Edgar Correia acusa direcção de recorrer a "trama idêntica aos inquéritos" estalinistas

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No texto, a que o PÚBLICO teve acesso, Edgar Correia diz que a direcção do partido "quis liquidar, como se isso fosse possível, o movimento de fundo que percorre o PCP no sentido de reclamar a realização antecipada de um congresso". Proclama que se irá defender "com a mesma convicção e empenho" com que é "comunista há trinta e sete anos e em coerência com toda uma vida de luta".

À semelhança do que já tinha feito Carlos Brito, também Edgar Correia diz que a direcção do PCP "montou um 'processo político' como se o tempo dos processos políticos não tivesse ficado definitivamente para trás com o 25 de Abril".

De resto, considera "reveladora prova da liturgia punitiva em que está transformada" a sua audição, "de modo idêntico ao que acontece em relação aos camaradas Carlos Brito e Carlos Luís Figueira", "o facto de o secretariado do CC no próprio de 1 de Julho em que nos convocou para 'audição' antes de nos ter ouvido, se ter logo apressado a emitir um violento ataque público tomando a iniciativa de tornar públicas contra os três todo um conjunto de graves, falsas e improvadas acusações".

Para Edgar Correia, "a conclusão parece óbvia: as 'audições' não são para ouvir, a 'sentença' já está de antemão decretada, entrámos no domínio da farsa". Continua o texto-defesa: "Completa este cenário kafkiano o facto do secretariado do CC que me convocou para a 'audição' sancionatória integrar na sua composição elementos a quem acusei de 'serem responsáveis pelo ambiente de suspeição, de mentiras e de calúnias' e por 'integrarem o grupo fraccionário constituído na direcção' que 'para além de entrarem em ruptura com os princípios estatutários e de ferirem a ética revolucionária que deve presidir às relações entre comunistas, impedem a livre e informada construção e manifestação da vontade do partido".

O ex-dirigente lembra que exigiu "uma operação-verdade" ao partido, mas que "quase dois anos decorridos nenhum apuramento foi empreendido embora ele constitua uma exigência de muitos membros do partido".

Edgar Correia diz ter sempre desenvolvido a sua actividade "com observação da disciplina partidária", que "não pode ser confundida com "imobilismo ou acriticismo e muito menos com o pôr em causa o meu direito de participação nas actividades do partido e na reflexão e debate de tudo quanto lhe diga respeito". "Apesar da anormalidade persecutória que o secretariado e demais organismos executivos do CC têm movido ao meu direito de participação desde há mais de um ano e meio, mesmo assim procurei contribuir para travar e inverter o declínio e a perda de influência do partido e para abrir uma perspectiva de esperança em relação ao futuro".

Diz o acusado que as acusações formuladas pela direcção "cingem-se à imputação de delitos de opinião" e que "nenhuma acusação concretamente formulada está em oposição aos estatutos do partido": "Em suma, sou acusado doze vezes por opiniões expressas em órgãos de comunicação social e por ter participado em dois jantares, iniciativas públicas de confraternização e debate, com carácter não partidário".

Para Edgar Correia, "trata-se de acusações ridículas, sem fundamento e sem qualquer suporte concreto". Acusa ainda o secretariado de "espírito inquisitorial" e de "desonestas falsificação" das suas opiniões. "Inventando à boa moda estalinista o conceito de 'abaixo-assinado à margem do quadro do normal funcionamento do partido' e desenterrando do arsenal repressivo do antigamente a separação entre 'promotores' e 'signatários', não descansa o secretariado enquanto não me classifica na primeira categoria, mesmo sem apresentar qualquer prova".

Edgar Correia reclama "de imediato o cancelamento e o arquivo dos processos sancionatórios por delito de opinião que foram movidos a Carlos Brito, Carlos Luís Figueira e a mim próprio".

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