaração de Bolonha coloca. Esta declaração foi assinada há três anos por 33 países, entre os quais Portugal, e visa a criação de um espaço europeu de ensino superior em 2010. Um dos princípios é que todas as escolas, dos diferentes países, devem utilizar o ECST, para possibilitar o fácil reconhecimento dos cursos e a mobilidade de alunos e diplomados. Outro dos princípios de Bolonha é o encurtamento da duração das formações. Ambos os objectivos foram tidos em conta pela FCSH. "Se tivermos de avançar por uma formação de mais curta duração, se formos obrigados a oferecer licenciaturas de três anos, já estamos preparados para isso com a reforma curricular agora feita. Basta fazer corresponder os nossos 'majors', que são de três anos, às licenciaturas", explica Carlos Ceia.

Sugerir correcção
Comentar